Começar a vida em outro país pode ser fácil mas se tornar um desafio com o passar do tempo.
A mudança, mesmo quando é uma situação que queremos e pela qual nos empenhamos para que aconteça, pode causar uma certa apreensão, principalmente quando vivemos por muitos anos do mesmo jeito. Quando se trata, então, de começar a vida em outro país, ela pode ser muito maior.
Tem pessoas que moram na mesma casa desde que nasceram, enquanto outras já mudaram de casa, de bairro, de cidade muitas vezes. Tem gente que faz carreira numa grande empresa, trabalha na mesma profissão ou mantém o mesmo negócio a vida toda; outras já passaram por experiências as mais variadas.
Por isso, quando acontece uma mudança importante, digamos, a mudança de emprego, ainda que seja algo esperado com animação e entusiasmo, lá no fundo, quando está chegando a hora ou nos primeiros dias do novo convívio, a segurança do ambiente, das pessoas e das atividades antes tão conhecidas no que era rotineiro, cede lugar à incerteza da novidade.
O que dizer, então, quando a mudança é para outro país?
Malas prontas, sentimentos aguçados.
As imigrações fazem parte da história da humanidade. A era da globalização, das grandes corporações operando em múltiplos países, contribui para a expatriação, quando funcionários são deslocados para unidades extracontinentais.
A atualização instantânea de informações sobre países e cidades retratando cenários políticos e sociais, passeios virtuais pelas ruas, informações atualizadas de quem vive na região, são alguns fatores que incentivam a busca de outros horizontes, faz com que mais pessoas, como diziam os contos de fadas, “saiam a correr mundo.”
No dia do embarque, malas carregam uma bagagem variada colocada às pressas ou cuidadosamente arrumada. No meio da lista do “não esquecer de levar”, se aconchegam entre roupas e lembranças a alegre expectativa, a saudade antecipada, o entusiasmo da novidade e a apreensão do desconhecido.
Malas despachadas com sonhos embalados, o olhar percorre tudo vagarosamente, querendo levar na bagagem da memória cada pequeno detalhe.
Os primeiros contatos com as dificuldades.
A esteira das bagagens mostra a chegada ao destino. Agora é o querer chegar logo no nova morada, abrir as malas, desfazer-se do cansaço e já deixar à mão a animação, assim que passar o jet lag das emoções.
Mesmo que a mudança tenha sido por escolha própria, e ainda que no começo tudo tenha o gostinho de novidade, podem surgir algumas dificuldades que só vão mesmo se manifestar com o tempo, na percepção do dia-a-dia.
O encantamento e a empolgação dos primeiros tempos podem começar a ceder lugar a alguns aborrecimentos por simples, pequenas e comuns questões práticas da rotina diária.
O gostinho de novidade pode ir ficando um pouco amargo com o tempo e os pontos negativos começam a marcar presença. A disposição e a vibração podem ser trocados por sentimentos de saudades, de incerteza, até de arrependimento e de não pertencimento.
Afetos, costumes, rotinas: nada mais é igual.
Quem se afastou da família e de amigos, por mais que a tecnologia facilite as conversas e aproxime as centenas ou milhares de quilômetros de distância, não substitui a proximidade, o contato, a facilidade de ter alguém “sempre à mão” para dar uma força quando precisamos.
A mudança para outros países tem o agravante da língua. Mesmo a fluência no novo idioma pode esbarrar em algumas expressões regionais. E se você não domina o idioma, até compras simples no mercado, na farmácia, no restaurante podem se tornar desgastantes e, às vezes, até frustrantes.
Você talvez não encontre os produtos a que estava acostumado, a alimentação pode sofrer uma mudança radical no cardápio, os costumes, a cultura, o modo de viver, tudo é diferente, inclusive adaptar-se à moeda local e aos novos parâmetros entre renda e gastos.
Quando estamos em nossa casa de origem, também sentimos ansiedade por vários motivos. Passamos por problemas, sofremos decepções, mas é um universo onde nos movimentamos à vontade, é nosso reduto, é o lugar onde estamos acostumados a nos virar.
Em outro país, o nível de segurança cai muito. É, literalmente, um mundo novo a ser descoberto.
Cinco dicas para ajudar a adaptação à mudança.
Naturalmente, existem as pessoas aventureiras e desbravadoras, que se adaptam bem a qualquer circunstância, que vivem de adrenalina e adoram desafios.
Por outro lado, existem pessoas de temperamento mais metódico, que preferem a segurança do conhecido. Estas podem sentir um pouco mais a dificuldade e levar um tempo maior para a adaptação.
Algumas recomendações simples podem ser úteis nesse período para ajudar a superar os desafios da mudança de vida:
1 – Faça rápidas meditações
Todos os dias, faça alguns minutos de interiorização. Coisa rápida, o trabalho maior vai ser lembrar de fazê-lo. Mantenha uma respiração profunda, afirme pensamentos de serenidade, de confiança, sinta que a paz está em você e não no mundo exterior. Você pode praticar estes minutos de bem-estar de manhã para começar bem o dias, à noite para ter um sono reparador e sempre que perceber a tensão emocional se aproximando, a qualquer hora do dia.
2 – Mantenha sua atenção no presente
Ficar o tempo todo pensando na vida que ficou para trás ou criar especulações inseguras sobre o futuro não ajuda em nada. É uma artimanha da mente para mantê-lo preso a preocupações e insatisfações. Fique centrado no agora, relacione mentalmente tudo o que está sendo bom, valorize todos os pontos positivos da sua nova situação.
3 – Libere a necessidade de controlar
Querer controlar tudo é impossível é só faz a preocupação crescer cada vez mais. Ser previdente e planejar as coisas é uma boa atitude para manter um fluxo ordenado e evitar sobressaltos, estando ciente que imprevistos podem surgir. A mente tranquila consegue lidar melhor com problemas se e quando eles aparecerem.
4 – Faça passeios ao ar livre
Procure frequentar lugares onde você possa ter contato com o espaço aberto, com a natureza e mentalize a troca de energias: libere as tensões e preocupações represadas em seu corpo limitado para que sejam levadas e dissolvidas no espaço infinito; preencha o vazio com a energias de vitalidade e força doadas pelos astros celestes, pela terra que nos sustenta e nutre, pelos ventos que renovam o ar de nosso ambiente mental.
5 – Pratique atividades que você gosta
Frequente atividades culturais, participe de grupos de dança, yoga, enfim, procure fazer coisas que você gosta em seu tempo livre. Não se intimide, não sinta vergonha, seja sempre respeitoso e agradável. Confiança e aceitação não se podem impor, elas são conquistadas pelo convívio.
Valorize seu potencial, sua capacidade, sua vida.
Outra fator importante é tomar cuidado com a armadilha da mente e não fantasiar com a vida que você tinha antes, lembrando só das coisas boas.
Você certamente também ficava aborrecido, irritado, ansioso. Sua vida agora, lá de onde você veio, não seria o mar de rosas e tranquilidade que você pode estar imaginando. Certo, você pode dizer que era melhor do que agora. Ótimo, isso quer dizer que, já que você fez algo que era melhor antes, você tem todo o potencial e a capacidade de fazer melhor ainda agora.
Por outro lado, também nada de sentir culpa se você sente que está vivendo melhor do que antes ou se está mais feliz e realizado que pessoas queridas do seu convívio. Cada um tem a possibilidade de definir passos e abrir caminhos; cada um tem uma percepção diferente de uma mesma situação, o que vai impulsioná-lo a procurar mudanças ou não.
Desafios são o que nos impulsiona para o desenvolvimento. Ficar numa zona de conforto é muito bom. Mas evoluir é melhor ainda.
Ter mais satisfação na vida, ter a satisfação de ter superado vários problemas – isso traz confiança, fortalece a autoestima, renova a sensação de poder interior, de capacidade de realização.
**Se você notar que a ansiedade não cede e ocupa cada vez mais espaço na sua vida, procure orientação e ajuda profissional. Sempre é possível encontrar grupos de apoio locais e terapias podem ser feitas on-line com alguém de confiança em sua cidade natal.
Noemi C. Carvalho