
Raul Teixeira fala sobre mediunidade.
Em 2011, no 2° Congresso Espírita do Maranhão, na cidade de São Luiz, o Médium e orador Raul Teixeira profere uma série de palestras sobre a mediunidade, a sua educação e o seu desenvolvimento, bem como a segurança nas manifestações mediúnicas.
Dentre tantas informações, o que mais chamou a atenção dos congressistas foram os relatos de Raul sobre como ele aprendeu a desenvolver formas de diferenciar se o que se passava em sua mente eram meras fantasias suas ou o despertar da verdadeira mediunidade.
Em determinado momento lhe perguntam quando foi que ele passou a ter certeza de que o que se passava com ele eram manifestações mediúnicas. Raul, então, responde:
– “Eu tinha muita preocupação com isto, com essa criação da mente da gente. Sabia que as mentes criam muito. Eu via muita gente tremendo, dizendo que estava recebendo espíritos e eu não via nada em volta dela. E eu não sentia nada em mim.”
Em seguida, mudando a entonação, ele traz uma explicação técnica:
– “Quando há um circuito mediúnico de verdade, um médium vai receber uma entidade, todos sentem a descarga de energia. A gente não sabe por quem o espírito vai se comunicar, mas a gente sabe que tem uma entidade ligada ao conjunto e ela vai se comunicar.”
É preciso uma boa formação para garantir a segurança das manifestações mediúnicas.
Raul, com sua potente voz, continua expressando as observações que recolheu ao longo de sua vida mediúnica:
– “Depois que acabam as comunicações dos espíritos, as pessoas em suas avaliações dizem: “Ah, eu senti uma emoção grande, sabia que algum espírito iria se comunicar, eu sabia que iria acontecer algo…” Todo mundo tem essa noção porque é um circuito eletromagnético, um circuito “psicomagnético¹” que se forma entre os médiuns.”
Seu relato prossegue:
– “Então há situações curiosas nesse capítulo das pessoas fazerem de conta que estão recebendo espírito. Às vezes elas não estão querendo enganar, elas se iludem com aquilo que lhes passa na mente.
Não tendo uma boa formação mediúnica, não têm o cuidado de esperar o envolvimento da entidade, de sentir psiquicamente que ela está se transformando. Basta começar a sentir uma coisinha e já se agita, estrebucha, começam os ruídos, a falar o que vem na cabeça.
E isso pode lhes causar problemas, de modo que é muito importante esse cuidado da pessoa conhecer o funcionamento da mediunidade.”
Como foi o começo das manifestações mediúnicas para Raul.
Raul começa a falar de seu início na doutrina espírita, dizendo que se apavorava com as coisas que via. Até que um dia Divaldo Franco apareceu em sua vida para ajudá-lo no entendimento e desenvolvimento da mediunidade.
Ele lembrou que tinha muito medo em receber espírito, em dar passividade. E Divaldo sempre perguntava a Raul porque ele não deixava os espíritos que se aproximavam dele falar. Raul, sabendo que Divaldo também enxergava os espíritos, começou a se sentir mais seguro.
Em determinada ocasião, na Mansão do Caminho, Divaldo colocou Raul na mesa de mediunidade para que ele participasse da reunião. Muito jovem, ele percebeu uma entidade aproximar-se por duas vezes. Renitente por querer continuar assistindo a reunião presidida por Divaldo, não permitiu que a entidade se comunicasse por ele.
Terminada a sessão, com Divaldo andando ao lado de Raul, o grande orador baiano abraça o jovem Raul e discretamente pergunta:
– “Por que que você não deixou os irmãos falarem? Era para ter deixado.”
Divaldo conhecia a origem dos medos de Raul, sabia que muito escrupuloso por assistir muitas encenações e mentiras na seara espírita. O jovem temia ser refém de fantasias e encenações de sua mente e assim não conseguir comunicações verdadeiras.
Divaldo Franco e o encontro com o espírito de Dolores Duran.
Para esclarecer e trazer segurança quanto às manifestações mediúnicas, Divaldo conta a Raul uma experiência ocorrida com o baiano na Mansão do Caminho.
Divaldo estava em seu escritório organizando suas coisas, arrumando mensagens. Enquanto fazia isso, colocou na vitrola um disco da Dolores Duran. E, enquanto datilografava os textos, mentalmente cantarolava a música.
Subitamente ele vê passar pela porta do escritório o espírito de Dolores Duran. Divaldo se emociona, e o espírito diz que foi atraída até lá pelo pensamento do médium. E eles então começaram a conversar, enquanto a música “A noite de meu bem” enchia a sala com sua beleza.
Dolores diz:
– “Eu vou contar para você como foi que eu “recebi” essa música.
O meu amado tinha desencarnado, eu estava muito deprimida, mal, solitária. Fui ao mesmo bar que nós dois frequentávamos e, como de costume, procurei a nossa mesa, a mesma mesa onde sempre nos sentávamos. Então me sentei, olhei para os mesmos garçons que sempre nos atendiam, e eles já sabiam o que eu queria: o mesmo drinque de sempre.
Com o cigarro na mão e o olhar perdido nos neons, antes mesmo de começar a beber, vejo meu bem amado se aproximar. Meus olhos encheram-se de lágrimas, ele me abraçou e propôs:
– Vamos escrever a história do nosso amor, escreva.
Eu disse: – Mas não tenho caneta, nem papel…
– Escreva, ele repetiu.”
Assim nasceu a bela composição “A noite de meu bem”.
Dolores Duran continua, então, contando a Divaldo como surgiu a música:
– “Lembrei-me que tinha batom na bolsa, então o peguei e no guardanapo de pano do bar comecei a escrever com o batom:
Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero paz de criança dormindo
E abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de irmãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah, eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de irmãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah, como este bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda pureza que eu quero lhe dar.”
Divaldo, em seguida, encerrando a sua lição para Raul, disse:
– “Raul, meu filho, imagine, uma mulher atormentada, alcoólatra, cheia de problemas morais foi capaz de filtrar uma mensagem tão bonita como esta. Agora, você, que dedica a sua juventude ao bem, a Jesus, à caridade, certamente está bem capacitado para filtrar os espíritos.”
– “Ele foi me dando essas drágeas de incentivo”, conta Raul.
Raul desconfia dele mesmo.
Raul continua com mais relatos sobre as suas experiências com as diversas manifestações mediúnicas que acontecem e a importância dos médiuns estarem sempre estudando e pesquisando sobre a mediunidade.
– “Eu estava na minha atividade mediúnica na casa espírita que à época eu frequentava, conta Raul. E estava sempre muito consciente em meio aos trabalhos.
Eu sabia quando o espírito chegava, eu acompanhava o que ele estava falando, e aquilo me perturbava muito. Percebi que se eu quisesse parar de falar eu parava, se eu quisesse coçar a cabeça enquanto o espírito falava eu coçava. Ficava desconfiado, então eu disse: “Ah, isso é coisa da minha cabeça, sou eu que estou inventando isso.”
Depois de um tempo, pensei comigo: “Não tem ninguém sabendo disso. A partir da semana que vem eu não vou receber espírito nenhum. Eu vou para lá, vou orar, vou respeitar a reunião, mas não vou receber nada, porque isso é coisa da minha cabeça.”
E fui na semana seguinte. A reunião foi feita do mesmo jeito. Ninguém sabia daquela minha doideira e, quando começou a sessão, eu cruzei os braços sobre a mesa, fique bem de olhos abertos, vendo a reunião se processar.
Comunicou-se o primeiro espírito, o segundo espírito, tudo ia bem, e eu dizia para mim: “Tá vendo como isso é coisa da minha cabeça? Até agora não recebi nada.”
Mas aí eu fui sentindo os pés dormentes, frios e dormentes. Daqui a pouco a dormência passou para as pernas, para a canela, para as coxas, a dormência chegou no meu peito, no tórax. Aí pensei: “Mas que coisa estranha!”
A dormência no corpo e a comunicação em latim.
Raul continua contando o que aconteceu durante aquela reunião:
– “Eu não conseguia mexer os braços, cruzados em cima da mesa. Estavam cruzados e lá cruzados ficaram. E aquela dormência subindo, como se eu estivesse vestindo uma roupa de baixo para cima. Quando a dormência me envolveu a cabeça, eu comecei a falar em latim sem perder a consciência de Raul Teixeira.
E eu então pensei: “Mas eu sou doente mesmo! Imagina, que eu não sei falar latim e estou falando latim.” Eu brigava comigo: “Mas como é que eu estou falando latim sem saber?” O pensamento pensava uma coisa, e a boca falava outra.
E por essas coisas que Deus faz, um dos dirigentes do trabalho, um dos doutrinadores era professor de língua vernácula na Universidade Federal Fluminense, e era professor de latim. Ele se levantou e começou a conversar comigo.
Pensei: “Ele é mais doido do que eu! Eu não sei falar latim, e ele está falando latim comigo que não sei.” Mas eu falava em latim e entendia o que eu estava falando em português!
A mente abriu uma coisa, uma coisa estratosférica. E ele conversou e conversou e conversou. Dali a pouco ele foi se sentar, a conversa acabou e a dormência foi descendo como se eu tirasse um macacão. E então, quando eu consegui mexer os pés, mexer tudo, descruzei os braços – engraçado! – terminou a sessão.”
A explicação para o que aconteceu com Raul.
Raul Teixeira conta o que se passou em seguida.
– “Na hora das avaliações, eu perguntei:
– Aluir, que história é essa de você falar comigo em latim, se eu não sei falar latim?
– Raul, não era você que estava falando, era um sacerdote. Era fulano de tal, e ele falava latim corretamente comigo.
Neste instante o espírito Camilo me disse assim:
– Para você perceber que nós não estamos brincando com a sua faculdade mediúnica, eu desliguei a sua epífise da comunicação para que você pudesse raciocinar enquanto ligamos ao seu sistema neuropsíquico uma entidade para falar. Para assim você perceber que, mesmo mantendo a lucidez, você é médium.
Eu pensava uma coisa e eu falava outra coisa. Eu não podia duvidar do que estava acontecendo. Fisicamente eu senti aquilo tudo como uma dormência, uma grande dormência. Então o espírito foi mexendo no sistema nervoso para me dar aquela dormência e poder usar o meu implemento vocal sem que a minha consciência participasse.”
As dúvidas sobre as manifestações mediúnicas.
Raul diz, então, que comentou esse acontecido com o Divaldo Franco, e ele disse:
-“Raul, você precisa conversar sobre isso com os médiuns daqui, porque tem muitos que são conscientes e vivem esse conflito. Vivem esse conflito de não saber quando são eles, quando é que não são.”
“Numa tarde, então”, conta Raul, “conversamos com alguns dos médiuns da Mansão do Caminho. Batemos um papo e depois nunca mais eu tive dúvidas com relação aos espíritos, porém continuo com os mesmos escrúpulos. Porque ainda vejo muita gente fazer horrores, fingindo que é médium, e tanta gente crédula, porque não estuda, e aceita qualquer coisa porque não conhece.
Eu vivo até hoje essa grande angústia de ver que as pessoas quanto menos sabem mais se lançam a fazer as coisas que não sabem. E aí então fazem errado, fazem bobagem e o público que olha de fora diz quanto a nós, espíritas: “É um bando loucos, é um bando de gente doida.”
Como vemos, portanto, com o estudo, com a prática e a troca de experiências, a segurança vem ao encontro da faculdade. Em seguida, Raul finaliza sua palestra afirmando:
– “Eu passei a ter convicção de que não era criação da minha mente aquilo que eu estava sentindo e se projetando por meio de minhas faculdades.
Um grande ensinamento a ser seguido.
Raul lembra, então, de um ensinamento que deve ser praticado continuamente para garantir a segurança nas manifestações mediúnicas:
– “Cada qual, conforme propõe Joanna de Angelis, deve estudar e estudar-se. Nós não conseguimos corrigir as inclinações anímicas de quem quer seja. E ela escreve isso em um capítulo que ela chama de animismo.
Cada um tem que aprender a se conhecer para avaliar a quantidade de si mesmo que existe na mensagem, e a partir de onde já não é mensagem.”
Finalmente, em seu jeito sintético Raul concluiu:
– “Agora, para responder à pergunta que me foi feita: passei a ter certeza, passei a ter convicção na medida que eu mesmo relutava contra essa “coisa” que acontecia comigo”, diz humildemente esse grande expoente da mediunidade espírita.
José Batista de Carvalho
Referências
José Raul Teixeira, mais conhecido no meio espírita como o grande orador e escritor Raul Teixeira, nasceu em 1949 na cidade de Niterói no Rio de Janeiro, possui formação em Física e doutoramento em Educação, estando agora aposentado pela Universidade Federal Fluminense.
Foi um dos fundadores da Sociedade Espírita Fraternidade, em Niterói, instituição que cuida da “Assistência Social Espírita Remanso Fraterno”, obra de que socorre crianças e famílias carentes.
Brilhante orador, percorreu o Brasil inteiro além de 45 países difundindo a mensagem espírita. Após sofrer um AVC, está agora retornando a essa atividade.
Raul Teixeira também é psicógrafo, e através dessa faculdade, até agora, já publicou 37 livros.
1 – Psicomagnético
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