
Desapego: bom para os outros, bom para nós.
O desapego é um importante elemento que movimenta as engrenagens da prática do bem, da caridade, da compaixão e do auxílio ao próximo. Porque tudo aquilo que não tem utilidade para nós, que fica encostado num canto, pode ser de grande ajuda para alguém. E mesmo o sentimentalismo que nos prende a alguns objetos pode, em certos momentos, exigir de nós uma atitude de desprendimento.
Afinal, desta vida nada levamos além do que está em nosso coração e em nossa mente. E o desapego das coisas materiais, sem dúvida, também facilita a aceitação quando chega o momento de deixarmos na Terra a nossa última posse material: o corpo físico com o qual nos movimentamos, e vivemos.
Este conto de Hilário Silva¹retrata uma situação onde a ação de auxílio do plano espiritual se faz presente quando solicitada, embora por caminhos que nem sempre compreendemos. Por isso, quem não dispõe dos recursos da mediunidade, como a protagonista do conto abaixo, deve refletir profunda e desinteressadamente sobre tudo o que acontece no dia a dia.
Afinal, já diz o ditado, que “Deus escreve certo por linhas tortas”.
Noemi C. Carvalho
O colar de pérolas.
– Avó, ajude-me a fazer o Natal das criancinhas. Acompanha-me. Levo agora a lista aos amigos… Não me abandone.
Da. Olinda Soares frequentava templo espírita contíguo à sua residência. Responsabilizava-se pelas aulas de moral cristã, e saía para solicitar a cooperação de pessoas abastadas a fim de atender à comemoração natalina. E rogava ao amoroso Espírito de sua vovó, Da. Joaquina de Miranda, que a auxiliasse.
Era sábado. À noite, estava de volta, com muitas promessas, mas sem qualquer recurso de substância. Queixando-se ao marido e aos filhos da dureza que encontrara nos corações, recolheu-se ao repouso.
No dia seguinte, pela manhã, Da. Olinda falava no templo espírita a seis dezenas de crianças subnutridas e maltratadas… No momento em que se refere à caridade, entra a pequena Lea, sua filhinha de seis anos, trazendo ao colo precioso colar de pérolas…
Sente um choque. É o colar que pertencera à vovó, fazendeira abastada noutro tempo. Conservava-o como relíquia, nos guardados mais íntimos.
Interrompe-se e tenta alcançar a menina, agora curiosamente rodeada pelas outras. Lea, ante o olhar materno, enche-se de medo. Corre, pálida. Prende-se contudo, o lindo colar ao pega-papéis justaposto a carteira próxima, e as pérolas se espalham pelo chão.
Da. Olinda, desapontada, vai corrigir a filha, mas, ali mesmo, pela sua vidência mediúnica, vislumbra o Espírito de Da. Joaquina. É ela mesma. Comove-se e chora.
A entidade aproxima-se e diz:
– Filha, você não me pediu auxílio para as crianças? Como pode reter esta joia por tanto tempo, diante de tanta necessidade?
E, sem lista alguma, as pérolas soltas deram às crianças menos felizes todo um Natal de alegria, roupa numerosa e pão farto.
Hilário Silva, em “A Vida Escreve”, psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira
Referência
1 – Hilário Silva queria levar os pensamentos da Doutrina Espírita a um número maior de pessoas. Assim, nos pequenos contos de situações do cotidiano, ele insere e transmite as informações do Plano Espiritual, para que elas cheguem com facilidade ao entendimento comum, despertando, na simplicidade de suas mensagens, o convite à reflexão, como explica Emmanuel, no prefácio do livro “A Vida Escreve”.