
As reencarnações nos trazem as situações necessárias para lapidarmos as nossa virtudes.
A cada um de nós, em cada reencarnação, nos são concedidos os meios para modificarmos antigos hábitos de caráter inferior, bem como para lapidarmos as nossas virtudes, fazendo-as brilhar sempre mais, levando luz, paz e bondade a todos os seres com quem compartilhamos a existência.
As diversas posições que podemos ocupar durante as existências refletem as provas que temos que vencer. Assim, tanto a riqueza como a pobreza, a beleza ou a falta dela, o corpo perfeito ou as deficiências que o acometem, são caminhos para demonstrar a nossa capacidade de aceitação e compreensão dos desígnios divinos que objetivam a nossa evolução e conscientização.
Portanto, a vida na Terra é uma grande oportunidade que temos para demonstrar a nossa posição espiritual, não para os nossos semelhantes, mas para os benfeitores espirituais que orientam o nosso plano evolutivo.
O conto do Irmão X¹, que você pode ler em seguida, trata justamente dessa posição que obtemos, de acordo com os critérios de avaliação do plano espiritual e que definem como se dará a continuação de nossa jornada.
Noemi C. Carvalho
A posição do mendigo e do rei no Tribunal Divino.
“Há longo, longo tempo, compareceram no Tribunal Divino dois homens recém-chegados da Terra.
Um trazia o sinal da muleta em que se apoiara. Outro mostrava as marcas da coroa que lhe havia adornado a cabeça.
Fariam prova de humildade para voltarem ao mundo ou seguirem além…
Postos, um a um, na balança, o primeiro acusou enorme peso. Era ainda presa fácil de lutas inferiores, parecendo balão cativo. O segundo, no entanto, revelava grande leveza. Poderia viajar em demanda dos cimos.
Inconformado, contudo, disse o primeiro:
– Onde a justiça divina? Fui mendigo paupérrimo, enquanto ele…
E indicando o outro:
– Enquanto ele era rei… Passei fome, ao passo que muita vez o vi no banquete lauto. Esmolava na rua, avistando-o na carruagem. Conheci a nudez, reparando-o sob manto dourado, quando seguia no triunfo… Vivi entre os últimos, ao passo que ele sempre aparecia como o primeiro entre os primeiros…
O outro baixou a cabeça, humilhado, em silêncio… Mas o amigo sereno, que representava o Senhor, falou persuasivo:
-Viste-o na mesa farta, mas não lhe percebeste os sacrifícios ao comer por obrigação. Notaste-o de carro; entretanto, não lhe observaste o coração agoniado de dor, ante os problemas dos súditos a que devia assistência. Fitaste-o sob dourado manto, nos dias de júbilo popular; todavia, não lhe contemplaste as chagas de sofrimento moral, diante das questões insolúveis…
Conheceste-o entre os maiores da Terra; entretanto, não sabes quantos punhais de hipocrisia e de ingratidão trazia cravados no peito, embora fosse obrigado a sorrir… Além disso, na posição de soberano, podia ferir e não feriu, humilhar e não humilhou a ninguém, prejudicar e não prejudicou, desertar e não desertou… Na situação de mendigo, não foste lançado a semelhantes problemas da tentação…
Diante do companheiro triste, o ex-monarca recebeu passaporte para a ascensão sublime.
Sozinho e em lágrimas, perguntou então o ex-mendigo:
– E agora?
O ministro angélico abraçou-o sensibilizado, e informou:
– Agora, renascerás na Terra e serás também rei.”
Irmão X
Referências
1 – Do livro “Contos Desta e Doutra Vida”, por Irmão X (Humberto de Campos), psicografado por Chico Xavier.
Irmão X é o pseudônimo de Humberto de Campos, que foi jornalista, político e escritor brasileiro. Ele nasceu no Maranhão, em 1886, e morreu no Rio de Janeiro, em 1934. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e escreveu dezenas de livros.
Depois do desencarne, começou a escrever através do então jovem médium Chico Xavier, dando início a uma nova fase para o espiritismo no Brasil. Com a grande quantidade de livros que começaram a ser publicados, a família de Humberto de Campos moveu ação judicial contra a FEB exigindo direitos autorais pelas obras de além-túmulo, o que levou o autor espiritual a adotar o pseudônimo de Irmão X. (Fonte: FEB – Federação Espírita Brasileira)