
Aquilo que nos irrita nos outros também está em nós.
Tendemos a ignorar nossas fraquezas, não gostamos de reconhecer as partes de nós que não nos agradam e poderiam ser melhoradas. Mas elas sempre se fazem visíveis, a partir daquilo de nos irrita nos outros.
Entretanto, usamos isto como um artifício para não olharmos para nós mesmos. Usamos a comparação para nos justificarmos: “eu posso não ser suficientemente bom, mas o outro também não é.“
Assim, ressaltamos todas as imperfeições dos outros, ou até mesmo descaracterizamos suas virtudes ou o que fizeram de bom através de uma interpretação que damos ao fato.
Este é um assunto que merece consideração. Então, acompanhe este trecho do livro de Deepak Chopra, “O Efeito Sombra – Encontre o poder escondido em sua verdade“.
Quando a sombra encobre nossos verdadeiros sentimentos.
“Para evitar a sensação de que não somos bons o bastante, enxergamos os que estão ao nosso redor como se não fossem suficientemente bons.
Inúmeros exemplos vêm à mente. Alguns são triviais, enquanto outros são uma questão de vida ou morte. A mais recente atriz de sucesso no cinema é criticada por perder peso demais, enquanto uma nação inteira se torna mais obesa. Movimentos contra a guerra são denunciados como antipatriotas, enquanto todos estão pagando impostos para matar cidadãos de um país que nunca fez mal algum à América.
Assim, todos usam a projeção como uma defesa para evitar olhar para dentro de si mesmos. Percebam que essa é uma defesa inconsciente. O molde da projeção é a seguinte afirmação:
“Não posso admitir o que sinto, então, imagino que você sinta”.
Notar o que nos irrita nos outros é observar nossas imperfeições.
Consequentemente, se você não consegue sentir a própria raiva, rotula um grupo da sociedade como violento e temível. Por exemplo, se você inconscientemente sente uma atração sexual que considera tabu, tal como atração por alguém do mesmo sexo ou pensamentos de infidelidade, você acha que os outros estão direcionando esse tipo de atração a você.
A projeção é muito efetiva. Um falso estado de auto aceitação é criado com base em:
“Eu estou bem, mas você não está”.
No entanto, a auto aceitação se estende a outras pessoas; quando você está bem consigo mesmo, não há motivo para determinar que o outro é que não está bem.
Veja quais são os principais tipos de projeção.
Aqui estão as formas típicas que a projeção pode assumir. Certamente, sempre que um desses comportamentos surgir, há um sentimento oculto na sombra que você não consegue encarar, listado logo abaixo. Assim sendo, vamos a alguns exemplos:
Superioridade. “Eu sei que sou melhor que você. Portanto, você deveria ver e reconhecer isso.”
A superioridade camufla o sentimento de fracasso ou o de que os outros o rejeitariam se soubessem quem você realmente é.
Injustiça. “É uma injustiça que essas coisas ruins aconteçam comigo” ou “Eu não mereço isso.”
A injustiça camufla o sentimento de pecaminosidade ou a sensação de que você é sempre culpado.
Arrogância. “Tenho orgulho demais para me incomodar com você. Até sua presença me irrita.”
A arrogância camufla a raiva acumulada e, abaixo dela, há uma dor profundamente arraigada.
Defensiva. “Você está me atacando, então, não estou ouvindo.”
A defensiva camufla a sensação de que você é indigno e fraco. A menos que você se defenda dos outros, eles começarão a atacá-lo.
Culpar os outros. “Eu não fiz nada. É tudo culpa sua.”
Culpar os outros camufla a sensação de que você está agindo errado e, portanto, deveria se envergonhar.
Idealizar os outros. “Meu pai era como um Deus quando eu era pequeno”, “Minha mãe era a melhor mãe do mundo” ou “O homem com quem eu me casar será o meu herói”.
Idealizar os outros camufla a sensação de que você é uma criança fraca e indefesa e, dessa forma, precisa de proteção e cuidados.
Preconceito. “Ele é um deles, e você sabe como eles são” ou “Cuidado, esse tipo de gente é perigosa.”
O preconceito camufla o sentimento de que você é inferior e merece ser rejeitado.
Ciúme. “Você está pensando em me trair; posso ver isso.”
O ciúme camufla seu próprio impulso de desvio ou um senso de inadequação sexual.
Paranoia. “Eles querem me pegar” ou “Eu vejo a conspiração que ninguém mais vê”.
A paranoia camufla uma ansiedade entranhada e sufocante.
Quando algo irrita nos outros, é para chamar a atenção sobre nós mesmos.
Como você pode ver, a projeção é muito mais sutil do que se imagina. No entanto, é uma porta aberta para a sombra. E uma porta dolorosa, já que aquilo que é visto como falha nos outros mascara seu sentimento em relação a você mesmo. O ideal, certamente, seria que pudéssemos parar de culpar e julgar de uma vez por todas.
Em suma, desfazer a sombra é sempre um processo. Assim sendo, para interromper a projeção, você precisa enxergar o que está fazendo, entrar em contato com o sentimento oculto sob a superfície e fazer as pazes com esse sentimento.”
Deepak Chopra