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A missão esquecida e a casca de banana

missão esquecida

Um compromisso assumido antes do nascimento.

Certas vezes, o nosso renascimento na Terra traz compromissos que não se restringem a nós mesmos, ao nosso desenvolvimento e à reparação de faltas passadas, mas a missão aceita acaba ficando esquecida.

São atribuições assumidas enquanto estamos no plano espiritual, que contam com o auxílio de entidades espirituais para o seu planejamento e também para a sua execução.

Desta forma, quando acontece a reencarnação, alguns espíritos se incumbem de acompanhar e ajudar para que a empreitada seja bem sucedida.

Entretanto, muitas são as tentações nesta nossa vida material, desde o desânimo, o medo, até o egoísmo e a ganância. Bem que Jesus nos orientou a pedir ao Pai que, a cada dia, não nos deixe cair em tentação.

E assim, quando retorna ao plano espiritual ou mesmo antes disso, logo que percebe que o tempo na Terra está se acabando e a morte é iminente, o espírito recobra a consciência do compromisso.

Mas então já é tarde. E ele amarga o arrependimento por não ter seguido a intuição, ou seja, as mensagens sussurradas pelos seus amigos espirituais, que levariam ao êxito do compromisso assumido, bem como da oportunidade da reencarnação.

O Irmão X tem um conto¹ que exemplifica muito bem esse tipo de situação, e você pode ler a seguir.

Noemi C. Carvalho

Uma grande missão é organizada no plano espiritual.

“Secundino renasceria entre os homens para socorrer crianças desamparadas, e, para isso, organizou-se-lhe grande missão no Plano Espiritual.

Deteria consigo determinada fortuna, a fortuna produziria trabalho, o trabalho renderia dinheiro e o dinheiro lhe forneceria recursos para alimentar, vestir e educar duas mil criaturinhas sem refúgio doméstico.

Atendendo à empreitada, Lizel, o instrutor desencarnado que o seguiria entre os homens, dar-lhe-ia, em tempo devido, o necessário suprimento de inspirações.

Estariam juntos, e Secundino, internado no corpo terrestre, assimilaria as ideias que o mentor lhe assoprasse.

A experiência começou, assim, promissora…

Tudo transcorria de acordo com o planejado.

Da infância à mocidade, o tarefeiro parecia encouraçado contra a doença. Extravagante como ninguém, descia, suarento, de vigoroso cavalo do sítio paterno, mergulhando no sorvete, sem qualquer choque orgânico, e ingeria frutos deteriorados, como se possuísse estômago de resistência invencível.

Em todas as particularidades da luta, contava com a afeição de Lizel, e, muito cedo, viu-se em contato com o amigo espiritual, que não só lhe aparecia em sonhos, como também através dos médiuns, com os quais entrasse em sintonia.

O benfeitor falava-lhe de crianças perdidas, pedia-lhe proteção para crianças sem rumo, rogava-lhe, indiretamente, a atenção para o noticiário sobre crianças ao desabrigo.

E tanto fez Lizel que Secundino planeou o grande cometimento.

Seria, sim, o protetor dos meninos desamparados… Entretanto, considerando as necessidades do serviço, pedia dinheiro em oração.

E o dinheiro chegou, abundante…

Ao influxo do amor providencial de Lizel, sentia-se banhado em ondas de boa sorte… Explorou a venda de manganês e ganhou dinheiro, negociou imóveis e atraiu dinheiro, comprou uma fazenda e fez dinheiro, plantou café e ajustou dinheiro…

A missão fica esquecida por causa das tentações da vida material.

Começou, porém, a batalha moral.

Lizel falava em crianças e Secundino falava em ouro.

– “Protegeria a infância desditosa – meditava, convicto – ; contudo, antes, precisava escorar-se, garantir a família, assegurar a tranquilidade e arranjar cobertura.”

Casado, organizou fortuna para a mulher, para o pai, acumulou fortuna para os filhos e para o sogro, amontoou riquezas para noras e genros, e, avô, adquiriu bens para os netos…

Porque tardasse demais na execução dos compromissos, a Esfera Superior entregou-o à própria sorte.

Apenas Lizel o seguia, generoso. E seguia-o arrasado de sofrimento moral, assinalando-lhe frustração.

Secundino viciara-se nos grandes lances da vantagem imediata e algemara-se francamente à ideia do lucro a qualquer preço.

Lembrava os antigos projetos como sonhos da mocidade…

Nada de assistência a menores abandonados, que isso era obra para governos… Queria dinheiro, respirava dinheiro, mentalizava novas rendas e trazia a cabeça repleta de cifras.

Lizel, apesar disso, acompanhava-o, ainda… Agoniava-se para que Secundino voltasse a pensar nos meninos sem ninguém… Ansiava por rever-lhe o ideal de outra época!… Tudo seria diferente se o pobre companheiro despertasse para as bênçãos do espírito!…

Agora é tarde.

Aconteceu, no entanto, o inesperado.

Ao descer de luzido automóvel para estudar o monopólio do leite, Secundino não percebe pequena casca de banana estendida no chão.

Lizel assinala o perigo, mas suplica em vão o auxílio de outros amigos espirituais.

O negociante endinheirado pisa em cheio no improvisado patim, perdendo o equilíbrio em queda redonda.

Fratura-se a cabeça do fêmur e surge a internação no hospital; contudo, o coração cansado não corresponde aos imperativos do tratamento.

Aparece a cardiopatia, a flebite, a trombose e, por fim, a uremia…

No leito luxuoso, o missionário frustrado pensa agora nas criancinhas enjeitadas, experimentando o enternecimento do princípio… Chora. Quer viver mais tempo na Terra para realizar o grande plano. Apela para Deus e para Lizel, nas raias da morte…

Seu instrutor, ao notar-lhe o sentimento puro, chora também, tomado de alegria… No entanto, emocionado consegue dizer-lhe apenas:

– Meu amigo! Meu amigo!…. Agradeçamos ao Senhor e à casca de banana a felicidade do reequilíbrio!… Seu ideal voltou intacto, mas agora é tarde… Esperemos que o berço lhe seja e propício…”

Irmão X

Referências

1 – Do livro “Contos Desta e Doutra Vida”, por Irmão X (Humberto de Campos), psicografado por Chico Xavier.
Irmão X é o pseudônimo de Humberto de Campos, que foi jornalista, político e escritor brasileiro. Ele nasceu no Maranhão em 1886, e morreu no Rio de Janeiro em 1934. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, e escreveu dezenas de livros.
Depois do desencarne, começou a escrever através do então jovem médium Chico Xavier, dando início a uma nova fase para o espiritismo no Brasil. Com a grande quantidade de livros que começaram a ser publicados, a família de Humberto de Campos moveu ação judicial contra a FEB exigindo direitos autorais pelas obras de além-túmulo, o que levou o autor espiritual a adotar o pseudônimo de Irmão X. (Fonte: FEB – Federação Espírita Brasileira)

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