
O conhecimento e a prática.
O conhecimento das instruções espirituais para a vida é, sem dúvida, fundamental. Mas o conhecimento sem a prática torna a instrução obtida estéril, inútil. É esta a mensagem que o Irmão X nos transmite, neste conto que você pode ler em seguida, onde ele retrata a prestação de contas quando do retorno ao plano espiritual.
A bagagem levada e a prestação de contas no regresso ao plano espiritual.
“Quando o Espírito de Macário Fagundes bateu à porta da Esfera Superior, sobraçava à altura do peito elegante volume da Bíblia.
A Bíblia resumira-lhe na Terra as preocupações e os objetivos. Estudara religiões. Simpatizara com todas. Contudo, refugiara-se na Bíblia, dela fazendo argumento de última instância.
Fora a Macário que um amigo, certa feita, ponderara, delicado: “Fagundes, não tenho dúvidas quanto ao Novo Testamento, em que realmente sentimos presença do Cristo, mas, no que se reporta aos antigos profetas, creio tudo devamos examinar com raciocínio e discernimento. Você acredita, por exemplo, no caso de Jonas, qual vem relatado pelos cronistas? Aceita que Jonas tenha sido tragado por uma baleia, viajando são e salvo dentro dela?”
E Macário respondera, firme: “ A letra do Velho Testamento não pode falhar. Acredito piamente que a baleia engoliu Jonas para que ele cumprisse a missão de que estava incumbido, e, se estivesse escrito na Bíblia que Jonas engolira a baleia, eu aceitaria a informação com a mesma fé.”
Pois era Macário quem se perfilava agora, reverente, ao pé da Sagrada Porta.
Mensageiro espiritual atendeu, presto. E Fagundes explicou a própria condição. Vinha do mundo. Fora cristão fiel. Perdera o corpo de carne, no fenômeno da morte, e queria lugar para descanso. Para isso, acrescentava, vivera o temor da Bíblia, consagrando-se a ela de alma e coração.
Entretanto, Fagundes, que fez você com a Bíblia? – indagou o amanuense, calmo.
Peço licença para alongar-me um tanto na resposta – rogou o recém-chegado-, pois gastei a existência analisando ensinamentos e confrontando textos.
Perfeitamente. Você esclarecerá a própria situação como deseje.
O estudo conduzido ao longo dos anos de existência.
E Macário passou a elucidar:
Adorei a Bíblia como sendo a palavra de Deus, em todos os meus dias. Sei que outros estudantes possuem apontamentos mais ou menos diversos de minha estatística pessoal, efetuada em longo tempo de estudo; no entanto, posso dizer que a Bíblia está contida em 69 livros, sendo 42 no Velho Testamento e 27 no Testamento Novo.
E prosseguiu:
O Tesouro Eterno, dentro dos livros referidos, está formado de 1.189 capítulos. Os 1.189 capítulos estão divididos em 31.138 versículos. Os 31.138 versículos possuem 774.748 palavras. As 774.748 palavras estão articuladas com 3.566.512 letras. O meio da Bíblia fica no versículo 8, do Salmo 118, em que o profeta diz claramente: “É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem.”
O versículo mais longo é o de número 9, do capítulo VIII, do Livro de Ester, que relaciona uma ordem de Mardoqueu, e o versículo mais curto é o de número 35, do capítulo XI, do Evangelho de João, que dá notícias do pranto de Jesus por Lázaro morto.
Creio seja desnecessário alinhar anotações vulgarmente sabidas, mas é importante apontar que a Bíblia gastou cerca de mil anos para ser escrita, e está traduzida em mais de mil línguas e dialetos.
Macário silenciou.
Na prestação de contas, o resultado final dado pelo plano espiritual.
Admitindo que ele apresentara quanto pretendia, o mensageiro replicou:
Efetivamente, a sua cultura do livro sagrado é espantosa, mas houve um mal-entendido. Desejamos saber o que você realizou com a Bíblia no coração e nas mãos…
Ah! – tornou Fagundes, repentinamente desapontado. – Já disse o que consegui… Minha confiança na Bíblia diz tudo…
Sim, os seus conhecimentos são admiráveis; no entanto, a Esfera Superior pede obras, obras edificantes… A Lei determina seja cada um de nós julgado pelas próprias obras… É preciso que você relacione os próprios feitos…
O apóstolo Paulo – adiantou Macário, desculpando-se – declara no versículo 1, do capítulo 5, na Epístola aos Romanos, que “justificados pela fé temos paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus – Cristo”.
Sem dúvida – atalhou o amigo espiritual -, a fé constitui o alicerce de todo trabalho, tanto quanto o plano é o início de qualquer construção. O apóstolo Paulo deve ser atenciosamente ouvido, mas não podemos esquecer a palavra do Divino Mestre, no versículo 34, do capítulo 13, no Evangelho de João: “Amai-vos uns aos outros como vos amei”. Não ignoramos que Jesus nos amou em plena renunciação de si mesmo para melhor servir.
É… é… de fato…
E Fagundes indagou:
E agora? Se me dediquei completamente à fé, que fazer agora?
É preciso voltar à Terra e nascer de novo para fazer o bem que ensinamos. O próprio Cristo não teve outro programa, perante Deus, e Paulo de Tarso, que exaltou a fé, não viveu outras diretrizes diante do Cristo… Crer, sim, mas fazer também. Fazer muito e sempre o melhor…
Macário resmungou, chorou, lastimou-se, reclamou; contudo, não teve outro remédio senão aceitar a verdade e nascer de novo.”
Irmão X
Referências
1 – Do livro “Contos Desta e Doutra Vida”, por Irmão X (Humberto de Campos), psicografado por Chico Xavier.
Irmão X é o pseudônimo de Humberto de Campos, que foi jornalista, político e escritor brasileiro. Ele nasceu no Maranhão, em 1886, e morreu no Rio de Janeiro, em 1934. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e escreveu dezenas de livros.
Depois do desencarne, começou a escrever através do então jovem médium Chico Xavier, dando início a uma nova fase para o espiritismo no Brasil. Com a grande quantidade de livros que começaram a ser publicados, a família de Humberto de Campos moveu ação judicial contra a FEB exigindo direitos autorais pelas obras de além-túmulo, o que levou o autor espiritual a adotar o pseudônimo de Irmão X. (Fonte: FEB – Federação Espírita Brasileira)
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