
Os likes são efêmeros e a sensação de felicidade que eles trazem é passageira.
Uma das práticas mais eficientes para encontramos o sentimento de paz e felicidade em nossas vidas não são os likes das redes sociais, pois eles são efêmeros: é o autoconhecimento. Essa recomendação já era feita pelos antigos gregos através da máxima inscrita no do templo de Delfos: “Conhece a ti mesmo” ¹.
O autoconhecimento é a grande aventura na busca pelo que em verdade somos, pela descoberta de todos os elementos fundamentais que precisamos para sermos originais, criativos e, assim, capazes de cumprir os desígnios para os quais aqui viemos.
Esses elementos já estão em nós, assim como as sementes já trazem em seu âmago a árvore. Essas nossas características inatas, essas virtudes, são a nossa essência imortal, a chama eterna, o nosso espírito imortal.
Não há um único espírito igual ao outro. A vida é exuberante, criativa em sua riqueza de originalidades. Cada um de nós tem o seu propósito no Universo, por isso a jornada pela busca dessas virtudes, habilidades e riquezas únicas é muito importante. E cada um de nós, certamente, tem uma contribuição muito importante a dar no grande concerto da vida.
Cada ser humano que se eleva ajuda a elevar toda a humanidade.
Volto a falar da transição planetária, o grande movimento de transformação pelo qual já há algum tempo estamos passando.
Já mencionei em outros textos que estamos em um mundo de provas e expiações. Isto significa, portanto, que as provas se sucedem para averiguar se aqueles que cometeram transgressões às leis divinas estão conseguindo domar as más tendências e evoluindo em sua constituição moral.
Ou, por outro lado, se persistem nos antigos erros e, assim, necessitam passar pelo sofrimento, ou expiação, para vencerem as más inclinações e vícios.
A transição para uma categoria melhor, isto é, o almejado mundo de regeneração, depende exclusivamente da condição da humanidade. Enquanto o mal for predominante no ser humano, continuaremos observando os flagelos que grassam pelo planeta invadirem as nossas vistas e ocuparem as nossas mentes diariamente.
Gandhi certa vez disse que cada ser humano que se eleva ajuda a elevar toda a humanidade. E, sem dúvida, para conseguirmos nos elevar, o autoconhecimento é fundamental. Pois é através dele que vamos gradualmente constatando aquilo que não somos, para descobrirmos o que somos.
Será que é difícil entender isso?
A família é o núcleo fundamental da formação do ser humano.
Conforme citei acima, cada um de nós é um ser único com características originais. A cada encarnação trazemos uma bagagem espiritual, fruto das experiências vividas, dos relacionamentos que tivemos, do que aprendemos sobre as nossas vivências e as emoções relacionadas a elas.
Esse conjunto de informações é o que determina as características necessárias para as nossas encarnações futuras. Porque temos lá o conjunto de tudo que aprendemos, as nossas habilidades, as necessidades que precisaremos suprir e os traumas que precisaremos vencer.
Ao encarnar, essa bagagem – junto com as características da família que nos acolhe, do seu comportamento, da cultura do local, dos costumes da época, entre outros aspectos – é que vai desenvolver a nova personalidade do espírito.
A família é o núcleo fundamental da formação do ser humano, pois, de forma marcante, os pais fornecem diariamente exemplos para as crianças, com as noções iniciais de comportamento e a forma de vida.
Por onde começamos para melhorar o planeta?
Prosseguindo, se quisermos trabalhar para combater o mal e melhorar o planeta o que precisamos fazer? E por onde começar?
Em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, a questão 919 pergunta: “Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?”
A resposta nós já conhecemos: “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”
Para essa resposta breve, Kardec fez novo questionamento: “Conhecemos toda a sabedoria desta máxima; porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?”
Os espíritos de luz assim responderam: “Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma.
Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticou durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que fez, rogando a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria.
Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar…”
Essa deve ser a nossa primeira ação para mudar o mundo. Trabalhemos em nós, através do autoconhecimento, da reforma íntima, nossa liberação dos elementos interiores responsáveis pelas más escolhas e pelos atos nocivos.
Se os likes são efêmeros, o autoconhecimento é uma aquisição duradoura.
Quando falamos de autoconhecimento um alerta deve ser feito: é preciso saber que o objetivo é a descoberta de nossa essência. Isto é, conseguirmos nos despir de tudo que não somos, das máscaras ou personas² que criamos ao longo de nossas existências através da ação do ego.
Na questão 913 de “O Livro dos Espíritos”, os benfeitores espirituais respondem a Kardec que, dentre todos os vícios, o egoísmo é o responsável por todo o mal: “Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos existe o egoísmo. Por mais que luteis contra eles, não chegareis a extirpá-los enquanto não os atacardes pela raiz, enquanto não lhes houverdes destruído a causa.
Que todos os vossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da sociedade. Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades.”
O exagerado culto ao ego nesta sociedade on-line, real-time, possibilita, cada vez mais, que o ser humano se afaste de sua essência. É o resultado de querer mostrar algo que não é, com a finalidade de obter aprovação mais aprovação e likes nas redes sociais.
Sendo um vício, o egoísmo precisará sempre, e de forma mais intensa, ser exercitado para saciar o vácuo interior da fuga de si mesmo. Os likes são efêmeros, não despertam felicidade. Ela reside no nosso ser eterno.
José Batista de Carvalho
Referências
1 – Conhece a ti mesmo
2 – Persona
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