
Falar dos outros é um hábito comum.
A fofoca é vista como algo muito normal. É falar sobre pessoas que não estão presentes de uma maneira informal, divertida, em geral maliciosa, mas que pode também ser cruel. Cria vínculos entre as pessoas, traz um ar de cumplicidade. Então, será certo dizer que a fofoca é inofensiva?
“A fofoca consiste não somente no ato de fazer afirmações não baseadas em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia mas também em divulgar fatos verídicos da vida de outras pessoas sem o consentimentos das mesmas, independente da intenção de difamação ou de um simples comentário sem fins malignos.”, é o que diz a Wikipedia, que complementa a informação com dados de uma pesquisa da Social Issues Research Centre, de Londres.
De acordo com o instituto de pesquisas londrino, embora seja associado a um comportamento feminino, o hábito de fofocar esteve presente numa porcentagem maior de pessoas do sexo masculino, na pesquisa realizada. Enquanto as mulheres falavam abertamente de “fofoca”, os homens preferiam definir como uma “troca de informações”, usada mais como meio de autoafirmação perante os colegas.
De todo jeito, seja em que perfil se enquadre ou como seja chamada, a fofoca pode ter consequências indesejáveis para o alvo do comentário, mesmo que essa não fosse a intenção. Pode ser uma brincadeira, mas que acaba extrapolando os limites do sadio, um comentário inofensivo que vira munição na boca de outras pessoas.
A esse respeito você pode ler o post Quando sua vida vira um meme e perde toda a graça.
Os diversos tipos de fofoca que existem.
A inocente
O melhor, mesmo, é só falar da pessoa com a própria pessoa. Você pode ter visto ela, digamos de carro novo ou namorado novo, ou até ela pode ter contado para você. Se você passa a informação adiante, sem que ela saiba ou tenha concordado, pode acabar ficando ruim para ela.
A maldosa
Claro que tem também a fofoca maldosa, aquela que destila um veneninho pelos cantos da boca, geralmente fruto da inveja. E depois pode até continuar sem palavras: cutucões e trocas de olhares que dizem mais que mil palavras.
A invejosa
Esse hábito de falar dos outros pode ser também fruto da inveja mal disfarçada pela crítica corrosiva que traz um alívio momentâneo, porque se não posso ter ou ser o que o outro tem ou é, posso acabar um pouco com a vida dele. Fofocar invade a privacidade, pode destruir reputações, relacionamentos, espalha ódio de quem nem se conhece, espalha medo irreal.
A crítica
O fato de fofocar também pode ser um julgamento. Não gostar do jeito da pessoa, de como ela se comporta, de suas atitudes e seu jeito de falar. Melhor então é deixar ela no canto dela e nós ficarmos no nosso. Quem gostar que fique junto.
Os alvos preferidos da fofocas.
Quem costuma despertar esse tipo de comportamento geralmente são pessoas que causam algum tipo de aversão.
Podem ser pessoas muito exibidas, que falam alto, querem ser vistas e admiradas. E têm, naturalmente, seguidores que gostam e se divertem com esse tipo de personalidade.
Outras vezes, a aversão pode ser justamente por pessoas que são exatamente ao contrário: muito quietas, muito tímidas, sempre com um jeito de assustadas. Essas não costumam angariar simpatias, e costumam ficar isoladas.
Pode também acontecer de a pessoa não se enquadrar em nenhum destes extremos. Mas algo não realizado e reprimido atiça a ira fofoqueira: o vizinho que viajou de férias para o exterior de novo, enquanto você está há cinco anos sem tirar férias; a colega que entrou junto com você no trabalho e conseguiu uma promoção; uma conhecida que vai casar enquanto você nem está saindo com alguém; uma mancada de um colega de trabalho, detalhes pessoais de alguém com quem você saiu, as opções são muitas e variadas.
Neste casos, refletem nossas próprias carências e a dificuldade que temos em lidar com elas.
Isto é explicado no post Lições da alma, lições da vida.
Todas as falhas e erros devem ser expostos?
Uma coisa que precisamos pensar antes de expor o erro de alguém, é se nós não incorremos no mesmo erro, ou em algo semelhante. Só pode julgar quem não tem nada a ser julgado – e quem, nesta terra de Deus, já é perfeito? Falar mal do outro é considerar-se melhor, então é bom olhar para si próprio e ver se é perfeito.
“Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”! (João, 8,1-11), já disse Jesus.
“Essa palavra remeteu, de maneira contundente, os conterrâneos de Jesus ao núcleo mais recôndito de sua consciência. Mudaram de posição quando foram remetidos ao espaço sagrado da própria consciência, e todos saíram, a começar pelos mais velhos.
Foram embora sem atirar pedras, certamente, porque se confrontaram com a própria fraqueza, levados a reconhecer sua fragilidade sem a pretensão de parecer o que não é, e, até mesmo, de se defender, encobrindo-se com a condenação e desmoralização do outro.”, diz o Bispo Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Outra coisa muito importante é que a fofoca geralmente é um lado da história. Quando não se sabe o outro lado ou o contexto, acaba sendo uma meia verdade, pode ser uma quase mentira, que se espalha rapidamente.
Aliás, se a fofoca já tinha pernas compridas e se espalhava rapidamente no boca-a-boca, hoje em dia a vida on-line é quase instantânea. É preciso muito critério antes de ser pilhado como um ingênuo crédulo nas teias da falsidade ou da pura maledicência.
Se for de seu interesse, você pode ler este post, que tem relação com o assunto: A busca por likes na redes sociais pode se tornar um tormento para os pets?
Por que será que fofocamos?
Krishnamurti tem uma posição bem firme e dura em relação à fofoca, sobretudo àquela de ordem pessoal, aquela maldosa. Ele começa perguntando:
“Por que será que fofocamos? É porque isto revela os outros a nós? E por que os outros nos deveriam ser revelados? Por que você quer saber dos outros? E por que este extraordinário interesse nos outros? Por que este desejo de interferir com os outros, saber o que os outros estão fazendo, dizendo? É uma mente muito superficial que fofoca, não é? – uma mente inquisitiva que está direcionada erroneamente.”
A fofoca também pode representar a necessidade de afirmação, de se sentir importante por ter sempre “novidades”, estar sempre atento e disposto a compartilhar, para assim ser aceito em um determinado grupo. Leia o post Jamais deixe de ser quem você é para agradar os outros.
As vida das celebridades é um prato cheio para os fofoqueiros.
Essa perguntas que ele faz também levam a pensar nas fofocas que extrapolam o círculo de relacionamentos pessoais: as fofocas sobre celebridades. Saber cada detalhe de suas vidas, o que fazem a cada momento, quase como se passa no filme “O Show de Truman – O Show da Vida“, estrelado por Jim Carrey. Que, aliás, se você não conhece, vale muito a pena assistir.
Esse conhecimento de todas as intimidades das celebridades traz uma sensação de proximidade, é quase como se o tal famoso tomasse café com você todos os dias, mandasse mensagens cada vez que desse um passo. Ao que Krishnamurti retruca:
“Mas nós conhecemos os outros se não conhecemos a nós mesmos? Podemos julgar os outros, se não conhecemos o caminho de nosso próprio pensar, o modo como agimos, o modo como nos comportamos? Por que esta extraordinária preocupação com os outros?”
A distração e a fuga de nós mesmos.
Conhecer a si próprio não é tarefa das mais simples. Conhecer o caminho de nosso pensamento, os labirintos de nossas emoções, encarar nossas frustrações reprimidas, nossos sonhos frustrados. Querer escapar disso tudo, afinal não é de todo incompreensível. Mas chega um momento em que a vida espera de nós uma atitude diferente. Voltando a Krishnamurti:
“Não é uma fuga, realmente, este desejo de descobrir o que os outros estão pensando e sentindo e falar a respeito? Isto não nos oferece uma fuga de nós mesmos? Não existe aí também o desejo de interferir na vida dos outros?
Nossa própria vida não é suficientemente difícil, suficientemente complexa, suficientemente dolorosa, sem lidar com os outros, interferir com os outros? Há tempo para pensar nos outros desta maneira fofoqueira, cruel, feia?”
Não falei que ele foi bem duro com o assunto? Mas é verdade, não é? Quem não tem problemas na vida, quem é que tem uma vida de sonhos, perfeita, magnífica e maravilhosa? Ainda tem que arranjar mais encrenca, ou dificultar a vida dos outros, que também não é fácil?
A vida dos outros não é assunto para conversa fiada.
Existem tantas coisas para se falar, tantos assuntos que podem ser conversados. A vida alheia não é um tema que deve entrar nessa lista.
Essa atitude de sempre reparar e criticar a vida dos outros pode ser um hábito, e pode dar um pouco de trabalho para acabar com ele. Mas todo hábito pode ser mudado. E se sentir dificuldade, é só lembrar – de novo – de Jesus, que disse: “Não nos deixeis cair em tentação.”
Existem muitas coisas para ocupar a mente, e a própria vida. O desenvolvimento pessoal, o autoconhecimento, certamente toma bastante tempo. Basta despertar o interesse e dirigir a atenção para si próprio. Continuando com Krishnamurti, a falta de interesse em si próprio é o que leva as pessoas a esse interesse desmedido pelos outros:
“Eu penso, primeiro de tudo, fofocamos sobre os outros porque não estamos suficientemente interessados no processo de nosso próprio pensar e de nossa própria ação. Queremos ver o que os outros estão fazendo e talvez, falando gentilmente, imitá-los. Em geral, quando fofocamos é para condenar os outros, mas, ampliando caridosamente, é talvez para imitar os outros.
Por que desejamos imitar os outros? Isto tudo não indica uma extraordinária superficialidade de nossa parte? Isto indica inquietude, uma sensação de excitação, superficialidade, falta de interesse real e profundo nas pessoas que nada tem a ver com fofocar.
Pegue a si mesmo da próxima vez em que estiver fofocando sobre alguém; se você estiver atento, isto lhe indicará um pedaço terrível de você mesmo. Não disfarce isto dizendo que você é simplesmente inquisitivo.”
Bem, depois dessa bronca danada, é melhor mesmo refletir bem antes de falar qualquer coisa a respeito de alguém.
7 dicas para você não cair de gaiato numa fofoca.
Vamos ver algumas coisas que podem nos ajudar a não cair nessa armadilha da fofoca:
1 – quando lhe contarem alguma coisa, procure saber se é mesmo verdade, de pessoas e fontes confiáveis
2 – quando a notícia chegar a você, lembre-se que cada conto aumenta um ponto
3 – se você confia em quem lhe contou e acredita que é verdade, mesmo assim lembre-se que existe o outro lado da história que você não conhece
4 – corte o mal pela raiz, pergunte à própria pessoa que lhe contou se é mesmo verdade. Talvez isso a leve a refletir melhor e pensar que ela só está reproduzindo algo de que não tem certeza ou, de todo modo, pode prejudicar outra pessoa
5 – não dê muita atenção a quem lhe conta fofocas. Mostrando seu desinteresse, ela vai diminuir sua atividade nociva
6 – seja verdade ou não, não dê com a língua nos dentes, guarde para si, a não ser que o que você soube possa prejudicar alguém
7 – não seja fofoqueiro – mesmo que você tenha presenciado algo, guarde para você. A crítica pode ser boa quando é construtiva, quando vai corrigir algo, mas também envolve muitos fatores: será que sua percepção está correta? Será o melhor momento agora? O que a pessoa está passando para ter feito isso? Será que esse comentário “inofensivo” não vai tomar outro rumo?
Se você tem dúvidas, guarde seu silêncio e peça a Deus – que tudo sabe – para dar a melhor orientação e encaminhamento a todos os envolvidos.
A melhor atitude frente à fofoca.
Como vimos ao longo do texto, a fofoca, apesar de ser muito comum e considerada normal, pode prejudicar as pessoas. E não só a vítima da fofoca pode sofrer, mas o autor também, pois entra numa onda de energia negativa e de baixa vibração.
Para não ficar preso nessas energias densas, comece colocando em prática as dicas. Quando vier aquele ímpeto de falar de alguém, você pode usar a técnica da “Água da Paz“, que vai lhe dar tempo de refletir e redirecionar sua atitude.
Noemi C. Carvalho