
A prece renova a força para a vida.
O espiritismo explica como se dá a transmissão da prece e qual é a sua eficácia. Naturalmente não se trata de um instrumento mágico, que faz realizar tudo aquilo que queremos, como se fosse o gênio da lâmpada de Aladim.
A prece ou oração é vista por muitas pessoas como uma coisa mística, uma ação de pessoas crédulas que precisam encontrar força e conforto em algo fora delas.
Existe uma parte de verdade nisso: a prece certamente traz um benefício muito grande a quem dela se vale, renova as forças, conforta a alma, serena o coração, clareia os pensamentos.
Desde, é claro, que se acredite nisso e se ore com a alma e o coração, e não só com o pensamento ou a boca, repetindo maquinalmente algumas palavras decoradas ou mesmo espontâneas, mas sem convicção.
Como podemos obter a melhor eficácia de nossa prece.
A oração depende de fé, de convicção, de merecimento e da autorização de Deus, que só permite a realização daquilo que for melhor para nós. Nesse ponto, muitas vezes temos uma opinião divergente e, é claro, temos a certeza que só pedimos aquilo que é bom para nós.
Sempre pedimos, sem dúvida, que seja afastado de nós todo o sofrimento. Mas esse é, muitas vezes, aquilo que chamamos de mal necessário. O sofrimento é, na verdade, um valioso instrumento.
Assim, por exemplo, ele nos ajuda a refinar as nossas escolhas para evitar que soframos de novo. Faz aumentar a nossa fé e também a confiança em nós mesmos quando vemos ficarem para trás as inquietações. Além disso, muitas vezes o sofrimento é uma forma de reparação de nossos erros passados, para que assim se equilibre a balança da justiça divina.
Allan Kardec registrou valiosas informações a partir das instruções dadas por elevadas entidades espirituais, e compiladas ao longo do trabalho realizado durante muitos anos.
Vamos, então, acompanhar algumas das orientações que constam no Capítulo XXVII – Pedi e obtereis, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
O que é a prece e como se dá a sua ação.
Kardec explica que “a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos.”
Quando dirigimos as preces a Deus, elas chegam aos Espíritos incumbidos de executar as vontades divinas. Aquelas que dirigimos aos Espíritos, sejam os santos de nossa devoção ou os anjos guardiões, eles as reportam a Deus, porque nada acontece sem a sua vontade e permissão.
A ação da prece decorre da transmissão do pensamento. Para compreendermos como isso acontece, Kardec fala do “fluido universal, que ocupa o Espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera.
Esse fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar o é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito.
Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no Espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem a distância entre encarnados.”
Quais benefícios podemos receber através de nossas orações.
Como vimos, a prece é o nosso pensamento dirigido diretamente a Deus ou aos Espíritos elevados que podem intermediar nossa rogativa, subordinando-a ao julgamento divino.
Quando fazemos nossas orações, contamos com a intercessão dos bons Espíritos que nos inspiram através da intuição. Assim, diz Kardec, adquirimos “a força moral necessária a vencer as dificuldades e volver ao caminho reto, se deste nos afastamos. Por esse meio, pode também desviar de si os males que atrairia pelas suas próprias faltas.”
Entretanto, exemplifica o codificador da Doutrina Espírita, “se um homem, por exemplo, vê arruinada a sua saúde, em consequência de excessos a que se entregou, e arrasta, até o termo de seus dias, uma vida de sofrimento: terá ele o direito de queixar-se, se não obtiver a cura que deseja? Não, pois que houvera podido encontrar na prece a força de resistir às tentações.”
Escolher caminhos é sempre uma responsabilidade pessoal.
Assim, as orações podem, certamente, nos livrar de muitos males, quando pedimos aos bons Espíritos que nos assistem que nos concedam força para resistir às condutas inadequadas.
Kardec deixa claro que “nesse caso, o que eles fazem não é afastar de nós o mal, porém, sim, desviar-nos do mau pensamento que nos pode causar dano; eles em nada obstam ao cumprimento dos decretos de Deus, nem suspendem o curso das Leis da Natureza; apenas evitam que as infrinjamos, dirigindo o nosso livre-arbítrio.”
Nós podemos pedir bons conselhos e orientações seguras, mas cabe a nós colocá-los em prática, uma vez que a escolha entre as diversas ações que podemos ter e as consequências que elas podem originar é de nossa inteira responsabilidade.
“Quer Deus que seja assim, para que aquele tenha a responsabilidade dos seus atos e o mérito da escolha entre o bem e o mal. É isso o que o homem pode estar sempre certo de receber, se o pedir com fervor, sendo, pois, a isso que se podem, sobretudo, aplicar estas palavras: ‘Pedi e obtereis’.”
A qualidade da prece influi na sua eficácia.
A forma como se reza faz muita diferença. Não em relação à beleza das palavras ou ao tempo que se dedica à oração, mas tendo em vista a intenção, o devotamento e a fé.
Portanto, elucida Kardec, “a prece do homem de bem tem mais merecimento aos olhos de Deus e sempre mais eficácia, porquanto o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança que somente nascem do sentimento da verdadeira piedade.
Do coração do egoísta, do daquele que apenas de lábios ora, unicamente saem palavras, nunca os ímpetos de caridade que dão à prece todo o seu poder.”
A prece espontânea e sincera pode ser feita a qualquer momento e em qualquer lugar. Podemos, também rezar sozinhos ou em companhia de outras pessoas, pois quando todos oram por um objetivo comum, irmanados num mesmo ideal, a prece se torna mais poderosa.
A eficácia da prece reside no pensamento que vem do coração.
“Está no pensamento o poder da prece, que por nada depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que seja feita.”, diz Allan Kardec.
E ele continua os esclarecimentos, referindo-se à linguagem usada na prece, que “só tem valor pelo pensamento que lhe está conjugado. Ora, é impossível conjugar um pensamento qualquer ao que se não compreende, porquanto o que não se compreende não pode tocar o coração.”
Cada palavra deve despertar uma ideia, acalentar um sentimento, renovar uma esperança. Ela deve nascer do espírito, ser revestida de humildade e sinceridade, pois isso lhe confere um valor muito maior do que fórmulas repetidas maquinalmente.
E certamente podemos nos valer de orações prontas, desde que também façamos a ligação espiritual com as suas palavras. “Deus vê o que se passa no fundo dos corações; lê o pensamento e percebe a sinceridade.”, diz Kardec.
Noemi C. Carvalho
Texto baseado em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec – Capítulo XXVII – ‘Pedi e obtereis’