
Mas por que falar de ostras?
Quando publicamos o post Aprendendo com as borboletas, uma amiga de longa data comentou no Facebook: “E com as ostras…”. Sim, é verdade, também podemos aprender muito com as ostras.
Desde então tive vontade de escrever algo a esse respeito. Monica, não sei se o que agora publico é o que você tinha em mente, mas dedico este post a você.
A ostra, dentro de sua concha dura e resistente que mais se parece com lascas de rochas, tem o corpo macio e delicado, e sua alimentação consiste em filtrar a água para obter os nutrientes que necessita.
Mas quando algum grão de areia ou mesmo um parasita consegue passar e se instala dentro da concha, o pequeno molusco, ferido e invadido, ativa um mecanismo de defesa bem peculiar: libera uma substância – a madrepérola ou nácar – que envolve o intruso com camadas e mais camadas, para preservar o seu corpo indefeso.
E então, depois de cerca de três anos, como resultado desse processo, é formada uma linda pérola.
O que as ostras – e um grande escritor – podem nos ensinar.
Nas pesquisas que fiz sobre esse pequeno ser marinho e sua incrível capacidade de produzir algo tão belo e delicado, encontrei textos do livro de Rubem Alves, intitulado “Ostra feliz não faz pérola“.
Ele conta em seu conto sobre uma colônia de ostras onde todas viviam felizes, exceto uma: “Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: “Ela não sai da sua depressão…”.
Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro de sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor.
O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas asperezas, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o trabalho – por causa da dor que o grão de areia lhe causava.”
E dessa forma a ostra sofredora fez uma linda pérola.
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Podemos transformar a dor em pérolas na nossa jornada espiritual.
Nós também nos deparamos com muitas arestas e pontas ásperas no transcorrer da vida, que nos ferem em nosso âmago, fazem doer nossos sentimentos. Da mesma forma que o grão de areia, não podemos nos livrar do que ocasionou nossa dor, mas podemos revestir essa dor para que ela não nos machuque tanto.
Podemos envolver essa centro de sofrimento com aceitação e compreensão – isso agora faz parte de nossa vida, mas não vamos estagnar nossa vida por causa dessa dor. Ou então podemos transferir uma energia de rancor e mágoa para uma energia de realização, em nosso benefício ou de outrem.
“A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: preciso envolver essa areia pontuada que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas. Ostras felizes não fazem pérolas.” – Rubem Alves
Fazendo referência às Tragédias Gregas, gênero teatral dramático muito difundido na Antiga Grécia, continua Rubem Alves: “Eles não se entregaram ao pessimismo porque foram capazes de transformar a tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável.
A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer.”
A inspiração para muitas ações vem da necessidade de se livrar de uma dor, de substituí-la por algo que consiga espremer aquela dor para fora e exprimir o sentimento apaziguado. Essas ações ocorrem não somente na área das artes e da cultura, mas em ações sociais, em desenvolvimento de novos negócios, em aproveitar oportunidades que a vida nos oferece.
Quando curamos nossas feridas, podemos fazer com que suas cicatrizes se transformem em pérolas que enriquecerão nossa jornada espiritual.
Noemi Cardoso Carvalho
Belas reflexões.
Certamente, muito em consonância com o nosso cotidiano.
Fico muito feliz em constatar que há anos venho produzindo lindas pérolas.
Sem cantos tristes, mas em virtude a simples percepção adquirida com o passar dos anos, cujos grãos de areias ou parasitas que por ventura escaparam a minha vigilância deixaram de provocar dor dando-me a oportunidade de aprimorar a minha sabedoria.
Grato pelo seu compartilhamento