
Estudos indicam que quanto mais coisas queremos realizar para alcançar a felicidade maior a sensação que não teremos tempo suficiente para realizar tudo.
Recentemente publicamos o post A felicidade pode ser considerada uma meta de vida? baseado na reportagem de David Robson, da BBC Future, que fala sobre a relação inversamente proporcional entre esforço e atingimento do objetivo quando o assunto é ser feliz: quanto mais esforço fazemos para alcançar a felicidade mais ela se afasta de nós.
Na parte seguinte da reportagem, o foco é dado ao tempo e sua relação com a felicidade.
Sam Maglio, da Universidade de Toronto, e Aekyoung Kim, da Rutgers University, verificaram em seus estudos sobre a felicidade um padrão consistente: o sentimento de falta de tempo enquanto se busca a felicidade.
De acordo com eles, um grande conjunto de dados internacionais mostrou que cerca de 70% das pessoas classificaram a felicidade como importante, e apenas 1% relatou que nunca pensou nela.
Para os pesquisadores, “a felicidade pode ser conceituada como um estado afetivo positivo ou como uma meta cuja busca ironicamente afasta o perseguidor de alcançá-la. Ao contrário de outros objetivos, buscar a felicidade raramente leva à conquista da felicidade.”
Quanto tempo leva para alcançar a felicidade?
Num de seus estudos, Maglio pediu aos participantes que fizessem uma lista com dez itens, dizendo o que eles gostariam de realizar para sentirem felizes, podendo incluir ações corriqueiras que eles gostavam, como estar com a família ou amigos.
O resultado mostrou que a preocupação maior era com a limitação de tempo para realizar tudo que gostariam, em função do desejo demonstrado de aumentar cada vez mais os níveis de felicidade.
“O problema, diz Maglio, é que a felicidade é uma espécie de meta nebulosa e comovente – é muito difícil sentir que você atingiu a felicidade máxima e, mesmo que se sinta satisfeito, quer prolongar esse sentimento. O resultado é que você sempre tem mais a fazer. “A felicidade passa de algo agradável que eu posso desfrutar agora, para algo pesado que eu tenho que continuar trabalhando mais e mais e mais”, diz Maglio.“
Perseguir um objetivo requer um investimento de tempo, e a felicidade é um objetivo que, para a maioria das pessoas, nunca é plenamente realizado. A busca contínua pela felicidade, leva as pessoas a dedicar cada vez mais tempo para atingir o resultado, o que as faz sentir como se tivessem cada vez menos tempo disponível.
O retrato da felicidade nas mídias sociais
Outro ponto abordado por Maglio diz respeito à forma como as pessoas utilizam as mídias sociais. Ele acredita que as pessoas poderiam ser mais felizes se não se definissem pelos padrões exibidos de como viver uma vida feliz, saudável, ativa e divertida, sobretudo levando em consideração que muitas vezes essas imagens nem mesmo correspondem à realidade.
“Se você é constantemente lembrado de seu amigo neste local exótico ou naquele jantar chique, acho que isso pode servir como um lembrete de que outras pessoas são mais felizes do que você – e dar o pontapé inicial na meta de felicidade novamente”, disse Maglio. “Eu definitivamente acho que esse desejo de felicidade está aumentando hoje em dia.”
Leia aqui:
Segundo os resultados observados nos estudos, a busca pela felicidade se torna um processo que muitas vezes leva as pessoas a monitorarem não apenas pensamentos felizes, mas também pensamentos infelizes. A negatividade tem a tendência a ganhar mais saliência, o que faz com que as pessoas se sintam mais infelizes. Isto leva à conclusão que um esforço para alcançar maior felicidade não apenas pode falhar em aumentar a felicidade, mas também pode diminuí-la.
Estes estudos reforçam a concepção que costumamos abordar em nossas publicações: a felicidade, na verdade, não é uma coisa a ser conquistada externamente; é um sentimento a ser expandido de dentro para fora.
Noemi C. Carvalho
com informações de BBC Future e Springer Link