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Compaixão não é ter dó

Duas mulheres de costas sentadas lado a lado olhando o por do sol entre as montanhas e a inscrição "Compaixão não é ter dó"

A compaixão é positiva e restauradora.

Dalai Lama fala muito em compaixão. Ele diz que a compaixão “é a base para restaurar a vitalidade e construir um mundo mais humano.”

“Restaurar a vitalidade” não tem relação com sentir pena, ficar com dó, sentir comiseração. Então, se compaixão não é sentir pena, o que será? Vamos dar uma passada na boa e prestativa Wikipédia para entender esse conceito?

“Compaixão pode ser descrita como uma compreensão do estado emocional de outra pessoa.

A compaixão frequentemente combina-se a um desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de outro ser senciente, bem como demonstrar especial gentileza para com aqueles que sofrem.

Ter compaixão é permanecer num estado emotivo positivo, enquanto tenta-se compreender o outro, sem invadir, no entanto, o seu espaço.”

A compaixão, como podemos ver, não traz nenhum traço de crítica, de culpa, nem de vitimismo. É um sentimento que privilegia o bem-estar próprio e de terceiros.

Uma visão individualista da vida gera inquietude e ansiedade.

O ambiente profissional das últimas décadas tem privilegiado e incutido a dominância de parâmetros como competência, eficiência, sucesso.

A concentração exclusiva no foco individualista pode ser danosa, tanto no sentido de gerar extrema pressão e ansiedade em alguns, bem como na inobservância de regras básicas para uma convivência estabelecida dentro de valores éticos e morais.

O acirramento competitivo no âmbito profissional pode, de fato, acabar se cristalizando e sendo incorporado como característica de personalidade. Como resultado, estabelece-se um padrão de atitude adotado também na vida social e pessoal, mantendo o mesmo viés de inescrupulosidade em qualquer tipo de relacionamento.

Esse tipo de comportamento gera atritos e conflitos nos diversos relacionamentos interpessoais e, assim vive-se com inquietude, numa constante busca em superar os outros.

A compaixão é uma prática que todos podem realizar.

Todas as tradições espirituais nos incentivam a impedir de prejudicar os outros e de ser vítima de emoções destrutivas”, explica Dalai Lama.

“A mente não é imutável, e é poluída por impurezas. O remédio é cultivar a sabedoria. Para apoiar isso, precisamos cultivar a concentração, que por sua vez se baseia na disciplina e na observância da ética.

Assim, superar as emoções aflitivas envolve os três treinamentos – a ética, a concentração e a sabedoria. Precisamos fazer um esforço e usar nossa inteligência, pois concentrar-se no objetivo que queremos entender requer atenção e introspecção.

Buda é aquele que superou todos os defeitos e as deficiências. Para alcançar a iluminação, precisamos da sabedoria e da mente desperta da bodichitta.

A raiz da iluminação mais elevada é a compaixão, que nos dá a determinação de alcançar a iluminação e a convicção de que é possível fazê-lo.”

O que significa bodichitta.

Bodhichitta é definida como uma mente, motivada pela compaixão por todos os seres vivos, que busca espontaneamente a iluminação, que nasce da grande compaixão, que depende do carinho. O supremo bom coração é a bodichitta.

Bodhi‘ é a palavra sânscrita para ‘iluminação’ e ‘chitta‘ a palavra para ‘mente’, portanto, ‘bodhichitta‘ significa literalmente ‘mente da iluminação’.

Bodhichitta pode ser comparada à colheita, quando semeamos um campo, cuidamos dessas sementes com compaixão e amor para fazer as sementes crescerem. Sem uma grande compaixão, ou seja, o desejo espontâneo de proteger todos os seres vivos do sofrimento, a bodichitta não pode surgir em nossa mente.

Desenvolver o bom coração da bodichitta nos permite aperfeiçoar todas as nossas virtudes, resolver todos os nossos problemas, satisfazer todos os nossos desejos e, assim, desenvolver o poder de ajudar os outros da maneira mais apropriada e benéfica. É a mais alta qualidade que podemos desenvolver.”

New Kadampa Tradition – International Kadampa Buddhist Union

Pratique o comportamento compassivo sempre que possível.

A pureza e a inocência do comportamento das crianças se modifica com o passar do tempo. E os relacionamentos sociais e profissionais começam a moldar um caráter naturalmente competitivo.

Entretanto, essa competição passa de algo salutar e motivador para algo destrutivo quando se baseia no descaso de consequências impingidas a outros por atitudes não meritórias e destituídas de moralidade.

Dalai Lama também levanta a questão da observância de condições hierárquicas, que muitas vezes impedem ou desestimulam que se confrontem atitudes que não condizem com os valores pessoais, pelo medo de punições ou retaliações:

“Se continuássemos como éramos quando éramos crianças, o mundo seria mais pacífico, mas à medida que crescemos, nos tornamos mais calculistas e discriminatórios.

Olhe para o mundo hoje. Nos conflitos violentos que vemos, há um resultado direto do egoísmo. O mecanismo da guerra se origina em uma perspectiva feudal. Apesar de valorizarem suas próprias vidas, os soldados lutam, matam e são mortos porque recebem ordens. Tradicionalmente, reis e senhores deram essas ordens com base em uma perspectiva divisiva que vê os outros em termos de ‘nós’ e ‘eles’.

Se você é capaz de reduzir o comportamento negativo no seu dia-a-dia, evitando prejudicar ou intimidar outras pessoas e obter alguma experiência de bodhichitta, certamente ficará mais satisfeito. Assim, sua saúde vai melhorar e você vai encontrar pessoas que se alinhem com o seu modo de viver.”

Exercitar a autocompaixão é o primeiro passo.

Em suma, o simples fato de levarmos em conta se nossas palavras ou ações podem acarretar prejuízos – seja materiais ou emocionais – e revendo a direção que escolhemos imprimir às nossas atitudes de modo que elas não se convertam em dor e sofrimento para o outro, já nos concede uma experiência de compaixão, nos coloca no caminho da sabedoria e de uma vida com melhor qualidade.

Pois quando exercitamos o sentimento compassivo ajudamos o outro a restabelecer sua integridade pessoal. Mas para que isto aconteça, antes precisamos exercitar esse sentimento por nós mesmos, para que possamos “amar o próximo como a nós mesmos.”

Você pode começar a praticar a autocompaixão, isto é, ter atos de bondade e compreensão com você mesmo, analisando suas falhas, mas não se depreciando.

Além disso, você pode reavaliar os seus pensamentos e as suas ações que você não considera mais apropriados e se compromete a transformar os aspectos que você quer melhorar.

Quando fazemos isso em relação a nós mesmos, transformando a forma como nos vemos, “restauramos a vitalidade e construímos um mundo mais humano.”, explica Dalai Lama.

Noemi C. Carvalho

Baseado em palestras de ensinamentos proferidas por Dalai Lama em Dharamsala, Índia.

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