
O meio ambiente está se recuperando durante a quarentena.
Com os períodos de quarentena que estão sendo verificados ao redor do mundo estão acontecendo melhorias significativas em relação ao meio ambiente e à poluição que tomou conta de grande parte do planeta. Será que essas mudanças que estão beneficiando o meio ambiente serão consolidadas no futuro?
Neste artigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), os professores Fabrício Alvim Carvalho e Cézar Henrique Barra fazem uma análise dos impactos da pandemia no meio ambiente e traçam uma perspectiva do que deve acontecer depois que a pandemia for superada.
As medidas para conter a pandemia trouxeram benefícios para a sociedade e para a natureza.
Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de pandemia para a covid-19, diversas tentativas de conter a disseminação do vírus foram propostas e implementadas, como, por exemplo, o isolamento social da população.
A baixa atividade humana dos últimos meses gerou uma série de consequências e impactos. E, no tangente ao meio ambiente, muitas das mudanças, como a quarentena, foram positivas.
“Esse paradigma de consumo exagerado é a principal causa de degradação da natureza”– Fabrício A. Carvalho
O professor do Programa de Pós-graduação em Ecologia, da UFJF, Fabrício Alvim Carvalho, afirma que as medidas de quarentena são positivas não só para a sociedade, mas para a fauna e flora silvestres.
“É nítida a diminuição da exposição humana à poluição ambiental; consequentemente, diminui-se também os problemas respiratórios relacionados. De certa maneira, também é positivo para a fauna silvestre, igualmente exposta a essas elevadas concentrações de gases.”
As paisagens que recobraram vida.
Imagens de satélite mostram que a pandemia do coronavírus está temporariamente diminuindo níveis de poluição do ar ao redor do mundo. Na Índia, por exemplo, a qualidade do ar melhorou cerca de 33% e agora se consegue ver o Himalaia pela primeira vez em 30 anos.
A Agência Espacial Europeia detectou uma redução de dióxido de nitrogênio (NO2) composto químico que contribui para a poluição atmosférica e para a chuva ácida.
“Um freio necessário para uma sociedade imediatista e egocêntrica.” – Cézar H. Barra
Em Nova York, pesquisadores apontaram uma queda dos níveis de carbono em mais de 50% abaixo da média. Na China, o fechamento de lojas e indústrias resultou uma queda de 25% nas emissões de dióxido de carbono (CO2), o que equivale a uma redução global de 6%.
Na Itália, país que sofre com o isolamento social há mais tempo, golfinhos foram filmados nadando no porto de Cagliari, capital da ilha de Sardenha. Os canais de Veneza também estão consideravelmente mais limpos e cristalinos após uma semana de quarentena, estado que não atingia há 60 anos.
Os impactos negativos do isolamento social.
Contudo, o professor de Engenharia da UFJF, Cézar Henrique Barra, salienta a existência também de impactos ambientais negativos. “O maior deve ser na produção de alimentos. As pessoas estão em casa, consequentemente consumindo mais comida, água, energia, serviços como comunicação, e gerando muitos resíduos. Creio que a geração de lixo seja o segundo impacto mais considerável. Em contrapartida, o ar está mais limpo e até a água dos rios pode melhorar; um freio necessário para uma sociedade imediatista e egocêntrica.”
Essas mudanças ambientais, no entanto, são de teor temporário. São alterações de curto prazo, dependentes do que está acontecendo atualmente, sem uma garantia de durabilidade, conforme explica Carvalho.
“Tenho uma visão muito cética e realista quanto aos problemas ambientais da humanidade. Eu não acredito, enquanto especialista, que essa pandemia será o suficiente para romper esse paradigma de consumo exagerado, que é a principal causa de degradação da natureza”, observa.
“É óbvio que uma pequena parte da sociedade, com mais informação e um pouco mais de consciência ambiental, vai diminuir seu padrão de consumo. Mas, para o geral, é algo momentâneo.
Não há o que se comemorar em médio ou longo prazo, pois, ao contrário de uma possível paralisação por uma questão de conscientização ou uma súbita revolução da consciência ambiental e de políticas de sustentabilidade, essa quarentena é pura e simplesmente uma imposição forçada por um problema de saúde pública. Isso é muito momentâneo, e assim que a pandemia acabar, as coisas voltam ao normal.”
A expectativas de um futuro mais humano.
Por outro lado, Barra acredita que as alterações socioambientais “perdurarão por muito tempo devido ao novo modelo de sociedade que teremos de aprender a viver. Não voltará a ser como antes; a palavra “normalidade” terá que ser relativizada. Teremos que nos adaptar a uma nova ordem, a novas formas de relacionamentos, sejam profissionais ou pessoais. Mais respeito ao planeta e ao próximo.”
Carvalho aponta ainda a maneira como políticas ambientais sempre são afetadas em momentos de crise econômica. “Sempre que o mundo é acometido por uma crise econômica, há um grande apelo para que a economia seja restabelecida de forma muito acelerada, o que gera várias excepcionalidades, várias concessões para fragilizar as políticas de meio ambiente.”
Barra traça um possível cenário do que pode acontecer caso o isolamento social perdure por muito tempo: “O primeiro impacto socioambiental de um afastamento prolongado será na produção de alimentos, um fator chave para evitar conflitos sociais. O segundo serão os empregos. No caso do ensino, será necessário evoluir a educação das escolas públicas com o apoio de canais de televisão e celulares, desde que sejam comuns a todas as classes”, ressalta.
“Essas novas formas de relação a distância, sem tanta necessidade de transportes e de um crescimento exacerbado, vão favorecer a recuperação dos sistemas ambientais. Muitas extinções previstas terão alguma chance de ser revertidas em ecossistemas menos alterados e mais equilibrados.
Creio que o impacto ambiental será positivo e trará alguma perspectiva para as futuras gerações. O ser humano tem sido o maior problema do planeta Terra; ele terá essa única chance de mudar o seu status para algo mais humano.”
fonte: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

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