
Não deixe que a insatisfação com a vida leve você para a depressão.
A insatisfação com a vida muitas vezes nos prende numa busca contínua de algo melhor, de querer o que não temos, de ser diferentes do que somos.
Certamente que o desejo por chegar a níveis mais elevados, o aperfeiçoamento de qualidades que já possuímos, a busca por novas respostas, impulsionam a humanidade no caminho da evolução e do progresso. Nesse sentido, existe uma busca definida, uma motivação que orienta, a satisfação do próprio caminho a percorrer.
No entanto, a insatisfação que é só o não gostar do momento presente da vida, não é produtiva.
O descontentamento contínuo com o modo de ser, viver e ver a vida leva a uma constante sensação de contrariedade, e isto, sem dúvida, nos mantém num permanente estado de aborrecimento.
O desagrado constante com a situação em que estamos traz o sentimento de desgosto com a vida. Daí vem o sentimento de incapacidade, de culpa, de autodepreciação. Mas é preciso muito cuidado: podemos estar caminhando para a depressão.
Acompanhe comigo o raciocínio de Marianne Williamson, pois os esclarecimentos e orientações de quem compartilha as suas experiências com a insatisfação e conta a maneira como encontrou propósito na vida pode nos ajudar a encontrar o nosso próprio caminho.
O descontentamento sempre dá uma passadinha pela nossa vida.
Marianne Williamson fala sobre a insatisfação com a sua própria vida num trecho de seu livro O Dom da Mudança contando, com descontração, fatos da sua juventude:
“Quando eu era jovem, queria ser mais velha, e quando fiquei mais velha, queria ser mais nova. Quando morava em um lugar, queria morar em outro, e quando estava fazendo uma coisa, preferia estar fazendo outra.
Nunca consegui me fixar no meu eu interior e no que estava acontecendo no momento. Parecia que de algum jeito, não era o bastante, aquilo que eu fazia não era o suficiente. E por essa razão a minha vida não era adequada.
Um vez citei em uma palestra que, não faz muito tempo, olhei para uma foto de quando tinha 30 anos e disse a mim mesma: “E eu achava que isso era inadequado?”. Então observei a sala se encher de sorrisos de confirmação de todas as mulheres que já haviam passado pela juventude.
Quem entre nós já não olhou para aquele período do passado, onde achávamos que faltava alguma coisa, desejando poder voltar atrás e experimentar as maravilhas que não enxergávamos naquele tempo?”
Sim, Marianne, quantos agora não estão também com um sorriso ou um suspiro pensando que se fosse possível reviver épocas passadas, ainda mais com a experiência de vida atual, seria fantástico!
Não podemos é deixar que a contrariedade fique indefinidamente.
Acalentar um passado que já se foi não constrói o presente. E prender-se ao que poderia ter sido não traz nenhuma certeza de que realmente teria sido. Além disso, amargurar-se por escolhas não feitas só coloca mais peso sobre os ombros já cansados.
Portanto, a única escolha viável é olharmos, sim, para trás com um sorriso nos lábios. Anotarmos as lições que podem nos servir, e então seguir com a firme disposição de melhorarmos nossas escolhas.
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E assim, fazermos as nossas escolhas, tomar as atitudes necessárias, não deixando para depois, não esperando que algo magicamente se realize e transforme a nossa vida.
E mesmo que essa mágica acontecesse, será que a nova situação nos agradaria, ficaríamos felizes e realizados?
É bem provável que a insatisfação ainda continuasse a rondar, porque não seria a expressão mais profunda de nosso ser.
Realizações externas de nada valem se não forem a manifestação de nossas aspirações genuínas, pois vamos continuar insatisfeitos, acreditando que uma outra hipotética situação seria melhor.
A perfeição da vida está em viver com intensidade cada momento.
A insatisfação demonstra que as escolhas que estamos fazendo não condizem com os desejos do nosso eu interior. Assim, esse sentimento nos faz relutar em aceitar as condições do momento, nos revoltamos ou vivemos mecanicamente cada dia. Marianne explica esse pensamento de uma forma muito clara e intensa:
“A verdade é que cada estágio de nossa vida é perfeito, se nos permitirmos vivê-lo de verdade. Se nos concentrarmos no presente, contribuindo e nos destacando nele da forma mais completa que pudermos, então cada momento poderá ter suas bênçãos e o futuro irá se desdobrar na direção de um bem melhor.
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Quando aceitamos nós mesmos exatamente como somos, e onde estamos, temos mais energia para oferecer à vida. Não estaremos desperdiçando o nosso tempo tentando fazer as coisas de modo diferente.
Em todos os momentos em que relaxamos no ponto mais profundo de nosso ser, desistindo de lutar para estarmos em outro lugar, nos vemos exatamente no lugar certo e no momento certo.
Existe um plano para nossas vidas – o plano de Deus, e Ele vigia para se certificar de que somos quem precisamos ser e de que estamos onde devemos estar.”
A insatisfação deve funcionar como o motor para a transformação.
Aceitar nossa situação atual não quer dizer que nunca poderemos sair dela, mas sim que aceitamos o estágio presente como transitório. E claro que vamos fazer o melhor possível em qualquer ocasião, com dedicação e comprometimento, para que se abra o caminho para as nossas futuras realizações.
Usar o descontentamento como uma maneira de classificar o que não gostamos e não queremos pode, de fato, nos ajudar quando não sabemos ainda exatamente o que pode nos trazer um sentido mais completo de realização.
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As experiências que temos na vida muitas vezes são importantes e necessárias como uma preparação para novos caminhos.
Podemos não perceber isso, até mesmo não ver a relação que uma atividade pode ter com nosso desejo de vida. Mas mantendo a confiança e a dedicação, um dia entenderemos as voltas que a vida deu para nos levar onde se encontra nosso ponto de realização. Marianne continua dizendo que:
“Quanto mais cedo aprendermos a viver nossa condição presente da forma mais gloriosa, antes surgirão novas e melhores condições. Mas, enquanto não aprendermos as lições do presente, elas simplesmente reaparecerão em novos aspectos, e vai nos parecer que nada se transforma.
Não depende de nós aquilo que aprendemos, mas só se aprendemos por meio da alegria ou da dor.
Mas se ainda não acreditamos que cada situação é uma lição, não vamos nos incomodar em nos perguntar que tipo de lição é aquela. Enquanto não fizermos isso, nossas oportunidades de aprendizado serão nulas.
Então, a lição reaparecerá, com riscos mais altos, até que sejamos capazes de aprendê-la. Também podemos aprendê-la na primeira vez, quando a oportunidade de aprendizado por meio da alegria ainda estiver disponível.
Quanto mais vezes uma lição tiver de surgir, mais dor ela gerará. Se você sabe, no fundo de seu coração, que alguma coisa está errada, ignorá-la não fará com que ela fique menor.
Essa atitude fará com que consertar esse problema seja mais difícil, pois ele virá de uma forma mais barulhenta do que o som original de Deus sussurrando em seu ouvido.”
Estas são palavras nas quais, sem dúvida, devemos refletir cuidadosamente. Quem escolhe trocar uma orientação divina docemente sussurrada em nossa vida pelo barulho do ego insatisfeito e rancoroso?
Compreensão, aceitação, ação.
Paciência, insistência, constância.
Mantenha estas palavras com você.
Noemi C. Carvalho