
As sucessivas reencarnações trazem o caminho do progresso.
A reencarnação, como explicam os Espíritos elevados que participaram da elaboração de “O Livro dos Espíritos”, é uma “porta para o arrependimento”.
Em continuidade, Allan Kardec explica que “todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal.”
Além disso, os mandamentos das leis divinas nos orientam à bondade, ao perdão e à compaixão. Portanto, não seria condizente com a justiça de Deus condenar para sempre aqueles que falharam nas provas da sua existência.
E assim, através das existências sucessivas, operadas pelo processo da reencarnação, o Espírito pode se redimir e também procurar os caminhos para a sua evolução.
O conhecimento desse processo concede coragem ao Espírito encarnado, sabendo que as provações e os esforços para superá-las lhe trarão benefícios para a vida futura.
Da mesma forma, a esperança de uma vida melhor amplia os horizontes. Assim, olhando além da breve passagem terrena, vemos que vale a pena todo o esforço dispendido para, cada vez mais, trilhar por caminhos corretos, ainda que se apresentem outras opções mais tentadoras.
E, ao mesmo tempo, aprimorar as virtudes da paciência, do perdão, da compreensão, tanto em relação ao próximo como em relação a si mesmo. Dessa maneira, cumpre-se a orientação de Jesus quando, pelas nossas atitudes, amamos a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos.
A responsabilidade pelas faltas cometidas e pelos excessos praticados.
Os Espíritos iluminados que responderam às questões formuladas por Kardec também se referiram à ação de Deus perante as nossas faltas.
Explicam que Deus estabeleceu lei morais para reger os atos dos seres humanos, mas não julga os desvios. Assim, “Deus não profere contra ele um julgamento, dizendo-lhe, por exemplo: ‘foste guloso, vou punir-te.’
Ele traçou um limite. As enfermidades e, muitas vezes a morte, são a consequência dos excessos. Eis aí a punição: é o resultado da infração da lei. Assim em tudo.”
Portanto, todas as consequências resultantes quando não observamos a melhor forma de agir são de nossa própria responsabilidade. Pois podemos agir livremente e fazer as nossas próprias escolhas, usar em tudo o nosso livre-arbítrio.
Além disso, Deus nos envia os Espíritos para nos inspirar, orientar e instruir. Dessa forma, “só nos devemos queixar de nós mesmos, que desse modo nos fazemos os causadores da nossa felicidade, ou da nossa infelicidade futura.”
Por que passamos por provações na vida?
As provações pelas quais passamos nesta existência dizem respeito, em muitos casos, a reparação de faltas de outras existências. Entretanto, podem também ser reajustes de ações praticadas durante a própria existência em curso.
Para exemplificar de modo que fique bem compreensível, os Espíritos esclarecem como podem se processar esses resgates das faltas cometidas:
“Tais sejam as faltas que tenha cometido, pode estar sujeito a dores morais mais agudas e pode vir a ser ainda mais desgraçado em nova existência.
O mau rico terá que pedir esmola e se verá a braços com todas as privações oriundas da miséria; o orgulhoso, com todas as humilhações; o que abusa de sua autoridade e trata com desprezo e dureza os seus subordinados se verá forçado a obedecer a um superior mais ríspido do que ele o foi.
Todas as penas e tribulações da vida são expiação das faltas de outra existência, quando não a consequência das da vida atual. Logo que daqui houverdes saído, compreendê-lo-eis.”
É preciso, também, lembrar que existe, ainda, outra possibilidade: o próprio Espírito escolhe as provações que vai passar na nova existência. Com o reconhecimento de seus erros e o arrependimento ele busca, então, se redimir na próxima reencarnação.
O arrependimento e a expiação como objetivos da reencarnação.
Os Espíritos explicam que o arrependimento se dá, em sua maior parte, no estado espiritual. Entretanto, também pode ocorrer no estado corporal, quando bem compreendida a diferença entre o bem e o mal, o que leva a uma reformulação com relação às atitudes e ao modo de agir. Dessa forma, atendendo ele consegue progredir e começar a reparar as suas faltas na mesma existência
Quando o arrependimento acontece no estado espiritual, os mentores espirituais esclarecem que isto leva o arrependido a desejar “uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o privam de ser feliz e por isso aspira a uma nova existência em que possa expiar suas faltas.”
Depois do arrependimento, é preciso que ocorra a reparação das faltas cometidas, isto é, a expiação. Ela pode ocorrer tanto na existência corporal, bem como na espiritual, “mediante as provas a que o Espírito se acha submetido e, na vida espiritual, pelos sofrimentos morais, inerentes ao estado de inferioridade do Espírito”, explicam as entidades espirituais.
Também alertam que os resgates na existência corporal precisam ser significativos, e não “mediante algumas privações pueris, ou distribuindo em esmolas o que possuirdes, depois que morrerdes, quando de nada mais precisais. Deus não dá valor a um arrependimento estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no peito.
Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem nos seus interesses materiais.”
Para que a reencarnação não se transforme em arrependimento.
De acordo com os ensinamentos dos Espíritos iluminados que se dedicam a nos ajudar em nosso progresso moral e espiritual, entendemos que a reencarnação é uma oportunidade que não deveria ser desperdiçada.
Embora a nossa vida na Terra possa se estender por algumas dezenas de anos, quase metade se passa entre os aprendizados iniciais da infância e a exaltação e os ímpetos da juventude
É na maturidade, geralmente, que o Espírito encarnado sente o chamamento interior, buscando compreender o propósito da sua vida.
A sociedade moderna trouxe inúmeros avanços e benefícios, aproximou países e continentes nas possibilidades de comunicação e locomoção. Mas com os objetivos voltados para o consumo de massa, a felicidade instantânea, porém ilusória, também criou um distanciamento do si para consigo mesmo, para com o próximo e com Deus.
Portanto, dedicar algum tempo ao conhecimento e à compreensão da espiritualidade é, sem dúvida, investimento seguro para o futuro, e a oportunidade de bem aproveitar a reencarnação presente.
Noemi C. Carvalho
Referências
“O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec
– Parte Segunda – Capítulo IV – Da Pluralidade das Existências: Justiça da reencarnação – Questão 171
– Parte Quarta – Capítulo II – Das penas e gozos futuros: Intervenção de Deus nas penas e recompensas – Questão 964
– Idem: Penas temporais – Questão 983, 984
– Idem: Expiação e Arrependimento – Questão 990, 991, 998, 1000