
A dor tem uma função educativa.
Pode ser difícil de entender esta colocação, mas a dor e o sofrimento têm um papel educativo em nossa vida. Eles servem para a reparação de comportamentos e atitudes que tivemos e não é, portanto, um castigo divino. Mas pensar nisso é muito mais cômodo, porque nos exime de qualquer responsabilidade.
Mas é claro que aí vem a pergunta: “Como, assim, está dizendo que eu escolhi sofrer assim?”
Bem, agora a questão ganha mais um ponto a ser discutido, que também pode gerar controvérsias, porque dor e sofrimento não são a mesma coisa. A dor pode ser inevitável, como um instrumento de ajuste e aperfeiçoamento, mas o sofrimento, esse é opcional.
Isto é, cada um pode optar entre ficar aflito, desesperado, amargurado frente a uma situação ou, então, aceitá-la e procurar encontrar uma forma de resolvê-la.
“O sofrimento é o misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa elevação.” *
Sempre temos opções para lidar com a dor e com o sofrimento.
Como diz Dalai Lama, se você pode fazer algo, faça. Mas existem situações nas quais não podemos fazer nada para alterar o seu curso.
Não podemos, por exemplo, desfazer uma doença que nos acometeu, mas podemos cuidar de suas consequências com o tratamento necessário, bem como evitando excessos e atitudes que prejudiquem a saúde e o bem-estar.
Não podemos, da mesma forma, mudar a atitude tomada por alguém, que nos traiu ou enganou. Mas podemos procurar manter a paz de espírito através do perdão sincero, lembrando que cada pessoa está numa fase evolutiva diferente. Por causa disso, muitos ainda têm as suas ações pautadas em sentimentos inferiores como o egoísmo, falta-lhes o escrúpulo, a empatia e o senso de moral.
Além disso, a Lei de Causa e Efeito prevalece nos ajustes da vida. Portanto, não podemos descartar a possibilidade de estarmos sofrendo as consequências de uma atitude semelhante que já tivemos no passado, seja com a mesma pessoa ou com outra, normalmente débitos contraídos em encarnações anteriores.
Vamos procurar, então, dar um significado mais abrangente a essas duas palavras que causam tanto desgosto em nossa vida, de acordo com os esclarecimentos que nos foram proporcionados pelo espiritismo.
“O sofrimento é um meio poderoso de educação para as almas, pois desenvolve a sensibilidade, que já é, por si mesma, um acréscimo de vida. Por vezes é uma forma de justiça, corretivo a nossos atos anteriores e longínquos.” *
A dor como consequência da Lei de Causa e Efeito.
A dor é um sinal que mostra que, em algum momento da nossa jornada como Espíritos eternos, nós nos afastamos da harmonia das leis divinas. Portanto, é fruto das próprias imperfeições humanas, consequência das escolhas equivocadas em qualquer época durante a nossa trajetória evolutiva, mas que se atenua com o progresso do Espírito.
Isso não quer dizer, entretanto, que o espírito reencarna só com o objetivo de sofrer ou pagar por seus erros. A reencarnação se vincula à ação da Lei de Causa e Efeito, ou seja, é a oportunidade que o espírito tem de reparar os seus atos do passado, quando cometeu injustiças e causou sofrimento, fazendo uso do livre-arbítrio.
Como explicou Allan Kardec, “o bem e o mal são voluntários e facultativos; sendo livre, o homem não é fatalmente impelido nem para um, nem para outro.”
A dor pode ser classificada em quatro categorias:
- física – quando é decorrente de uma sensação desagradável no corpo físico;
- emocional – são os sentimentos de mágoa e de decepção, a perda de entes queridos e os desgostos do coração;
- dor psíquica – fruto do arrependimento ou do remorso por dano causado a outro ou a si mesmo;
- dor social – decorrente do sentimento de pena com relação a outro, compaixão.
“O sofrimento é reparação ou ensinamento renovador.”
Não devemos deixar que o sofrimento se torne crônico.
O sofrimento é a forma pela qual expressamos a dor que sentimos. Pessoas que passam por situações semelhantes, ou seja, que sofrem o mesmo tipo de dor, vão sentir o sofrimento de formas distintas, com maior ou menor intensidade.
Ele está diretamente relacionado ao processo de evolução do Espírito, e é maior e mais constante enquanto prevalecer a natureza animal sobre a natureza espiritual do ser. Por isso é necessário compreender e aceitar a dor como lição valiosa, sabendo que cada um passa pela dor que lhe é própria.
“Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração” – música “Epitáfio” – Titãs
Muitas ações e comportamentos do ser humano o levam ao sofrimento material, e o mesmo acontece com os sofrimentos morais, uma vez que “os sofrimentos materiais algumas vezes independem da vontade; mas, o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, em suma, são torturas da alma.”, como é explicado “O Livro dos Espíritos”.
A dor faz parte da vida, não há como evitá-la, mas o mesmo não se dá com o sofrimento, que pode ser diminuído e até evitado. Ele pode ser comparado a uma dor crônica que só aumenta se não for tratada.
A dor é a alavanca que impulsiona o desenvolvimento pessoal.
A dor não é punição nem castigo, mas em função de seu papel educativo, ela só termina quando se completa o aprendizado. Por isso, situações semelhantes podem se repetir quando não se verifica uma mudança de comportamento, quando existe revolta ou descaso.
Nessas situações, a dor pode vir a cada vez com maior intensidade, até que haja uma reflexão sincera que leve, por fim, ao entendimento e à transformação nas atitudes.
“(O sofrimento) quando suportado com humildade e confiança em Deus, é sempre recibo de quitação de velhos débitos, habilitando o Espírito a um futuro de bênçãos…” *
A dor e o sofrimento, portanto, são consequências naturais da evolução do espírito, uma vez que nos planos inferiores da criação não há evolução sem dor. Ela é a alavanca que nos impulsiona a uma mudança na forma de pensar e de sentir, objetivando atingirmos a harmonia e a felicidade.
Para que brilhe a luz da alma.
Desta forma, compreendemos que é a dor que, muitas vezes, provoca o despertamento da consciência para o encontro da força espiritual interior, que é o que vai permitir superar essa mesma dor, reparando o passado e preparando um futuro melhor.
Assim nós fortalecemos nosso espírito, desenvolvemos as nossas virtudes e conseguimos superar as dificuldades sem deixar que o sofrimento, a angústia, o desespero tomem conta de nosso ser.
“O sofrimento é, portanto, o cadinho purificador que retira as manchas da alma, a fim de que brilhe a luz de que se constitui, irisando de belezas o próprio ser e atraindo o restante da Humanidade na sua direção.” *
Isso não quer dizer que desenvolvendo virtudes estaremos livres das dificuldades. Significa estar no meio de dificuldades e não sofrer, não deixar o desespero e o sofrimento invadirem a alma.
É trilhar o caminho da serenidade que leva à paz interior e a uma forma de viver mais tranquila e consciente do nosso compromisso com o futuro de nossa vida espiritual.
Noemi C. Carvalho
Referências
Texto baseado em:
– Sociedade Espírita Ramatis
– Federação Espírita Brasileira
*Citações:
– Federação Espírita Brasileira
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