
O que disse mesmo Maquiavel?
Nesta época onde o relativismo moral tornou-se uma prática corriqueira, nada mais causa espanto. Em todos os lugares, cada vez mais observamos a prática de justificar qualquer tipo de comportamento, desde que este possa causar algum benefício, mesmo que para se chegar ao resultado sejam empregados artifícios aéticos. Entretanto, os meios não justificam os fins.
Apesar de ser atribuída a Maquiavel a célebre expressão que “os fins justificam os meios”, em lugar algum do texto de “O Príncipe” encontramos essa frase. Segundo a Wikipedia, o que Maquiavel diz é: ”que o governante deve agir segundo a ética sempre que possível, a partir do conceito de razão de Estado, necessário para a manutenção do poder.”
Entretanto, dentro dessa argumentação, fez-se o entendimento que a orientação é que, para a conquista e manutenção do poder, tudo é aceitável e justificável.
O submundo dos pecados capitais.
Apesar de condenável, hoje o exercício desse preceito encontra-se disseminado por todos os lugares e praticado por muitas pessoas.
Não importa o ambiente ou instituição. A procura obsessiva por alcançar objetivos, sejam estes materiais ou posições em escalas hierárquicas, está incontrolavelmente passando por cima de tudo e de todos.
As pessoas que se aferram a essa prática, em seu delírio conquistador agem de forma desmedida na tentativa de materializar aquilo que desejam.
E para isso incorporam ambição, vaidade, falsidade e qual pecado capital for necessário. Em suas cabeças, a única forma que possuem para a ascensão é se concentrar em seu objetivo, não se importando com o que pisarem em seu caminho.
De maneira sub-reptícia, movem-se no submundo das carências existenciais colhendo fraquezas e inseguranças que irão explorar na hora necessária para cometer suas ações.
A psicologia do bajulador não entende que os meios não justificam os fins.
Eles exploram vaidades, alimentando o vaidoso com elogios premeditados; através de prontas cortesias, encantam com a presteza das falsas gentilezas.
Acercam-se daqueles que podem constituir uma fiel claque que servirá de fonte reprodutora de suas opiniões. E adulam aqueles que se ligam às pessoas que podem lhe abrir as portas do paraíso de seu querer.
O que diz hoje pode não ser coerente com a opinião de amanhã, afinal os ventos podem mudar, e às favas a coerência, pois navegar é preciso.
Mestres em confeccionar e usar as máscaras que lhe servem a seus propósitos, sempre se mostram alegres e participativos, embora a sua cordialidade esteja apenas a serviço daquilo que podem obter como retorno.
Sempre lançam mão da adulação para com aqueles que podem lhe ser úteis, demonstrando companheirismo, solicitude e lealdade. Isso, certamente, só até o instante em que consigam abatê-los para ocupar o lugar que almejam.
Aos que ingenuamente estão vivendo neste mundo, uma advertência: cuidado com aqueles que se mostram prestativos e companheiros. Pois eles podem estar espreitando a ocasião mais propícia para usar contra vocês tudo o que vocês fizeram ou deixaram de fazer, o que falaram e, principalmente, as confidências que em certos momentos se fazem na confiança do pretenso ouvido amigo.
Por isso, não se espante se, em um momento inesperado, o mundo ficar ao avesso e você perceber que a verdade não mais é aquilo que ocorreu. Mas sim uma versão construída para poder preencher lacunas que não podem ser reveladas.
Nestes momentos, apenas a compreensão de que os meios não justificam os fins pode aplacar o ânimo e assegurar a paz e tranquilidade, que servirão de acolhedor travesseiro para a consciência em suas noites de repouso.
José Batista de Carvalho
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