
É suficiente ler e conhecer o conteúdo do Evangelho?
Podemos ler o Evangelho para conhecer a trajetória de Jesus e os ensinamentos que Ele trouxe, através das narrativas transmitidas pelos seus discípulos. Mas será que apenas ler é suficiente para consolidar o intuito do Mestre Nazareno? Quem comenta esse assunto é o Papa Francisco¹, que lembra uma passagem do Evangelho, quando um escriba se aproxima de Jesus e lhe pergunta:
– Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
Jesus responde, citando as Escrituras, e afirma que o primeiro mandamento é amar a Deus. A partir daí, como consequência natural, segue o segundo mandamento: amar ao próximo como a si mesmo.
O Papa continua dizendo que, “ouvindo esta resposta, o escriba não só a reconhece como justa, mas ao fazê-lo repete quase as mesmas palavras proferidas por Jesus:
– Muito bem, Mestre! É verdade que amá-lo com todo o coração, com toda a mente, e com toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo, é melhor do que todos os holocaustos e os sacrifícios.
Segundo o Pontífice, o fato de o escriba repetir as mesmas palavras de Jesus traz um importante ensinamento: “significa que a Palavra do Senhor não pode ser recebida como uma notícia qualquer. Ela deve ser repetida, assimilada, custodiada.
A tradição monástica usa um termo ousado, mas muito concreto: a Palavra de Deus deve ser ‘ruminada’. Podemos dizer que é tão nutritiva que deve atingir todos os âmbitos da vida: envolver, como diz Jesus hoje, todo o coração, toda a alma, toda a mente, toda a força.
Ela deve ressoar, ecoar dentro de nós. Quando há este eco interior, significa que o Senhor habita no coração. E nos diz, como àquele bom escriba do Evangelho: ‘Você não está longe do Reino de Deus'”, explica o Papa Francisco.
A palavra de Jesus deve ressoar dentro de nós.
Mais importante que ler ou decorar o Evangelho, diz o Papa, é familiarizar-se com os seus ensinamentos, consultá-lo e aplicá-lo diariamente. Pois “o Senhor não procura hábeis comentadores das Escrituras, mas sim corações dóceis que, ao acolherem a sua Palavra, se deixam mudar por dentro.”
Com relação, por exemplo, ao mandamento que diz que é preciso amar a Deus e ao próximo, o Papa afirma que “não basta lê-lo e entendê-lo. É necessário que este mandamento, o ‘grande mandamento’, ressoe dentro de nós, seja assimilado, se torne a voz de nossa consciência.
Então não permanece letra morta, na gaveta do coração, porque o Espírito Santo faz germinar em nós a semente dessa Palavra. E a Palavra de Deus age, está sempre em movimento, é viva e eficaz.
Assim, cada um de nós pode se tornar uma ‘tradução’ viva, diferente e original, da única Palavra de amor que Deus nos doa. Vemos isso na vida dos santos, por exemplo: nenhum é igual ao outro, são todos diferentes, mas todos com a mesma Palavra de Deus”, esclarece o Pontífice.
Que todo encontro seja para doar um pouco de bem.
O Papa convidou a tomar o exemplo do escriba, repetindo as palavras de Jesus. Façamos que elas ressoem em nós: ‘Amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com toda a força e ao próximo como a mim mesmo’.
E além disso, diz o Pontífice, “perguntemo-nos: este mandamento orienta realmente a minha vida? Isso se reflete em meus dias?
Nos fará bem hoje à noite, antes de dormir, fazer um exame de consciência sobre esta Palavra, ver se hoje amamos o Senhor e doamos um pouco de bem a quem encontramos.
Que todo encontro seja para doar um pouco de bem, um pouco de amor que vem dessa Palavra. Que a Virgem Maria, na qual o Verbo de Deus se fez carne, nos ensine a acolher no coração as palavras vivas do Evangelho”, finaliza o Papa Francisco.
Noemi C. Carvalho
Referência
1 – Vatican News (por Mariangela Jaguraba)
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