
Um mundo de solidariedade não se faz sozinho.
É comum ouvirmos pessoas dizendo que gostariam que o mundo fosse mais humano, que o mundo seria melhor se houvesse mais solidariedade. Sem dúvida, isso é uma grande verdade. Mas também é verdade que pode não ser fácil perceber – com os olhos da alma e o sentimento do coração – as necessidades dos outros, para que então se desencadeie a prática do bem.
Existem, é claro, as situações que se escancaram à nossa frente, como, por exemplo dos moradores de rua, dos pedintes nas esquinas. Mas outras não são tão explícitas e nem mesmo as percebemos.
O bem é uma prática de entendimento.
Muitas pessoas sentem vergonha de pedir, ainda que precisem do agasalho que aquece, do prato de comida que sustenta a vida. Ou até de uma breve conversa que acalenta a alma, traz conforto e renova a esperança.
Às vezes nos sentimos incapazes de ajudar por não dispormos de recursos materiais suficientes ou acreditarmos que não temos palavras benfazejas. Muitos dos infelizes necessitados, certamente, precisam de um auxílio mais adequado à sua situação. Encontram-se, em toda parte, aqueles de índole violenta ou os que se prenderam nas malhas da dependência química. Também, não podemos esquecer, há os que estão sob a forte influência de obsessores.
Mas existem muitas pessoas corretas, de bons princípios morais, que caíram numa situação infeliz seja por consequência de atos da vida presente ou de existências anteriores. Para esses, talvez perguntar se precisa de algo e ouvir um pouco de sua história faz com que, assim, se sinta “visto”, não se sinta desprezado e julgado. Um pouco de consideração pode ajudar para que se erga moralmente e não resvale em caminhos sombrios e sem volta.
É certo, também, que não podemos ultrapassar os limites da consideração, de modo a não deixar o outro em situação constrangedora. E existem as provações individuais nas quais não podemos interferir diretamente.
Mas, como explica Emmanuel¹, “efetivamente, não possuímos fortuna capaz de suprimir-lhes todos os problemas de ordem material e nem as leis do Universo conferem a alguém o poder de atravessar por nós o dédalo das provas de que somos carecedores; entretanto, podemos empregar verbo e atitude, olhos e ouvidos, pés e mãos, de maneira constante, na obra do entendimento.”
Não espere o amanhã para começar a praticar o bem.
Outras situações normais do dia a dia muitas vezes nos passam despercebidas como oportunidade que se apresentam para que se desencadeie o bem.
Emmanuel dá a seguinte orientação: “inicia-te no apostolado da confraternização, meditando nas dificuldades aparentemente insignificantes de cada um, se nutres o desejo de auxiliar.”
Certas vezes não nos sentimos bem atendidos em algum serviço que nos prestaram. Mas antes de reclamar ou emitir pensamentos de desagrado e reprovação, devemos lembrar que a pessoa em questão pode estar passando por dificuldades que lhe tiram a concentração ou a energia para realizar o seu trabalho da melhor forma.
Questões preocupantes de saúde, conflitos no lar, cansaço por acúmulo de tarefas ou até mesmo processos de obsessão – a tudo isso, sem dúvida, nós também podemos estar sujeitos. Por isso, o melhor é prestar a solidariedade em forma de paciência, de tolerância e de compreensão.
Deixemos a crítica e a repreensão de lado, pois o julgamento divino tem melhores meios para avaliar e compreender as atitudes. E todo o bem praticado, sob qualquer forma que seja, reverte para nós em vibrações de energias positivas e elevadas.
Como lembra Emmanuel, “todos sonhamos com o império da fraternidade, todos ansiamos por ver funcionando, vitoriosa, a solidariedade entre todos os seres, na exaltação dos mais nobres princípios da Humanidade.
Quase todos, porém, aguardamos palácios e milhões, títulos e honrarias, para contribuir, de algum modo, na grande realização, plenamente esquecidos de que um rio se compõe de fontes pequenas e que nenhum de nós, no que se refere a fazer o melhor, em louvor do bem, deve esperar o amanhã para começar.”
Lembremos sempre do ensinamento de Jesus.
Um outro ponto a ser lembrado no que diz respeito à prática do bem é seguir o ensinamento de Jesus: “não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita”.
Portanto, o bem para ser bem prestado não precisa ser alardeado, nem deve esperar retribuição. Como disse André Luiz²: “Já sentiu você o prazer de ajudar alguém, sem interesse secundário, de modo absoluto, do início ao fim da necessidade, presenciando um sucesso ou uma recuperação?”
O benfeitor ressalta que o serviço a favor de outrem tem importância inavaliável, sobretudo quando cumprido integralmente, sem a mínima ideia de compensação.
“Ocasiões não faltam”, diz o mentor espiritual. “Ombreamos diariamente multidões de doentes, desabrigados, famintos, nus, obsessos e desorientados. Você pode até mesmo escolher a empreitada que pretenda chamar para si.”
Compreender e ajudar o próximo dá significado à vida.
E ainda mais que o alento sentido por quem é beneficiado, nós mesmos somos beneficiários de formas que nem sequer nos passariam à mente.
Pois, como diz André Luiz, “há um encanto particular em sermos protagonistas ou colaboradores efetivos das vitórias do próximo. Em muitas ocasiões, não há melhor estimulante à vida e ao trabalho.
Para legiões de criaturas, essa obra de benemerência completa e oculta é a fórmula para restaurarem a confiança em Deus, cujas leis de amor funcionam pela marca do anonimato, em bases impessoais.”
Nessas atitudes voltadas ao bem e por exclusiva dedicação ao bem, muitos encontram “o esquecimento de sombras, a significação da utilidade pessoal e a equação ideal do contentamento de viver”, diz o autor espiritual.
André Luiz com suas palavras de sabedoria, continua: “Quando inconformidade ou monotonia lhe desfigurem a paisagem interior, dinamize o seu poder de auxiliar.
Semeie sacrifícios e colha sorrisos. Dê suas posses e receba a alegria que não tem preço.
Tome a iniciativa de oferecer a sua hora e outros virão espontaneamente trazer dias e dias de apoio ao trabalho em que você se empenhou.
Experimente. Desencadeie a causa do bem e o bem responderá mecanicamente com os seus admiráveis efeitos”, finaliza o benfeitor espiritual.
Noemi C. Carvalho
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