
Divaldo recebe um diagnóstico preocupante.
Divaldo Franco contou sobre um episódio de sua vida, quando uma entidade materializada o operou espiritualmente, curando-o de um grave problema de saúde.
Em 1954, o médium e orador espírita realizava uma série de palestras em São Paulo. Ele percebeu, ao fim das palestras, que sua voz estava com uma tonalidade diferente. Ela estava áspera e rouca e, além disso, Divaldo sentia muita dor em sua garganta.
Além da afonia, o seu pescoço ficou muito inchado e as dores insuportáveis, como agulhadas, pioravam continuamente. Preocupados, alguns amigos o levaram a um célebre médico que o examinou cuidadosamente e aventou a possibilidade de que a fonte das dores, e a consequente afonia, fosse uma neoplasia maligna. Seria necessária a realização de uma biópsia para confirmar ou não o diagnóstico.
A princípio Divaldo não entendeu direito a explicação do médico. Ao ser melhor esclarecido, se deu conta que o nódulo em sua garganta poderia ser um câncer.
Estávamos em 1954, e os exames e tratamentos existentes na época ainda eram muito incipientes e agressivos. Apenas se poderia recorrer à quimioterapia e em casos extremos, à cirurgia.
Uma parada antes de voltar para casa.
Diante desse quadro, Divaldo decidiu então voltar a Salvador para realizar os trâmites necessários para iniciar o tratamento.
Os procedimentos que precisariam se feitos para uma verificação definitiva e a necessária terapêutica para tratar o problema requeriam internação em um hospital.
O instituto onde Divaldo trabalhava possuía um conceituado hospital no Rio de Janeiro e, na época, os casos mais complexos e graves eram encaminhados para a então capital federal.
Antes de seguir para Salvador, Divaldo teve a ideia de fazer uma escala em Belo Horizonte para visitar Chico Xavier, em Pedro Leopoldo. O médium baiano enviou um telegrama para Chico que concordou com a visita, e assim o encontro foi marcado.
O encontro com Chico Xavier.
Chegando a Belo Horizonte Divaldo seguiu para Pedro Leopoldo acompanhado pelos amigos Arnaldo Rocha, Carlos Cavalcanti e José Martins Peralva Sobrinho.
Como de hábito uma multidão aguardava o início dos trabalhos espirituais conduzidos pelo bondoso apóstolo da fé e da caridade.
Ao se encontrarem, Chico perguntou:
– Divaldo, você está rouco, afônico?
– É, Chico, é uma doença misteriosa. A garganta dói-me profundamente, e na área afetada tem um tumor, que o médico desconfia que possa ser um câncer.
– Deus vai ajudar, Divaldo.
Divaldo faz a palestra na reunião, a pedido de Chico.
Em seguida, Chico conduziu todos à reunião que os aguardava para ter início, e todos tomaram seus lugares na mesa. Chico preparava-se para psicografar e, como de costume, enquanto os espíritos escreviam pelas mãos de Chico, sorteava-se um tema do Livro dos Espíritos ou do Evangelho e, após a leitura, iniciavam-se as palestras.
Mas antes de Chico se concentrar, ele se dirige a Divaldo:
-Divaldo, meu filho, eu vou lhe pedir para falar, para fazer a palestra interpretando o Evangelho.
– Mas Chico, estou afônico, não consigo falar, estou muito rouco.
– Faça um esforço meu filho.
Divaldo visivelmente demonstrava dificuldade para proferir a palestra, mas conforme Chico havia solicitado, fez um grande esforço e com lágrimas escorrendo pelo rosto falou por duas horas.
A reunião prosseguia, quando um bilhete chega a Divaldo.
– O Dr. Bezerra está pedindo para você falar até o encerramento da reunião.
E assim foi até o término da reunião, por volta das duas da manhã.
O convite para um cafezinho.
Em seguida, como era de costume quando havia visitantes, Chico convidou todos para ir até a casa de seu irmão, André Luiz, para o cafezinho com broa de milho.
A comitiva seguia pelas ruas escuras de Pedro Leopoldo, conversando. Divaldo fala então para Chico:
– As dores estão muito fortes. Ah, Chico estou tão preocupado com isso…
– Não tem nada não, meu filho, confiança em Deus.
Ao chegar na casa de André, Chico disse ao grupo:
– Antes do café, vamos orar para aplicar um passe no Divaldo.
Tem início mais uma reunião espiritual.
O grupo se dirige a um quarto com o piso de tijolos. Além da porta, o cômodo possuía uma janela onde André estendeu um cobertor para que a claridade não entrasse. O mobiliário humilde era composto por uma cômoda e seis cadeiras.
Chico pegou uma cadeira, ajeitou-a ao lado da cômoda e sentou-se. Divaldo fechou a porta e foi orientado para que encostasse a sua cadeira na porta. Chico pediu, então, que a luz fosse apagada e disse:
– Divaldo, ore, meu filho.
– Chico, está doendo muito, não vou conseguir.
Mas Divaldo fecha os olhos e ora, com a voz rouca quase desaparecendo, com muita fé. Como se orasse com a própria alma, ele começa a se comover, pois era jovem, só tinha 27 anos. Tanta vida pela frente e a possibilidade de estar com câncer na garganta.
Irmã Scheilla se materializa e se apresenta a Divaldo.
O ambiente em total penumbra, Divaldo estava quase terminando o Pai Nosso, quando então ouve-se uma voz feminina, tão clara como pouco antes se ouvira a voz de Chico.
– “Divaldass, abrri os olhos…”
Atônito, Divaldo repassa em pensamento que, além dele, haviam entrado no quarto Chico, André Luiz, Arnaldo Rocha, Carlos Cavalcanti e José Martins Peralva Sobrinho. Não havia nenhuma mulher…
– “Divaldass, abrri os olhos.”
Divaldo então abre olhos.
Ele abre os olhos e, muito comovido vê a materialização de uma jovem que parecia ter idade entre 16 ou 18 anos, loura, cabelo partido ao meio e penteado para trás, olhos azuis. Vestia um avental de enfermeira, possivelmente da primeira guerra. Linda, iluminada, era como se uma luz forte e bela irradiasse de dentro para fora, iluminando também parte do cômodo.
Falando um português misturado com alemão, a jovem entidade diz:
– “Me chame de ‘schwester’ Scheilla, ‘irmão’ Scheilla.”
Divaldo é operado espiritualmente por irmã Scheilla.
– “Agorra, Divaldas, abrri boca.”
Segurando um instrumento muito parecido com uma caneta que possuía uma luz na ponta, ela diz:
– “Venho trratarr seu garrganta, nós vamos prrecisarr muito de seu voz.”
Ela insere aquele desconhecido instrumento na boca de Divaldo e, enquanto isso, explica:
– “Eu vou colocarrr um pouco de rrádio no seu garrganta para cuidarr tumorrzinho. Vai doerr um pouco. Você tem medo de dorr?”
Divaldo, preocupado, indaga:
– Mas vai doer muito?
– “Muito, muito, mas vai ficarr boa. Abrre bem o boca.”
A hábil enfermeira manuseia o equipamento que, acionado, emitiu um forte zumbido. Neste momento, Divaldo grita, depois de sentir a intensa pontada muito quente emitida pelo instrumento que, segundo ele, teria ‘queimado até o perispírito’.
Calmamente, Scheilla retira o aparelho e, com um doce sorriso, diz:
– Vou ‘botarr’ outra vez.
Divaldo prontamente responde:
– Não, não precisa eu já estou bom!
Nesse momento o orador baiano percebe que sua voz estava melhor.
– Vou, ‘abrre’ boca.
Outra aplicação, novo e estrondoso grito. A atenciosa cuidadora pergunta:
– Como está?
Divaldo recebe a cura e um abençoado souvenir de Irmã Scheilla.
A dor passara, a voz estava totalmente recuperada e Divaldo, sentindo-se completamente bem, começa então a chorar. Em seguida, uma grande emoção faz Divaldo exclamar:
– Nossa o que é que eu faço? Isso não está acontecendo… Nós sempre queremos fatos, acontecimentos, e depois queremos a confirmação desses fatos, e depois a reconfirmação. Quando eu sair daqui vou pensar que foi um sonho, uma alucinação, mas estou conseguindo falar, minha voz está boa, não tenho mais dor.
Divaldo extremamente emocionado e maravilhado, em lágrimas, continua:
– Scheilla, me perdoe, mas a alma humana é muito infeliz. Mesmo tendo passado por tudo isso eu vou pensar que foi a minha imaginação. Por favor, você me daria algo para eu levar e ficar, para que quando pensar que foi um sonho eu tenha algo para me convencer?
Scheilla responde:
– “Rasgue um pedaço de meu capa…”
Divaldo consegue recortar um pedaço do tecido que até hoje está no Museu do Espiritismo, na Mansão do Caminho.
A bondade se derrama numa chuva de pétalas.
– “O que mais você gostarria, Divaldass?”
– Scheilla, eu tenho uma amiga suíça que mora no Rio de Janeiro e sempre me fala do edelweiss. Você conhece essa flor?
Ela aquiesceu com a cabeça, levantou a mão e, então, começa a cair sobre Divaldo uma flor aveludada, de um intenso branco. Elas estavam orvalhadas.
Divaldo pega seu lenço do bolso, estende sobre os joelhos e começa então a recolher as preciosas flores.
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Scheilla novamente pergunta a Divaldo:
– “Mais algo, Divaldass?”
Divaldo agradece muito à irmã Scheilla, que lhe diz:
– “Divaldass vamos serr amigos, vamos trrabalharr juntos. Dr. Bezerra de Menezes manda dizerr que tenha muito cuidado com seu voz. Lembrre-se: toda vez que você sentirr cansado do excesso de falarr divulgando a mensagem de Jesus, pense nele e, em seu nome, eu irrei em seu socorro.”
Em seguida, ela se dirigiu para atender José Martins Peralva Sobrinho, Carlos Cavalcanti e Arnaldo Rocha.
Assim que finaliza os atendimentos, Scheilla, flutuando no ar, despede-se até o próximo encontro e, como névoa, dissolve-se, deixando no ar um doce aroma de violetas.
Chico desperta do transe e, com seu jeitinho, pergunta:
– E a voz, Divaldo, como está a garganta, meu filho?
– Ah, Chico, está bem, muito bem!
As flores continuam guardando a lembrança do precioso momento.
Divaldo relata:
– Nunca mais eu fiquei afônico totalmente. Até hoje, fico com a voz cansada porque às vezes falo por 8 ou 10 horas num dia de seminário, e depois faço conferência à noite.
É natural que o instrumento canse, mas afonia nunca. Jamais cancelei uma conferência em 71 anos por afonia, por gripe, resfriado ou qualquer dificuldade, porque quando a coisa vai apertando eu logo chamo a Scheilla.
Este é mais um fato mediúnico extraordinário de Chico Xavier. As abençoadas flores e o lenço que as recolheu até hoje estão guardados no Museu do Espiritismo, na Mansão do Caminho.
José Batista de Carvalho
Baseado em entrevistas de Divaldo Franco