
Tantas coisas podem estar no silêncio da mente.
O silêncio da mente é o colóquio com a alma. Dizem que é no silêncio interior que encontramos as nossas respostas.
Ali nós nos desligamos da vida, nos isolamos do mundo externo, nos retiramos da frenética atividade mental.
É ali que nos desfazemos de toda a balbúrdia, seja a exterior – que nos vem pelos sentidos, seja a interior – que nos assola pelos pensamentos.
No silêncio interior é que elevamos a nossa vibração, nos unimos à espiritualidade superior, nos ligamos a Deus.
Mas é também nesse retiro íntimo e profundo que podemos nos encontrar com as nossas dores que ali ocultamos.
É ali que podemos nos deparar com os nossos medos, com as antigas mágoas, com os sentimentos reprimidos.
E então, para não sofrer de novo nossos velhos sofrimentos, nós os deixamos ali quietos, em silêncio.
Leia, a seguir, o que pensa Álvaro de Campos sobre não pensar em nada.
Noemi C. Carvalho
Não estou pensando em nada.
Não estou pensando em nada
E essa coisa central, que é coisa nenhuma,
É-me agradável como o ar da noite,
Fresco em contraste com o Verão quente do dia.
Não estou pensando em nada, e que bom!
Pensar em nada
É ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
É viver intimamente
O fluxo e o refluxo da vida…
Não estou pensando em nada.
É como se me tivesse encostado mal.
Uma dor nas costas, ou num lado das costas.
Há um amargo de boca na minha alma:
É que, no fim de contas,
Não estou pensando em nada,
Mas realmente em nada,
Em nada…
Álvaro de Campos
fonte – Arquivo Pessoa – Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).