
O esconde-esconde das emoções.
Costumamos esconder as nossas emoções mais fortes não só dos outros, mas de nós mesmos. É uma defesa natural para não sentir o mal-estar que esses sentimentos desencadeiam. Mas nunca sabemos em que momento um gatilho pode acionar o botão de despertar desses monstrinhos que vão de novo infernizar ou até destruir nossa vida.
Todo sentimento muito forte de raiva, de ciúmes, de medo, de inveja traz um sofrimento muito grande para quem o sente. E ninguém gosta de sofrer, não é mesmo? Mas pior que o sofrimento do momento, é o mal que isso nos causa quando fica guardado e vai se alimentando com cada novo episódio.
Thich Nhat Hanh fala sobre a importância de transformar esses sentimentos para que eles não prejudiquem nossa vida: “Cada vez que sentimos uma forte onda de medo, raiva ou ciúme, podemos fazer algo para cuidar dessa energia negativa para ela não nos destruir. Não é preciso haver nenhum conflito entre um elemento e outro de nosso ser. Tem que haver apenas um esforço para cuidar e ser capaz de transformar e precisamos, portanto, ter uma atitude não violenta para com o nosso sofrimento.”
As dores que as emoções trazem podem destruir sua vida.
O que significa essa “atitude não violenta”? É não se recriminar, não se julgar, não se sentir o pior dos mortais. Mas também não achar que isso está certo. Por mais que encontremos razões para justificar nosso sentimento, ele nunca vai ser salutar.
A sensação ruim das emoções negativas desequilibram todo o nosso ser, tanto fisicamente como emocionalmente. Podemos, assim, ficar com dor de cabeça constantemente, sentir tensão na musculatura do pescoço, nos ombros, ficar de mau-humor, irritados com tudo e com todos, não ter disposição para fazer as coisas. Você já sentiu isso alguma vez? Se sentiu, sabe que não é nada bom ficar desse jeito.
Quando os sentimentos já estão estabelecidos há muito tempo, se são muito intensos ou se as condições que os originaram tiverem sido muito traumáticas, o melhor é procurar orientação profissional para poder resolver da forma mais efetiva e se libertar desse mal, pois ele tem grande potencial para destruir sua vida.
Caso contrário, você pode adotar algumas práticas para ajudar a superar esses episódios.
Primeira dica para aliviar as emoções: o perdão.
Guardar sentimentos de rancor e de mágoa podem causar muitos prejuízos à nossa saúde e bem-estar. Para aliviar a tensão causada por eles, uma das opções é adotar e prática do perdão.
O ato de perdoar traz muitos benefícios à nossa vida, mas mesmo assim, sentimos dificuldades em tomar atitudes nesse sentido. É difícil perdoar, porque não é uma coisa que faz parte de nossa rotina, não fomos ensinados ou treinados a fazê-lo costumeiramente. Por que isso aconteceu?
A abordagem dos sentimentos nos costumes da sociedade.
Dependendo da sua idade, é provável que você tenha crescido numa sociedade onde as mulheres tinham que ser educadas, gentis, compreensivas e submissas e, é claro, não podiam expressar, e de preferência nem sentir, qualquer emoção mais forte ou desafiadora.
Quanto aos homens, símbolos de força e dominação, naturalmente não podiam sequer pensar em sentir o que quer que fosse que pudesse denotar fraqueza, afinal “homem não chora”, e poderia se emendar, “não perdoa”.
Os tempos, felizmente, estão mudando, mas os sentimentos trancafiados e o hábito de jogar todos os outros recentemente adquiridos no mesmo calabouço, não vão mudar sozinhos. Isso, de fato, depende de cada um.
As dificuldades e os benefícios de praticar o perdão, para a emoção não destruir sua vida.
Quando deixamos de praticar o perdão, conforme explica nosso colunista Batista, “em meio às dificuldades e durezas do viver, os corações enrijecem e o perdão não é exercitado, mantendo as vidas presas ao passado e aos erros, impedindo a evolução ao ficar preso a pesadas cargas do passado. Chegará um momento, em que de tanto praticar o perdão, você vai perceber que precisa se perdoar por todas as confusões que criou, por todas a más emoções que segurou e lhe feriram. E perceberá que será capaz de fazer isso e quando assim fizer, verá crescer sua autoestima, o seu amor próprio e irá aproximar-se de sua verdadeira essência.”
Louise Hay, fundamentada em sua experiência de vida e nos atendimentos dispensados a inúmeras pessoas, afirma que não podemos ser felizes se guardamos sentimentos negativos que podem destruir nossa vida, pois “pensamentos amargos não criam alegria. Não importa o quanto você possa achar que tem razões para a mágoa, não importa o dano que os outros lhe causaram. Se você insistir em ficar preso ao passado, nunca será livre. O verdadeiro perdão consiste em se libertar da dor. É apenas um ato de libertação da energia negativa à qual você escolheu ficar ligado.”
Hammed, por outro lado, explica que “perdoar não significa esquecer as marcas profundas que nos deixaram, ou mesmo fechar os olhos para a maldade alheia. Muitos de nós ficamos constantemente tentando provar que sempre estivemos certos e que tínhamos toda a razão; outros ficam repisando os erros e as faltas alheias. Mas, se quisermos saúde e paz, libertemo-nos desses fardos pesados, que nos impedem de voar mais alto, para as possibilidades do perdão incondicional.”
Segunda dica para suavizar as tensões emocionais: a meditação.
Quando sabemos que temos gelados blocos de tristeza ou medo no fundo de nosso ser, tentamos fazer com que eles não venham à tona, para assim impedir que tenhamos que sentir o frio sentimento da decepção, o sombrio sentimento do temor, o cinzento sentimento do rancor. Se não estamos envolvidos com alguma tarefa específica e temos um tempo livre, procuramos distrair nossa atenção – e a deles – com qualquer coisa que preencha nossa atenção: músicas, televisão, internet, seja o que for.
Thich Nhat Hanh ensina que o melhor é quando conseguimos “olhar profundamente para qualquer emoção e descobrir a sua verdadeira natureza. Se você puder fazer isso, então será capaz de transformar a emoção.”
Evitamos esse confronto pelo incômodo da sensação que sabemos que vamos sentir, ou por não saber depois como lidar com o que surgir, ou até por nem sabermos exatamente com o que deveríamos nos defrontar.
Nesses casos, praticar um pouco de meditação pode ajudar bastante. Ela pode ajudar simplesmente pelo fato de nos fazer sentir alguns momentos de serenidade. Mas com a prática e constantemente centrando nossa atenção nos pequenos detalhes que estão à nossa volta, nas atividades corriqueiras do nosso dia, iniciamos um hábito de prestar mais atenção a nós mesmos.
Muitas coisas podem nos magoar. Só nós podemos nos libertar.
Como bem afirma Thich Nhat Hanh, “A emoção é apenas uma emoção. Ela vem, permanece por um tempo, e então ela vai embora. Por que devemos nos ferir ou aos outros apenas por causa de uma emoção? Somos muito mais do que as nossas emoções. Quando conseguimos sobreviver a emoções fortes, experimentamos uma paz mais sólida da mente. Uma vez que temos a prática, já não estaremos com medo. A próxima vez que surgir uma forte emoção, será mais fácil.”
A mágoa, segundo a Wikipedia, “é um sentimento de desgosto, pesar, sensação de amargura, tristeza, ressentimento. É um descontentamento que, embora frequentemente brando, pode deixar resquícios que podem durar um bom tempo.“
Para ajudar a suavizar esse conflito você pode fazer alguns exercícios meditativos em poucos minutos.
Um exercício que você faz em poucos minutos.
Costumamos associar a meditação à necessidade de dispor de muito tempo. De fato, quanto mais tempo for dedicado, quanto maior o grau de interiorização que você conseguir, claro que é muito melhor.
Mas quando prestamos atenção nas coisas comuns do dia a dia, observamos tudo com uma simples noção de presença e percebemos cada coisa que está ao nosso redor como algo fora de nós, comandamos nosso pensamento, estamos no poder.
Um exemplo: quando estiver tomando banho, veja o que está ao seu redor – paredes, janela, porta, chuveiro, sabonete, shampoo – só observe. Passe em seguida para as sensações – a temperatura da água, a espuma do sabonete, seu perfume. Tudo está centrado no momento, no aqui, no agora. Agora não existe passado, nem futuro, nem lembranças, nem expectativas. Só uma suave sensação pacífica.
Você pode fazer isso em vários momentos do seu dia: durante uma refeição, ao caminhar por algum lugar, sentado no escritório, na sala, no quarto. Apenas a obervação, sem análise, sem julgamento, sem preocupação. Caso queira saber mais sobre esta prática, leia Como treinar a mente para ter uma vida melhor.
Agora é com você: não deixe a emoção negativa embaçar o brilho e muito menos destruir sua vida.
Você já viu que, sem sombra de dúvida, não vale deixar as sombras das emoções negativas rondando por perto.
Elas mexem com nossa saúde, desequilibram nossas energias, interferem no nosso bem-estar, e pior que tudo isso, podem realmente destruir nossa vida. Em função delas, não temos disposição para nada, a felicidade se afasta, o prazer pela vida diminui.
Exercer o controle sobre as emoções pode não ser tão difícil, mas vai facilitar em muito a vida. Algumas atitudes simples e rápidas podem fazer muita diferença, como você acompanhou ao longo do texto.
Mesmo assim, lembre-se que, sempre que achar necessário, você deve procurar ajuda profissional, evitando que as emoções de negatividade tomem proporções ainda maiores.
Comece agora mesmo a cuidar de você. Somente você pode lustrar a delicada superfície da sua vida para lhe conceder o brilho que ela merece.
Noemi C. Carvalho
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