
O desejo, as ilusões e a felicidade.
Vivemos o final de um movimento de transição onde ainda impera o desejo do ser humano estar sempre à frente dos outros. Este desejo revela uma autoavaliação negativa e constrói as ilusões de que a felicidade apenas será encontrada através de conquistas materiais que sobrepujem outras.
Quem age assim apenas consegue ver concorrentes em sua vida, e a necessidade de superá-los é vital para o seu bem-estar. Para isso, busca então aprender diversas técnicas, vários tipos de treinamento e exercícios para conseguir melhorar o seu desempenho. E, assim, perseguir os seus objetos de adoração externa, símbolos equivocados de realização, ilusões de felicidade.
Não consegue entender que muitas dessas disciplinas praticadas, na verdade estão causando o afastamento de si mesmo, de sua essência interior, que é a única instância capaz de proporcionar a realização e proporcionar a felicidade.
As técnicas e os exercícios praticados estabelecem roteiros de ação, formas de reagir e conduzir os relacionamentos. Entretanto, treinam um comportamento com bases arquetípicas, que constroem personagens marcadamente egocêntricos, vaidosos e extremamente competitivos.
Seguindo as orientações dos gurus, que comercializam em seminários e livros as fórmulas os passos e as listas a serem seguidos para atingir a excelência nas diversas áreas de atuação, elegem-se então metas para atingir, objetivos que prometem a satisfação das vontades e dos desejos.
O homem pode gozar de completa felicidade na Terra?
Não, porque a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Mas depende dele amenizar os seus males e ser tão feliz quanto possível na Terra. (Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, questão 920)
O orgulho e a vaidade dominam a definição das metas pretendidas.
Em meio a esses verdadeiros jogos de guerra que se estabelecem em qualquer grupamento de pessoas que integram alguma instituição, uma questão se esconde nas promessas de sucesso: as metas, os objetivos, a altura que se quer ultrapassar é definida por quem?
Em sua grande maioria, quem busca as fórmulas de sucesso, quem segue os passos para o triunfo, são os indivíduos que se movem mais pelas conquistas materiais ou glórias personalistas, presos à tirania do ego.
Nesse processo, desenvolvem-se o orgulho e a vaidade. Estes fazem com que as conquistas e posses tenham que ser expostas para que o maior números de pessoas as vejam. A exibição a todo momento se transforma, portanto, num modo de afirmar o sucesso. E a afirmação de posição e de status é fundamental para se sentir acima dos outros.
Com o passar do tempo, entretanto, o estímulo das conquistas precisa ser maior. Aquilo que já possui não basta, pois essa prática torna-se um vício, e os efeitos da dependência ativam mais desejos por conquistas e por sucesso.
Haverá, contudo, algum critério de felicidade para todos os homens?
Para a vida material, é a posse do necessário; para a vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro. (Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, questão 922)
A obsessiva necessidade de satisfação pessoal criou um mundo de falsidades e traições.
Assim, usam-se todos os recursos necessários para a satisfação das obsessões: bajulação, manipulação, complôs, mentiras, falsidade, traição, entre tantos outros atos que deixaram o mundo como ele está.
Os relacionamentos baseados nesse modelo criam antagonismos e provocam a formação de grupos adversários. Estes grupos, mesmo sem conviverem em aberta beligerância, se suportam dissimuladamente, caluniam-se pelas costas, pois ao projetarem o mal no outro acobertam a presença deste mesmo mal em si.
Encontramos esse estado de coisas em praticamente todos os grupos que se relacionam dentro de alguma organização, associação ou comunidade.
A partir do princípio de que as pessoas são atraídas e se relacionam com aqueles com quem se afinizam, entendemos que tais comportamentos, em muitos casos, aparentam ser formados por personalidades diferentes, mas, na verdade, expressam gradações distintas de uma mesma frequência vibratória.
Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. Mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está teu tesouro aí estará também teu coração. (Mateus, 6:19-21)
As escolhas de hoje definem o futuro de felicidade ou de ilusões.
Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon. (Lucas, 16:13 – O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XVI)
O nosso planeta está no final do movimento de transição para um lugar melhor, para um local de regeneração onde o bem predominará sobre o mal, diferente do que hoje domina a Terra.
Todos aqui estamos passando por provas e expiações. Dependendo das escolhas que fizermos, estaremos mais próximos de um futuro de verdadeira felicidade ou em novas disputas e lutas por sucessos calcados em ilusões.
José Batista de Carvalho