
O materialismo da vida moderna e as emoções destrutivas.
Durante o mês de Junho, Dalai Lama realizou diversos encontros virtuais realizados a partir de sua residência, respondendo às perguntas feitas pelos participantes. Várias delas mostravam preocupação quanto às emoções negativas pelas quais, muitas vezes, somos invadidos. Assim, perguntaram a Sua Santidade sobre os problemas que elas acarretam e como podemos evitar que essas emoções destrutivas afetem a felicidade e o bem-estar.
“A educação moderna“, afirmou Dalai Lama, “é orientada apenas para objetivos materiais e,assim, com pouca apreciação do papel da mente e das emoções e de como cultivar nosso mundo interior.” Ele enfatizou que só alcançaremos um mundo pacífico se cultivarmos primeiro a paz de espírito dentro de nós mesmos.
Como reduzir a influência das emoções negativas.
Dalai Lama explica que umas das principais causas para o surgimento das emoções negativas é a valorização excessiva do ego. Ou seja, quando deixamos que todas as nossas atitudes sejam voltadas apenas para o nosso próprio benefício, sem dar importância ou valor aos demais seres que compartilham conosco a vida.
“A raiva e o ciúme, que são emoções destrutivas, baseiam-se no fato de termos um forte senso de ‘eu’. Portanto, cultivar um entendimento de abnegação reduz a influência que emoções destrutivas têm sobre nós.”, ele orienta.
Vemos, portanto, que atitudes pautadas na solidariedade e no altruísmo – ou seja, no bem dedicado aos outros – em que conseguimos superar as tendências egoísticas da personalidade, não só leva benefício aos outros seres mas também beneficia a nós próprios.
Sua Santidade contou, também, como ele começa o seu dia, de modo a evitar que o personalismo do ego se instale: “Então, quando acordo, pergunto-me: ‘Onde está o ‘eu’? Onde está o ‘eu’? Onde fica o Dalai Lama?’.
Mas não consigo encontrá-lo, e percebo que é apenas uma designação, e isso afrouxa o domínio de emoções negativas como raiva, medo e ciúmes. Essas emoções são negativas porque destroem nossa paz de espírito e, dessa forma, prejudicam nossa saúde. Por outro lado, emoções positivas como ‘karuna’ – compaixão – são baseadas e podem ser fortalecidas pela razão.”
Precisamos entender a causa das nossas emoções.
“Se você sente raiva ou medo, mas analisa sobre quem ou o quê você focaliza a raiva ou tem medo, verá que seus sentimentos são projeções mentais. É por isso que aqueles que lhe causam problemas oferecem oportunidades para cultivar paciência e compaixão. E é por isso que dizemos que seu inimigo pode ser seu professor.”, continua Dalai Lama.
“A raiva e o medo fazem parte de nossa paisagem mental mas, através da meditação, podemos desenvolver a convicção de que tais emoções negativas são inúteis. Precisamos aprender como alcançar a paz de espírito. Porque as emoções negativas merecem a culpa por muitos dos problemas que enfrentamos, e podemos aprender como reduzi-los através da análise. Portanto, temos muito trabalho a fazer no campo emocional.
“Só alcançaremos um mundo pacífico se cultivarmos primeiro a paz de espírito dentro de nós mesmos.” – Dalai Lama
Como geralmente não temos uma compreensão do nosso mundo interior, faríamos bem em encontrar uma maneira de incorporá-lo ao currículo educacional, do jardim de infância à universidade. Pequenos começos podem levar a uma compreensão completa e sofisticada da mente, assim como uma única semente cresce e se transforma em uma grande árvore.”
Educar o coração ou educar a mente? Como combater as emoções destrutivas.
Dalai Lama foi questionado sobre a diferença que existe entre educar o coração e educar a mente, ao que respondeu: “Temos que examinar quais emoções são úteis e quais são prejudiciais. Algumas, como a compaixão, devemos aprender a melhorar, enquanto outras, como a raiva e o medo, devemos aprender a reduzir. As emoções têm causas e precisamos entender o que são.
Isso não pode ser feito apenas através da oração; nós temos que usar nossa inteligência. Se estamos saudáveis ou não está relacionado a ter um conhecimento mais detalhado de nossas mentes. Precisamos analisar a mente, usar nossa sabedoria humana, examinar quais emoções são úteis e quais são prejudiciais.
Também precisamos examinar as causas de nossas emoções. Pergunte a si mesmo o que causa raiva em você e qual é a fonte da compaixão. Isso é algo para se pensar profundamente. Como resultado, poderemos melhorar as causas das emoções positivas e reduzir as fontes daquelas que são negativas.”
Em conclusão, Dalai Lama explica que a meditação e exercícios para controlar a respiração podem nos ajudar a focar na própria mente: comece praticando por alguns segundos, depois estenda para alguns minutos.
Com a mente livre de pensamentos intrusivos, começa, então, a surgir respostas para as questões emocionais que podemos transformar e equilibrar para melhorar nossa qualidade de vida.
Noemi C. Carvalho
fonte: Dalai Lama