
Nós nos apegamos ao “fazer” e não ao “ser”.
Em editorial no jornal diário do Vaticano, o jovem padre Luigi Maria Epicoco¹ fala sobre a felicidade. Segundo ele, “a verdadeira felicidade é perceber que tudo o que temos buscado avidamente, não está longe de nós.
O verbo fazer é um verbo ao qual somos muito apegados. Tão apegados a ponto de sacrificar por ele até mesmo o verbo ser. Fazer é nossa maneira de não pensar muito, de não entrar em nós mesmos, de não encarar as coisas sérias da vida. Fazer nos dá satisfação imediata.”
Por isso, muitas vezes acumulamos atividades, buscamos distrações para passar o tempo, encontramos formas de ocupar a nossa mente. Entretanto, não reservamos um horário para nos dedicarmos a um encontro interior, para buscar a satisfação com a vida que nasce de dentro para fora.
Precisamos mergulhar no nosso vazio interior.
“Mas, às vezes,” diz o padre Epicoco, “é necessário entrar no vazio, no vazio que mora dentro de nós. Ouvir a palavra de Deus dentro de nossas falhas, dentro do nosso coração, significa experimentar uma plenitude que nenhuma satisfação no mundo pode nos dar.
Passamos nossas vidas tentando fazer coisas que nos farão felizes. Mas a verdadeira felicidade é parar de nos preocuparmos e perceber que tudo o que temos buscado avidamente não está longe de nós.”
A felicidade é um desejo legítimo. Mas existe uma diferença entre a sensação momentânea proporcionada por uma atividade e o sentimento que não se esvai mesmo ante as dificuldades que surgem.
Esse sentimento se relaciona com uma emoção serena, profunda e pacífica. É ela que traz, de fato, um contentamento pela vida e pelo viver, apesar de qualquer circunstância que se apresente.
A felicidade que nos torna completos não está longe de nós: está em nós.
O padre Epicoco explica que “o que precisamos para sermos felizes está contido na escuta do verbo ser, sobre quem realmente somos, sobre aquela imagem e semelhança com Deus que cada um de nós carrega dentro de si.”
É preciso “desenterrar aquela palavra escondida na nossa boca e no nosso coração, que luta para emergir quando devoramos as nossas vidas e o nosso coração está cheio apenas de ânsias e de preocupações”, enfatiza o jovem padre.
Certamente que vivemos momentos agradáveis e alegres, sem nenhuma sombra de preocupação. Por outro lado, passamos por épocas perturbadoras, quando os acontecimentos nos trazem ansiedade, medo ou raiva.
Contudo, seja qual for o tempo que estejamos vivenciando, a conexão interior, para fortalecer a ligação com a espiritualidade superior e com os emissários celestiais é sempre útil, proveitosa e benéfica.
É dessa maneira que os bons momentos se revestem de uma felicidade genuína. E, além disso, os maus bocados são enfrentados e superados com mais força, coragem e confiança.
Quando nós entramos no “vazio que mora dentro de nós”, ressurgimos plenos e revigorados.
Noemi C. Carvalho
Referências
1 – Em junho deste ano, o Papa Francisco nomeou o jovem padre Luigi Maria Epicoco como assistente eclesiástico do Dicastério para a Comunicação – o departamento que coordena os escritórios de comunicação da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano – além de editorialista do o jornal diário do Vaticano (L’Osservatore Romano, fundado em 1861.
Epicoco, que também é professor de filosofia na Pontifícia Universidade Lateranense, teve um de seus livros escolhidos pelo Papa para presentear os cardeais.
Fonte: Vatican News