
Dalai Lama conversa com policiais militares e explica como fazer uma meditação.
No começo do mês de Julho, dias depois de comemorar seu 85° aniversário, Dalai Lama participou de um encontro virtual organizado com membros da Polícia Metropolitana do Reino Unido. O evento contou com a participação de 1000 policiais, funcionários e convidados, cujo tema principal foi a compaixão. Ao final do encontro, Dalai Lama ensinou aos participantes uma forma para praticar meditação e assim encontrar paz interior.
Sua Santidade iniciou o evento salientando a necessidade de cuidar da mente e das emoções para manter a paz de espírito e assim garantir a paz no mundo:
“Na Ásia, existe uma tradição de não-violência e compaixão, ideias que evoluíram ao longo de mais de 3000 anos. No mundo de hoje, essas qualidades parecem mais relevantes do que nunca.
Os tempos estão sempre mudando, mas a questão importante é se usamos bem nosso tempo ou não. A responsabilidade de fazer isso, portanto, repousa inteiramente em nossos próprios ombros.
No Ocidente, prevalece um senso de pensamento materialista. Mas na Ásia, noções de compaixão e não-violência se relacionam mais ao nosso mundo interior.
Geralmente, observamos regras de higiene física para proteger nossa saúde, entretanto, também precisamos cultivar um senso de higiene emocional. Podemos falar em garantir a paz no mundo, mas não conseguiremos fazê-lo sem alcançar a paz dentro de nós mesmos.
Precisamos aprender a cultivar a paz de espírito, não em termos de orações, rituais ou busca de bênçãos, mas em relação a como nossa mente funciona e como podemos limpar as nossas emoções destrutivas.”
Educar as emoções e a mente.
Dalai Lama continua explicando que muitas vezes nos apegamos a conceitos errôneos sobre as coisas ou sobre as pessoas, dando, assim, origem a emoções negativas. Com o desenvolvimento da física quântica, foi possível perceber a diferença que existe entre o que vemos e o que é real:
“A física quântica distingue entre aparência e realidade. As coisas materiais parecem existir sólida e objetivamente, mas se as investigarmos mais profundamente, essa aparência sólida desaparece. Emoções destrutivas são baseadas nas aparências. Compaixão e altruísmo estão enraizados na razão.”
Podemos, portanto, alterar a vibração emitida por nossos pensamentos e definir a qualidade de nossas emoções. A raiva, o ciúme, a inveja, o medo só existem e se manifestam a partir daquilo que percebemos exteriormente e da forma como deixamos que isso nos influencie interiormente.
Em outras palavras, como esclarece Sua Santidade: “Nossas mentes mudam a todo momento e se você examinar sua mente, descobrirá que não há nada estático para se agarrar.
A meditação nos ajuda a entender melhor a realidade e assim, uma compreensão mais clara da realidade ajuda a afrouxar e reduzir nossas emoções destrutivas.
E tomo isso como um sinal de esperança de que podemos fortalecer qualidades como a compaixão exercitando a razão. Porque as emoções positivas podem ser reforçadas na meditação, enquanto as emoções destrutivas podem ser reduzidas.”
Violência e educação para a paz.
Com relação à violência que ainda existe ao redor do mundo, Dalai Lama enfatiza que o século passado foi marcado por muitas guerras e pelo desenvolvimento de armas de destruição em massa, mas a “violência apenas leva a mais violência.
A única solução duradoura é a não-violência. Precisamos, portanto, usar o nosso senso de razão para entender que, como a violência não nos trará o que queremos, devemos procurar desmilitarizar o mundo.
A educação pode fazer toda a diferença, mas a educação no Ocidente tende a ter objetivos materialistas; portanto, é necessário combiná-la com a educação sobre o nosso mundo interior e como podemos obter paz de espírito.”
Conflitos diários e sensibilidade feminina.
Em seguida ao seu pronunciamento de abertura, Dalai Lama respondeu a algumas perguntas feitas pelos policiais participantes do encontro.
Algumas delas questionavam como manter a paz e o equilíbrio diante dos crimes e dos conflitos diários. Dalai Lama respondeu dizendo que a crise que observamos na sociedade decorre da negligência com o nosso mundo interior, com a nossa paz interior. Porque se temos conflitos internos, eles também se manifestam externamente.
Uma policial feminina procurou o conselho e o encorajamento de Sua Santidade para as mulheres, em uma organização dominada por homens. Ele disse que as mulheres são símbolos de amor e portanto acredita que se houvesse mais líderes femininas o mundo seria mais pacífico:
“Os cientistas encontraram evidências de que as mulheres são mais sensíveis aos sentimentos dos outros. As mulheres representam uma abordagem mais gentil. Portanto, onde quer que trabalhem, as mulheres devem ter um papel mais ativo na promoção do amor e da compaixão em relação aos outros.”
Suicídio e emoções.
Uma das perguntas feitas a Dalai Lama foi sobre como lidar com o suicídio, o maior assassino de homens com menos de 45 anos na Grã-Bretanha. Em resposta, Sua Santidade lembrou que a constante competição por objetivos materiais e a falta de paciência levam à frustração, que se expressa no suicídio:
“Muitos desejos não realizados e frustração podem terminar em suicídio. Na minha vida, enfrentei muitos problemas, mas acho que a educação e o aprendizado de trabalhar com a mente fizeram a diferença para mim.
O verdadeiro destruidor de nossa paz de espírito, o que prejudica nossa saúde e bem-estar é a raiva e o medo. Mas conseguiremos um corpo e uma mente mais saudáveis, se aprendermos a cultivar a compaixão e o perdão.
Um mestre indiano no passado indicou que nossos inimigos podem ser nossos maiores professores, porque é com eles que aprendemos a desenvolver a paciência.”
Uma prática de meditação, ensinada por Dalai Lama.
Em seguida, pediram a Dalai Lama para recomendar práticas de meditação das quais os policiais poderiam se beneficiar. Ele então começou enfatizando a necessidade de prestar mais atenção à consciência mental.
“As emoções fazem parte da consciência mental, assim como os seus antídotos. Quando você está dormindo e sonha, não há informações sensoriais. Então, se você se familiarizar com isso, poderá usá-lo para meditar. No seu estado de vigília, na meditação, você pode acessar a sua consciência mental, sem a distração sensorial.
Quando você ignora a entrada sensorial, a mente então se sente vazia. E se você se concentrar nisso, há uma sensação de que algo está faltando. A mente aparece como um espelho no qual os pensamentos surgem como reflexos. Concentre-se nisso, para começar por alguns segundos, depois alguns minutos, algumas horas e assim por diante.
Geralmente, em nosso modo de vida materialista, somos escravos de nossos órgãos dos sentidos, mas eles não podem desenvolver sabedoria e compaixão. Para fazer isso, você precisa prestar atenção à consciência mental. Se você desenvolver alguma concentração, verá que isso acalma a mente e melhora seu poder.”
com informações de Dalai Lama
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