
O andar apressado pela vida pede uma pausa para reflexão.
Andamos pela vida olhando e buscando todas as oportunidades ao nosso redor, mas não raro fechamos os olhos para o nosso verdadeiro caminho, e nem sequer vemos os lírios que florescem no campo de nossa existência. Caminhamos como sonâmbulos, levados pelos ideais sociais e consumistas, deixando adormecida a nossa essência, alheios às reais aspirações da nossa alma.
“E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do Céu.”
Érico Veríssimo
Érico Veríssimo¹ nos recorda do Sermão da Montanha, trazendo para a a vida da sociedade moderna as reflexões milenares, quando diz:
“Quero que abras os olhos, Eugênio, que acordes enquanto é tempo. Peço-te que pegues na minha Bíblia, que está na estante de livros, perto do rádio, e leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a página está marcada com uma tira de papel. Os homens deviam ler e meditar nesse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo, que não trabalham nem fiam e no entanto nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles.
Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar de papo para o ar, esperando que tudo nos caia do Céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Mas precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do Céu.”
O trabalho que coopera com o bem comum dá sentido à vida.
O sucesso e o progresso são inerentes à condição humana, assim como o desejo de ser feliz e viver bem. Uma diferença, entretanto existe quanto ao que move estas aspirações. O sucesso pelo sucesso, o poder pelo poder, a riqueza pela riqueza trazem consigo um rastro de destruição: destroem-se relacionamentos, acaba-se a confiança, despedaçam-se vidas.
“É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Mas precisamos dar um sentido humano às nossas construções.“
Érico Veríssimo
Riqueza, poder e sucesso podem construir comunidades saudáveis quando bem direcionados, são capazes de proporcionar bem-estar e felicidade se bem empregados, pois como diz Veríssimo:
“Não penses que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou que ache que o povo deva viver narcotizado pela esperança da felicidade na ‘outra vida’. Há na Terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos.
Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da persuasão. Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um puro contemplativo.
“Há na Terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos.”
Érico Veríssimo
Quando falo em conquista, quero dizer a conquista de uma situação decente para todas as criaturas humanas, a conquista da paz digna, do espírito de cooperação.”
Precisamos também contemplar os lírios no campo da vida.
“E quando falo em aceitar a vida”, continua Veríssimo, “não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do Mundo.
Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária, do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar. Precisamos, portanto, de criaturas de boa vontade.”
A felicidade pode, certamente, fazer parte da nossa vida. Mas devemos aceitar de boa vontade também as agruras que trazem ventos de tempestade, pois eles nos levam a fortalecer nossas raízes, aumentando nossa firmeza e segurança. E assim nos sentimos mais confiantes para empreender o que nos cabe nesta jornada pelos campos da vida.
Noemi C. Carvalho
1 – Érico Veríssimo, do livro Olhai os Lírios do Campo
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