
A reencarnação traz a oportunidade de cura para os males do corpo.
A morte de crianças traz uma grande comoção, mas é possível compreender porque isso acontece quando se consideram as causas espirituais relacionadas. As moléstias e os distúrbios causados ao corpo durante a vida e que não são sanados persistem no corpo espiritual, mesmo depois da morte. E a única forma de cura para esses males é pela reencarnação, de acordo com planejamentos orientados pelo plano espiritual.
André Luiz¹ narra uma intrincada história envolvendo casos amorosos, traições e vinganças. Entre os personagens, um deles, de nome Esteves, foi envenenado. Enquanto outro, depois reencarnado como Júlio, buscou o suicídio através do envenenamento e, não obtendo êxito, encontrou a morte pelo afogamento nas águas de um rio.
A narrativa traz as elucidações do Ministro Clarêncio, que explica que quem prejudica a harmonia da Lei Divina causando males ao corpo, “naturalmente se escraviza aos efeitos da ação desequilibrante, obrigando-se ao trabalho de reajuste”.
Esse reajuste se dá através da reencarnação, pelo cumprimento da lei de causa e efeito. E como disse o instrutor, “quase todos temos do pretérito expressivo montante de débito a resgatar e todos somos desafiados pelas aquisições a fazer. Nisso está o programa, significando em si uma espécie de fatalidade relativa no ciclo de experiências que nos cabe atender”.
O planejamento da reencarnação.
O programa a que o instrutor espiritual se refere é o planejamento realizado nos departamentos especializados em orientar a reencarnação, determinando, por exemplo, as condições físicas do reencarnante e a família que o abrigará.
Além disso, estabelecem-se algumas condições essenciais para se aprimorar ou resgatar débitos, como desafios e provações, reencontro com antigos inimigos, tempo de permanência na nova existência e formas de ocorrer o desencarne.
Esses planejamentos não são de todo imutáveis, pois, como explica o Ministro Clarêncio, “a conduta é sempre nossa e, dentro dela, podemos gerar circunstâncias em nosso benefício ou em nosso desfavor.
Assim, o livre-arbítrio, ainda que parcial, pode levar por caminhos de soerguimento. Ou, então, aumentar a necessidade de reajustes futuros, dependendo das escolhas feitas e das atitudes tomadas.
A desarmonia espiritual da enfermidade sobrevive no espírito.
No caso específico de Júlio, sua atitude causou sérias lesões no centro laríngeo, pela ingestão de substância corrosiva.
E o mentor espiritual explica que “a enfermidade, como desarmonia espiritual, sobrevive no perispírito”, levando à necessidade da reencarnação para sanar a deficiência causada.
Conforme o Ministro Clarêncio, ao renascer no corpo material, “Júlio, de atenção encadeada à dor da garganta, constrangido a pensar nela e padecendo-a, recuperar-se-á mentalmente para retificar o tônus vibratório do centro laríngeo, restabelecendo-lhe a normalidade em seu próprio favor”.
Em seguida, o instrutor esclarece que “Júlio renascerá num equipamento fisiológico deficitário que, de algum modo, lhe retratará a região lesada a que nos reportamos. Sofrerá intensamente do órgão vocal que, sem dúvida, se caracterizará por fraca resistência aos assaltos microbianos. E, em virtude de o nosso amigo haver menosprezado a bênção do corpo físico, será defrontado por lutas terríveis, nas quais aprenderá a valorizá-lo”.
Efeitos diferentes para uma causa similar.
Anteriormente citamos que, envolvido na mesma trama, Esteves havia sido envenenado. Entretanto, ele já reencarnara e não apresentava nenhum tipo de lesão ou de sofrimento. Por outro lado, Júlio, ainda no plano espiritual, encontrava-se com graves lesões na garganta.
Os efeitos em ambos, portanto, mostravam-se muito diferentes. Clarêncio disse que é preciso levar em consideração o exame das causas. E sua explicação foi sucinta: “Esteves foi envenenado, enquanto Júlio se envenenou. Há muita diferença”.
Ele então comentou que “o suicídio acarreta vasto complexo de culpa. A fixação mental do remorso opera inapreciáveis desequilíbrios no corpo espiritual. O mal como que se instala nos recessos da consciência que o arquiteta e concretiza.
Observamos Júlio, enfermo até agora, em consequência de erros deliberados aos quais se entregou há quase oitenta anos”, lembra o mentor espiritual.
A reencarnação como forma para a cura dos males do passado.
Todo pensamento que desencadeia o mal torna-se prisioneiro de seus próprios resultados pois sofre os “choques de retorno, no veículo em que se manifesta”, como explica o Ministro.
Por isso, a reencarnação era o único caminho possível para Júlio, diz o mentor, uma vez que “os compromissos morais adquiridos conscientemente na carne somente na carne devem ser resolvidos. O corpo físico funciona como abafador da moléstia da alma, sanando-a, pouco a pouco”.
Grande parte das enfermidades desempenham importante papel na regeneração das almas, conduzindo-as ao reajuste. “A dor é o grande e abençoado remédio”, afirma o instrutor.
E complementa: “Depois do poder de Deus, é a única força capaz de alterar o rumo de nossos pensamentos, compelindo-nos a indispensáveis modificações”.
As causas espirituais explicam a morte de crianças.
O Ministro Clarêncio, então, pondera:
— O problema é doloroso, mas é simples. Trata-se tão somente de ligeira prova necessária. Júlio sofrerá o aflitivo desejo de permanecer na Terra, com o empréstimo do corpo físico a prazo longo.
— Entretanto, suicida que foi, com duas tentativas de autoaniquilamento, por duas vezes deverá experimentar a frustração para valorizar com mais segurança a bênção da vida terrestre.
— Depois de estagiar por muitos anos nas regiões inferiores de nosso plano, confiando-se inutilmente à revolta e à inércia, já passou pelo afogamento e agora enfrentará a intoxicação. Tudo isso é lastimável, no entanto…
Referindo-se aos pais que receberiam o pequeno Júlio novamente, o instrutor informou que, no pretérito, suas atitudes o levaram ao desequilíbrio emocional. E agora seriam os responsáveis por garantir-lhe a oportunidade de recuperação. Pois “a justiça é inalienável. Não podemos iludi-la”, afirma Clarêncio.
Inúmeros são os motivos relacionados à morte de crianças, assim como diversos são os comportamentos e atitudes que dão origem às causas espirituais a serem reparadas através da reencarnação.
“A curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência precedente interrompida antes do momento em que devera terminar, e sua morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais.” (“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, Parte Segunda, Capítulo IV)
Somos herdeiros de nós mesmos.
Esse é apenas um caso, um exemplo, das causas que originam tanta dor e sofrimento. Mas que, apesar de doloroso, é educativo, diz o mentor, que prossegue:
— Nosso companheiro vencido e enfermo, em razão de compromissos adquiridos na carne, na carne encontrará caminho ao próprio reajuste.
Quanto à questão da hereditariedade, ela tem os seus limites, como esclarece o Ministro. Os pais certamente fornecem determinados recursos ao Espírito reencarnante, condicionados às suas necessidades.
Entretanto, diz ele, “no fundo, somos herdeiros de nós mesmos. Assimilamos as energias de nossos pais terrestres, na medida de nossas qualidades boas ou más, para o destino enobrecido ou torturado a que fazemos jus, pelas nossas conquistas ou débitos que voltam à Terra conosco, emergindo de nossas anteriores experiências”.
Em suma, elucida o benfeitor, o Espírito reencarnante traz consigo a mesma enfermidade com que daqui saiu e que manteve em sua estada no plano espiritual. É uma mudança de domicílio, que não altera o quadro orgânico, pois o problema é de natureza espiritual.
— Como vemos, na mente reside o comando. A consciência traça o destino, o corpo reflete a alma. Toda agregação de matéria obedece a impulsos do espírito. Nossos pensamentos fabricam as formas de que nos utilizamos na vida – conclui, em seguida, o Ministro Clarêncio.
Noemi C. Carvalho
Referências
1 – André Luiz em “Entre a Terra e o Céu”, psicografado por Chico Xavier
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