
Obsessão espiritual, um assunto polêmico.
Certamente você já ouviu falar sobre obsessão espiritual. Este é o tipo de assunto que polariza as atenções, pois é envolto em muitos mistérios e superstições. E percebemos que ultimamente estamos vivendo uma espécie de “epidemia” desse tipo de perturbação.
“O que um Espírito pode fazer sobre um indivíduo, vários Espíritos podem fazê-lo sobre vários indivíduos, simultaneamente, e dar à obsessão um caráter epidêmico…”¹
O que é obsessão?
A obsessão espiritual é a ação dominadora de espíritos desencarnados sobre uma pessoa. Allan Kardec detalha que tal domínio é próprio de espíritos inferiores. Por sua ação insistente, eles interferem na vontade do indivíduo até conseguir o total controle sobre uma pessoa, causando plena perturbação mental.
“A influência é maior do que supomos, porque muito frequentemente são eles que nos dirigem”. ²
Quais são as causas da obsessão?
Para entendermos melhor as causas da obsessão espiritual, precisamos entender que todos nós somos espíritos imortais. Ou seja, sabemos que a vida nunca termina, que ela continua. Quando uma pessoa deixa o seu corpo físico, o espírito que o animava, liberto da matéria, volta para o plano espiritual.
Nesse processo, o espírito leva consigo a soma do que vivenciou e todo aprimoramento que as experiências vividas possibilitaram para o seu progresso. Além disso, é bom lembrar que esse espírito continua sendo ainda muito semelhante ao que era enquanto vivia no mundo material. Isto é, não vira um anjo ao desencarnar.
Sendo assim, uma das causas da obsessão é simplesmente a vontade de algum espírito inferior em fazer o mal. Na sua jornada, o espírito carrega todas as suas peculiaridades, as suas imperfeições, as suas características emocionais. Ele leva consigo a lembrança de todos os afetos e das pessoas queridas, assim como dos adversários e das antipatias.
Desta forma, as obsessões podem ocorrer devido a um espírito carregar alguma mágoa, ressentimento ou ódio. Podem ser, também, por algum desejo de vingança a respeito de algo por que passou ou sofreu enquanto encarnado. Ao se ver livre do corpo esse propósito permanece. E assim, inicia a busca pela pessoa que o prejudicou, que pode inclusive ser a responsável pela sua morte.
Com o objetivo de se vingar, sai em busca do responsável por seu infortúnio. E, ao mesmo tempo, vai elaborando a forma de concluir o seu intento.
O primeiro passo é a emissão de pensamentos visando atingir o seu alvo.
A energia do pensamento repetitivo.
Lembremos que o pensamento é uma energia que vibra e pode, portanto, ser direcionada conforme a vontade de quem o está produzindo.
Imaginemos que nossa mente é como uma estação de rádio e, como tal, é capaz de emitir e captar os pensamentos. Ou seja, nós estamos a todo momento emitindo e captando pensamentos uns do outros, encarnados ou desencarnados.
Um espírito que queira atingir alguém com propósitos negativos fica emitindo repetidamente pensamentos, direcionando-os à sua vítima com a intenção de interferir na sua vontade.
A repetição é uma das características da obsessão espiritual. O espírito fica emitindo repetidas vezes a ideia que ele criou para enredar a pessoa nos seus intentos. Isto pode, de fato, levar a sua vítima ao suicídio ou a uma ruína financeira. Da mesma forma, pode levar a uma aventura amorosa, a uma traição, um acidente ou algum fato que a faça ficar se sentindo culpada por algo que fique insistentemente vindo à lembrança.
A mente da vítima, assim, fica saturada dessas ideias negativas. Elas vão se apoderando da sua vontade e a confunde com relação à origem desses pensamentos que insistentemente brotam, pois não consegue distinguir se são seus, se são verdadeiros ou não.
A sintonia que se mantém com as afinidades energéticas.
Assim, as escolhas da pessoa obsedada são afetadas, levando-a a comportamentos que mais e mais a afundam na negatividade e no vício. Desta forma, ela fica cada vez mais entregue à vontade tirânica do obsessor pois, no processo de sintonia, a vibração negativa se fortalece com a ligação em uma mesma frequência.
No processo de sintonia temos a máxima que os similares se ligam. Portanto, ao manter a afinidade energética com o bem, temos uma melhor possibilidade de defesa contra o mal.
Por outro lado, ao se render às predisposições negativas, ao se entregar a vícios e a atitudes insensíveis, teremos a sintonia e a afinidade com o mal.
Podemos, assim, dizer que não somos apenas o que pensamos. Devemos tomar cuidado pois podemos ser também a soma dos muitos que pensam como nós pensamos.
Tipos de obsessão espiritual.
Allan Kardec cita três tipos distintos de obsessão que se diferenciam entre si pelo nível de intensidade e dominação que os espíritos estão praticando.
1 – Obsessão simples
É quando a vítima tem noção de que está sendo afetada por algo e a questão é espiritual. A ação não é continua, apresenta-se como ímpetos eventuais, geralmente na forma de impaciência, irritação intensa e agressividade.
Ao se perceber afetado, é hora de orar e vigiar. Esse tipo de assédio é sinal que existem brechas por onde influências externas podem interferir no psiquismo.
Observam-se casos de pessoas que, assediadas por obsessão simples, parece que ficam gostando desse seu estado e, assim, acabam presas pela fascinação.
2 – Fascinação
De acordo com Allan Kardec, o processo de fascinação é o tipo mais grave de obsessão, pois interfere e domina o pensamento amplamente. Consegue, inclusive, neutralizar a capacidade de reconhecer e avaliar a origem das ideias que aparecem na mente.
Em função da dificuldade de discernir a origem e a qualidade dos pensamentos, a pessoa “fascinada” não se considera enganada em suas opiniões. Assim, o obsessor consegue manipulá-la e imprimir uma certeza absoluta nas ideações implantadas. E isto impossibilita ao obsedado perceber as incoerências e contradições do seu comportamento.
O espírito obsessor ilude a sua vítima aproveitando-se de suas deficiências morais, enganando-a com visões de grandeza e sucesso. Buscando explorar o orgulho do obsedado e seu amor-próprio inflado, vai dominando cada vez mais a sua presa na convicção de que ele está sempre certo, que não erra.
Em função dessa sensação de infalibilidade, o fascinador consegue facilmente incutir o interesse no obsedado por teorias enganadoras, por doutrinas insensatas e por mistificações.
3 – Subjugação
Aqui temos um processo muito intenso de dominação. O espírito perseguidor conquista um poder muito grande sobre a mente de sua vítima, que perde completamente sua vontade. Assim, ela fica à mercê do domínio total do obsessor.
Uma característica perversa neste tipo de obsessão é que o subjugado tem a consciência de seu comportamento, mas não detém o controle de suas ações. Portanto, não consegue evitá-las, por estar sob o ferrenho controle do obsessor.
Esse tipo de domínio decorre do fato que a vítima geralmente é alguém que se encontra ligada profundamente ao obsessor. Geralmente, isto é devido a um relacionamento do passado que gerou um débito. Esse relacionamento conflituoso criou uma ligação energética entre o obsessor e o obsedado. E isso possibilita haver a sintonia mental que prende ambos em uma insensata vingança.
Se a pessoa nada devesse, se encontraria em melhor condição espiritual, mais avançada, mais elevada. E assim, com uma vibração elevada, o espírito perseguidor seria incapaz de ter acesso mental a essa pessoa.
A vida é a oportunidade de corrigir as imperfeições para a luz interior brilhar.
Precisamos sempre lembrar que somos seres imortais. Somos espíritos que caminham pela eternidade, de encarnação em encarnação, buscando deixar no passado as imperfeições que obstaculizam a nossa luz interior de brilhar.
Ao longo das nossas vidas, os muitos débitos oriundos de nossas impensadas ações geram dívidas, que serão resgatadas justamente perante aqueles que no passado prejudicamos.
Essa é a lei, e além de justa é perfeita, pois dá a cada um segundo suas obras.
José Batista de Carvalho
Referências
1 – “O que um Espírito pode fazer sobre um indivíduo, vários Espíritos podem fazê-lo sobre vários indivíduos, simultaneamente, e dar à obsessão um caráter epidêmico. Uma nuvem de maus Espíritos pode invadir uma localidade, e ali se manifestar de diversas maneiras. Foi uma epidemia desse gênero que maltratou a Judeia ao tempo do Cristo; ora, o Cristo, pela sua imensa superioridade moral, tinha sobre os demônios, ou maus Espíritos, uma superioridade moral tal que lhe bastava ordenar-lhes para se retirarem, para que eles o fizessem, e não empregava para isso nem sinais, nem fórmulas.”
Allan Kardec – Obras Póstumas – Da Obsessão e da possessão, item 60.
2 – Allan Kardec. Livro dos Espíritos, questão 459.