
Por que ocorrem as desencarnações coletivas?
Em muitas ocasiões nos deparamos com notícias como terremotos, tsunamis, desastres aéreos, incêndios, epidemias e outros incidentes naturais ou não, onde ocorre um grande número de mortes. São as desencarnações coletivas, cuja ocorrência é explicada pelo espiritismo.
Nesses momentos surgem muitas perguntas: “Por que acontecem coisas desse tipo? Por que Deus permite que essas tragédias aconteçam? O que faz com que algumas pessoas sobrevivam?”
A Lei de Ação e Reação ou Lei de Causa e Efeito.
O Espiritismo explica estes acontecimentos como sendo decorrentes da Lei de Ação e Reação ou Lei de Causa e Efeito, às quais todos nós estamos sujeitos.
O livre-arbítrio nos permite fazer escolhas, e de acordo com estas, geramos resultados distintos. Ou seja, quando as escolhas são de caráter positivo, as consequências advindas também serão da mesma espécie.
Mas quando nossas escolhas são de ordem negativa, gerando sofrimento e dor a outros seres, também estaremos sujeitos a sofrer atos que nos trarão as mesmas consequências dolorosas. As Leis Naturais buscam o equilíbrio e, portanto, se alguém sofre é porque em alguma encarnação anterior também fez sofrer.
Como explica Patrícia Batista, em texto da Associação Espírita Allan Kardec de São José do Rio Preto¹, “é uma Lei que não castiga, mas que reajusta as ações cometidas pelo uso do nosso livre arbítrio. Age, assim, devolvendo o caminhante desviado e perdido ao caminho correto do bem e do progresso, através das encarnações sucessivas.”
A Lei de Evolução ou Lei do Progresso.
Em seguida, Patrícia Batista também se refere a outra da Leis Naturais a que todas as existências estão vinculadas.
“A Lei de Evolução ou do Progresso rege a transformação contínua de tudo o que possui vida, desde os estados rudimentares e inferiores, até formas mais perfeitas e complexas. Por intermédio dessa Lei, o ser humano passou a ser o homem ‘civilizado’ de hoje, abandonando então suas etapas selvagens e primitivas.
Graças à Lei de Evolução e às provas sucessivas às quais ela nos submete em nossas existências múltiplas, nós, seres humanos, vamos corrigindo nossas imperfeições. Transformamos, assim, nossos defeitos e debilidades em virtudes ou qualidades, que nos empurram à conquista da vida espiritual.
A aplicação do nosso livre arbítrio fará com que essa Lei nos faça caminhar pelas trilhas do bem, do amor e da felicidade ou, por outro lado, pelo caminho da dor.”
O equilíbrio decorrente das ações praticadas deve ser mantido.
Desta forma, portanto, observamos que as dores da vida, sobretudo as grandes tragédias que chocam e comovem, têm a finalidade de servir como instrumento de resgate para alguns e de evolução para outros.
A compaixão e a solidariedade, por exemplo, sensibilizam e unem as pessoas, fazendo emergir os sentimentos mais virtuosos e nobres que alavancam a evolução espiritual.
Por outro lado, existem aqueles que se aproveitam desses momentos trágicos para benefício próprio. Estes aumentam, então, os débitos contraídos nesta e provavelmente em outras existências anteriores. Comprometem-se ainda mais e ficam sujeitos a um futuro acerto de sofrimento equivalente, de modo a encontrar o equilíbrio necessário ao atendimento da Lei de Causa e Efeito.
Allan Kardec, em ‘O Evangelho Segundo o Espiritismo’, esclarece: “Não se deve crer, entretanto, que todo sofrimento, porque se passa neste mundo, seja, necessariamente, o indício de uma determinada falta. Trata-se, frequentemente, de simples provas escolhidas pelo Espírito para sua purificação, para acelerar o seu adiantamento.”
Porque muitos morrem quando ainda crianças ou jovens.
As desencarnações coletivas têm ar de tragédia ainda maior quando há crianças e jovens envolvidos. Lamentamos pela vida tão precocemente terminada, sem a possibilidade de crescer, construir, aproveitar a existência terrena em companhia da família e de amigos.
Seria uma injustiça, não estaria Deus olhando pelos inocentes?
Leon Denis, o sucessor de Allan Kardec, explica este questionamento no livro “O problema do Ser, do Destino e da Dor”. Ele relata: “As existências interrompidas prematuramente por causa de acidentes chegaram ao seu termo previsto. São em geral, complementares de existências anteriores, truncadas por causa de abusos ou excessos, quando, em consequências de hábitos desregrados, se gastaram os recursos vitais antes da hora marcada pela natureza.
Tem-se de voltar a perfazer, numa existência mais curta, o lapso de tempo que a existência precedente devia ter normalmente preenchido. Sucede que os seres humanos, que devem dar essa reparação, se reúnem num ponto pela força do destino, para sofrerem, numa morte trágica, as consequências de atos que têm relação com o passado anterior ao nascimento.
Daí, as mortes coletivas, as catástrofes que lançam no mundo um aviso. Aqueles que assim partem, acabaram o tempo que tinham de viver e vão preparar-se para existências melhores.”
Com isto podemos compreender que as desencarnações prematuras, sejam coletivas ou não, podem também apresentar outras causas além da reparação de injustiças cometidas. Ainda assim, podemos considerar que a injustiça foi cometida contra a própria existência cujo desenrolar natural não foi respeitado.
Fatos reais de desencarnações coletivas e suas explicações.
Patrícia Batista seleciona, também, alguns casos de tragédias coletivas, que foram em seguida comentadas em obras mediúnicas. Isso nos possibilitando uma compreensão maior das consequências dos atos que praticamos em vida.
“O notável mediunato de Chico Xavier nos esclarece um fato real, ocorrido em São Paulo, no dia 1º de fevereiro de 1974, data em que o Edifício Joelma se incendiou e deixou 188 mortos.”, conta Patrícia.
“O Espírito Cyro Costa e Cornélio Pires se manifestaram por psicografia e deixaram dois sonetos que revelavam a causa das mortes em massa no incêndio. As vítimas resgatavam os ‘derradeiros resquícios de culpa que ainda traziam na própria alma, remanescentes de compromissos adquiridos em guerra das Cruzadas.’”
A tragédia do circo de Niterói.
“No livro ‘Cartas e Crônicas’, psicografado por Francisco Cândido Xavier, o Espírito Humberto de Campos relata a causa do acidente ocorrido no dia 17 de dezembro de 1961. Nessa data, um circo pegou fogo na cidade de Niterói (Rio de Janeiro) e cerca de 500 pessoas faleceram”, relata Patrícia.
No ano 177 da Era Cristã, Marco Aurélio reinava no império romano. Mulheres, homens, crianças, anciões e enfermos cristãos eram detidos, torturados e exterminados. ‘Mais de 20 mil pessoas já haviam sido mortas’. Chegou a notícia da visita do famoso guerreiro Lúcio Galo naquelas terras e os donos do poder queriam homenageá-lo de maneira grandiosa e original. Decidiram queimar milhares de cristãos num espetáculo ‘à altura’ do visitante.
Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam residências humildes. E, no dia subsequente, ao Sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em correria.
Quase dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento… Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis, que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17 de dezembro de 1961, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo’.”
A explicação de Emmanuel sobre as desencarnações coletivas.
No site da Federação Espírita Brasileira², encontramos a explicação dada por Emmanuel, em reunião pública ocorrida na noite de 23-2-1972, em Uberaba, Minas Gerais. O texto integra o livro ‘Chico Xavier pede licença’, psicografado por Chico Xavier.
Emmanuel responde às perguntas sobre a questão das desencarnações coletivas, sintetizadas da seguinte forma:
“Sendo Deus a Bondade Infinita, por que permite a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como nos casos dos grandes incêndios?”
A resposta dada por Emmanuel foi a seguinte: “Realmente reconhecemos em Deus o Perfeito Amor aliado à Justiça Perfeita. E o Homem, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a Justiça imanente, convertendo-se, em razão disso, em qualquer situação, no mais severo julgador de si próprio.
Quando retornamos da Terra para o Mundo Espiritual, conscientizados nas responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados e rogamos os meios precisos a fim de resgatá-los devidamente.
É assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos compromissados para a redenção múltipla.”
Os débitos assumidos por atitudes em encarnações anteriores.
De forma vibrante e muito elucidativa, Emmanuel continua explicando os motivos que levam à ocorrência das desencarnações coletivas.
“Invasores ilaqueados pela própria ambição, que esmagávamos coletividades na volúpia do saque, tornamos à Terra com encargos diferentes, mas em regime de encontro marcado para a desencarnação conjunta em acidentes públicos.
Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito pessoal, pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o ápice de epidemias arrasadoras.
Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela megalomania do ouro e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração, pleiteamos o Plano Físico a fim de sofrermos a morte de partilha, aparentemente imerecida, em acontecimentos de
sangue e lágrimas.
Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidades na conquista de presas fáceis, em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação.”
Os atos praticados coletivamente também são reparados de forma coletiva.
Emmanuel continua: “Criamos a culpa e nós mesmos engenhamos os processos destinados a extinguir-lhe as consequências. E a Sabedoria Divina se vale dos nossos esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de induzir-nos a estudos e progressos sempre mais amplos no que diga respeito à nossa própria segurança.
É por este motivo que, de todas as calamidades terrestres, o Homem se retira com mais experiência e mais luz no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar a vida.
Lamentemos sem desespero, quantos se fizerem vítimas de desastres que nos confrangem a alma. A dor de todos eles é a nossa dor. Os problemas com que se defrontaram são igualmente nossos.
Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença de Misericórdia Divina junto às ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento é invariavelmente reduzido ao mínimo para cada um de nós, que tudo se renova para o bem de todos e que Deus nos concede sempre o melhor.”
Cada vida é uma liberdade de escolha.
A resposta de Emmanuel nos ajuda a compreender o mecanismo que move as desencarnações coletivas. As vítimas de um evento podem ter sido, por exemplo, guerreiros que destruíram aldeias e cidades, matando milhares de pessoas, inclusive mulheres e crianças. Ou então pessoas que, movidas pela ambição e ganância, não pouparam sofrimento a outros seres.
Estas pessoas, quando voltam ao plano espiritual, têm a consciência dos atos praticados. Sofrem quando confrontados pelo peso da dor imposta cruelmente e pelos sofrimentos que causaram e buscam, então, uma forma de se reajustar.
Assim, na oportunidade de uma nova encarnação, uma atração direcionada pelo plano espiritual permite que pessoas que tenham agindo conjuntamente passem, também em conjunto, por sofrimento semelhante, como forma de se redimir de suas ações inadequadas às divinas leis morais.
A vida é sempre uma oportunidade de agir em cada situação com a qual nos deparamos para que possamos transformar nossos impulsos iniciais, seja de medo, revolta, egoísmo ou arrogância, de modo a agirmos com atitudes pautadas pelo princípios divinos e morais do bem comum.
O sofrimento, portanto, está estreitamente vinculado às nossas escolhas de como viver, diminuindo a cada reencarnação pelos méritos que adquirimos.
A vida, sendo eterna, não nos cobra pelo tempo que nos demoramos para firmar nossos passos nos caminhos do progresso espiritual, pois esta é uma decisão que cabe exclusivamente a nós próprios.
E Deus acompanha nosso trajeto, dando-nos toda a liberdade de fazermos nossas próprias escolhas.
Noemi C. Carvalho
Referências
1 – Associação Espírita Allan Kardec de São José do Rio Preto
2 – FEB – Federação Espírita Brasileira
Muito importante e esclarecedor.