
Os pensamentos que chegam ao acaso.
Se prestarmos muita atenção, vamos perceber que a maioria dos pensamentos que temos simplesmente aparecem, ele vêm ao acaso e sem fazem presentes em nossa mente.
Grande parte deles segue um padrão de repetição, podem até vir com variações, mas geralmente são variações sobre o mesmo tema. Eles refletem nossas preocupações, nossas ansiedades, nossas dúvidas e receios.
Isto acontece porque nossa mente fica presa e condicionada pelas experiências do passado. Desta maneira fica difícil nos desvincularmos das experiências ruins que queremos esquecer, mas acabamos sempre revivendo. Elas fizeram parte do nosso passado, não importa se distante ou mais recente, e nós as mantemos no nosso presente, em nosso hoje.
O pensamento consciente requer uma escolha.
“Não pensamos – o pensamento acontece em nós. A afirmação “Eu penso” implica vontade. Ou seja, podemos nos pronunciar sobre o assunto, podemos fazer uma escolha. Mas isso ainda não é percebido pela maior parte das pessoas. “Eu penso” é uma afirmação simplesmente tão falsa quanto “eu faço a digestão” ou “eu faço meu sangue circular”. A digestão acontece, a circulação acontece, o pensamento acontece.”, diz Eckhart Tolle.
Ficamos à mercê desses pensamentos que chegam ao acaso, automáticos, somos possuídos pelas emoções com as quais eles andam de braços dados. Achamos que tudo é obra do acaso – sobre o qual não temos nenhum controle, ou é nosso destino – como um futuro imutável sobre o qual não temos nenhuma ascendência, ou é nosso carma – e nada podemos fazer para modificá-lo. Em qualquer das opções, nos isentamos de responsabilidade e evitamos ter que tomar qualquer atitude.
A direção que o pensamento dá à nossa vida depende da energia que o origina.
Tolle também diz que “a voz na nossa cabeça tem vida própria. Ao longo de milhares de anos, a mente vem intensificando seu domínio sobre a humanidade, que deixou de ser capaz de reconhecer a entidade que se apossa de nós como o “não-eu”. Por causa dessa completa identificação com a mente, uma falsa percepção do eu passa a existir – o ego. A densidade dele depende do grau em que nós – a consciência – nos identificamos com a mente, com o pensamento. Pensar não é mais do que um minúsculo aspecto da totalidade da consciência, de quem somos.”
Parece estranho pensar dessa forma: a voz na cabeça, isto é, a mente que origina os pensamentos tem vida própria. “Mas a mente não é minha, não faz parte de mim, não sou eu?”, você pode estar se perguntando. Sim e não. A mente faz parte de nossa estrutura energética, isto é faz parte de nós mas, digamos, ela é como um carro que precisa de motorista (pelo menos enquanto os carros não forem todos autônomos…).
A mente precisa de alguém que lhe dê uma direção. No caso, temos dois motoristas disponíveis, que movem nossa vida de acordo com as características de sua energia: que Tolle chama de “ego” e “consciência” (muitas vezes é chamada de essência, eu superior, alma, entre outras denominações.)
Estas duas palavras trazem em si um complexo e vasto significado, que é importante conhecer para compreendermos melhor como nós “funcionamos” e perceber a importância de se aprimorar no autoconhecimento.
Se for de seu interesse, você pode ler os dois textos abaixo, que trazem um maior detalhamento sobre essas nossas duas instâncias:
Quando nos libertamos dos caprichos do ego, os pensamentos não vêm ao acaso.
Continuando com as explicações fornecidas por Tolle, ele se refere a períodos em que – ainda que não o façamos conscientemente – deixamos temporariamente a identificação com o ego. “Algumas pessoas desfrutam de períodos em que se encontram libertas do domínio da mente, ainda que brevemente. A paz, a alegria e o ânimo que elas experimentam nesses momentos fazem a vida valer a pena. Essas também são as ocasiões em que a criatividade, o amor e a compaixão se manifestam.”
Por outro lado, Tolle descreve as ocasiões em que ficamos presos aos caprichos do ego, o que nos leva invariavelmente por improdutivas viagens ao passado e ao futuro, distraindo-nos do nosso momento atual, impedindo a nossa concentração no momento presente, atrapalhando as realizações que tanto desejamos.
Também descreve o comportamento das pessoas que ficam continuamente ligadas aos comandos do ego. “Elas não estão presentes em nenhuma situação – sua atenção está ou no passado ou no futuro, que, é claro, são formas de pensamento que existem apenas na mente. Ou, se estabelecem um relacionamento conosco, fazem isso por meio de algum tipo de papel que interpretam e, assim, não são elas mesmas.
As pessoas, em sua maioria, vivem alienadas de quem elas são. Às vezes esse estado chega a tal ponto que a maneira como se comportam e se relacionam é reconhecida como “falsa” por quase todo mundo, a não ser por aqueles que também são falsos e igualmente alienados de quem são. Alienação quer dizer que não nos sentimos à vontade em nenhuma situação, em nenhum lugar nem com ninguém, nem mesmo conosco. Estamos sempre tentando nos sentir “em casa”, mas isso nunca acontece.”
Esse sentir-se “em casa” é a nossa grande busca, é a compreensão que procuramos. É aquilo que nos trará bem-estar, nos dará o sentimento de felicidade, trará a paz em todos os momentos.
É uma busca que promete um “grand finale”, mas que começa, simplesmente, com a compreensão de nosso pensamento.
Noemi C. Carvalho