
Quando tristes recordações dominam o espetáculo da mente.
Numa tarde, pouco antes do dia tornar-se noite, parei minhas atividades e fui sentar-me no espaço livre da minha imaginação. Pensava se, de fato, o bem e o amor tudo podem.
Sentia que era preciso um breve descanso de todas as tarefas e, principalmente, das cansativas indagações que insistiam em açodar minha mente.
Não eram dúvidas, mas os pensamentos recorrentes soavam como cobranças tardias. Eles revelavam um certo inconformismo com vários eventos de outrora, que novamente passavam pela minha mente como um filme.
Embalando as lembranças, uma voz detalhava todas as consequências dos atos, das escolhas e, por vezes, da falta de alguma decisão.
Aparentemente eu não tinha o comando deste espetáculo. Parecia que o maestro desta triste opereta se ocultava por detrás das cortinas e, por mais que eu me esforçasse, não conseguia argumentar para explicar ou me defender.
Como num sonho queria me mover mas, estático, observava o mundo seguir. Enquanto isso, para o meu desencanto, avolumavam-se os discursos e as muitas bocas que os expeliam com a bile da vingança, cercando-me e me paralisando ainda mais.
Aos poucos, o fluxo de acontecimentos foi se transformando num discurso acusatório. E me vi, então, no centro de um escuro tribunal, peculiarmente cercado de paredes, sem nenhuma porta que servisse de mínima esperança de que, em algum momento, eu pudesse me libertar.
Entre a austeridade do juiz e o sarcasmo dos jurados, via em conluio defesa e acusação negociando o trancafiamento das poucas e boas lembranças que iriam se perder de vez para que dessem lugar às mais diversas formas de negativos pensamentos que alicerçariam futuras desavenças e sofrimentos.
Os bons momentos são a força e energia da vida.
Neste ponto levantei o olhar ao alto, respirei profundamente.
Em seguida, com toda a desesperada força que ainda possuía, agarrei-me a algumas das boas lembranças que tivessem me despertado algum sentimento bom e acalentado contentamento.
Busquei, assim, trazer as imagens e impressões que me marcaram, a sensação da temperatura, do aroma, da luz que dominava a cena.
Fixando-me neste contexto, percebi, então, que algo em mim tomava forma: minha pele se arrepiou, uma força foi se expandindo por dentro, tirando toda a opressão e o medo.
E, finalmente, de minha garganta brotou um grito que dominou totalmente o lúgubre tribunal, dissolvendo todas as terríveis figuras.
Afastou, assim, as acusações que me abatiam e esfacelavam minha autoestima, proporcionando-me a força para tomar as rédeas de meu destino através da tranquila mente e dos apaziguados sentidos.
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Percebi que o bem e o amor tudo podem.
Não importa que muitas vezes estejam soterrados pela negatividade e inconsciência.
Por menor que sejam, ao serem despertos por um pensamento, por uma lembrança feliz, eles certamente irromperão em nossa vida, afastando tudo o que nos impede de ser quem somos.
José Batista de Carvalho