
O orgulho é vencido pela humildade.
Abri “O Evangelho Segundo o Espiritismo” na página onde estão as instruções dos espíritos sobre o orgulho e a humildade. Elas se referem a uma das bem-aventuranças, quando Jesus proclamou: “Bem-aventurados os pobres de espírito pois que deles é o reino dos céus.” (Mateus 5:3) Os pobres de espírito são aqueles de espírito simples, humilde, que vencem o orgulho.
Considerando que essas instruções foram escritas há 157 anos, vemos que elas continuam muito atuais. A humanidade avançou muito na tecnologia. Mas quando falamos em termos de fraternidade e solidariedade, percebemos que quase não saímos de como era quando o Evangelho foi escrito.
Vemos o orgulho arraigado na maioria das pessoas que acreditam ser muito superiores aos outros. E fazem questão de ostentar as suas conquistas materiais divulgando-as presunçosamente, como se fossem uma prova de supremacia e a constatação de ser melhor.
Além da posse dos bens materiais, acreditam que tudo que gostam e fazem é o melhor. Eles pensam que todos os seus familiares, assim como ele, também são especiais e superiores.
O falso brilho dos bens materiais.
As conquistas materiais trazem um ilusório sentimento de realização quando, na verdade, apenas satisfazem desejos que escondem carências interiores.
Essas carências, mascaradas pelo falso brilho dos bens materiais, projetam nos semelhantes a sensação de inferioridade. E este é o grande gatilho para deflagrar a audácia com que agem essas pessoas.
Esse insistente atrevimento impele o orgulhoso a estar sempre intervindo nos diálogos, apresentando seus casos como sendo maiores e mais espetaculares do que os dos outros. Mesmo que sejam acontecimentos de sofrimento e dor, tudo que se refere a ele é muito mais importante e necessariamente deve encerrar todas as discussão.
Além disso, os orgulhosos não têm pudor em lançar indiretas que humilhem. E também usam da hipocrisia quando aquilo que pensam ou sentem pode manchar a autoimagem de perfeição e supremacia.
O êxito maior é vencermos a nós mesmos, não aos outros.
Um outro aspecto do orgulhoso é a habilidade em bajular aqueles que são superiores para conseguir galgar mais benefícios e também mostrar a sua importância por ser íntimo dos poderosos.
Acreditam-se especiais, privilegiados por Deus, que lhes concedeu os bens materiais e a perfeição que os fazem melhores. E não percebem que, na verdade, são tão inferiores e que estão longe do caminho por onde os pés de Jesus trilharam.
Existem os orgulhosos ostensivos, os disfarçados e aqueles que não têm consciência de sua condição. Mas nenhum deles percebe que a verdadeira vitória é a conquista espiritual, que não se alcança através de manipulações, artimanhas, jogos ou conchavos.
Os êxitos espirituais só acontecem quando conseguimos vencer a nós mesmos, não aos outros. São aqueles momentos em que conseguimos sair de nós e nos ligamos aos outros fraternalmente, sem falsidades, fingimentos e mentiras, mas com a presença sincera e amorosa. É quando superamos o orgulho e percorremos a vida com humildade.
Todos temos amigos, mas são poucos aqueles cuja amizade é um laço tão forte que, mesmo distantes, se mantêm ligados e mutuamente auxiliam-se através da lembrança carinhosa, nunca se perdendo no esquecimento das conveniências.
A humildade de Jesus, espírito da mais pura perfeição.
Ao pensarmos no oposto do orgulho temos a humildade, estado maravilhoso de sermos quem em verdade somos, nem mais nem menos. O que somos, com as nossas virtudes inatas, as qualidades que desenvolvemos ao longo das encarnações e as verdadeiras conquistas no campo da espiritualidade. É o despojamento de todo e qualquer sentimento de orgulho, egoísmo e vaidade.
A grandeza de Jesus era que, apesar de ser portador de todas as virtudes, qualidades, conhecimento e sabedoria, apesar de seu Espírito elevado e radiante de amorosa luz e apesar de seu imenso e Divino Poder, trazia aos pés a poeira da humildade. E assim, era entendido por todos e aceito pelos pobres de espírito que necessitavam de cura, de amparo, de atenção e de caridade.
Ser humilde independe de se possuir ou não bens materiais. Ser humilde é saber que aqui chegamos apenas com o espírito e da mesma forma partiremos, apenas com o espírito.
A matéria nos serve de instrumento de aprendizado e de prova. Através da forma como nos relacionamos com o mundo material e as suas atrações é que conseguiremos ou não obter a única conquista que vale a pena: a conquista de nós mesmos sobrepujando o egoísmo, o orgulho, a vaidade e, por conseguinte, todos os vícios, pois são eles frutos desses sentimentos primitivos.
O caminho que São Francisco encontrou para a humildade.
São Francisco abriu mão de toda a fortuna de seu pai. Despojou-se até mesmo de suas valiosas vestes para abraçar a rustica túnica que ele mesmo costurou. E o único adorno que usava era a cruz do Tao, esculpida em madeira e segura por um cordão de tecido, que lhe guardava o peito.
Vestido assim e pés descalços, pela sua fé conseguiu adentrar às suntuosas e riquíssimas dependências do Vaticano e chamar a atenção do Papa Inocêncio III. Este, vendo a grandeza espiritual de Francisco, lhe concedeu a autorização para a fundação de sua ordem.
O Pobre de Deus no deu o seu testemunho. Vivia pelas ruas, sobrevivendo da bondade. E pela pureza de seu coração e pela força da sua fé iniciou a obra para a reconstrução da Igreja de Cristo. Ela ruía sob o peso do ouro e das riquezas que os religiosos ostentavam nas mitras cravejadas de ricas pedras, nas grossas correntes de metais preciosos que portavam grandes crucifixos e nas reluzentes vestimentas alinhavadas a ouro.
Deus não nos pede que o adoremos em grandiosos altares. O verdadeiro altar, onde certamente encontraremos Deus, é o altar de nosso coração, desde que tenhamos a resignação para suportar as provas e a aceitação das expiações que precisaremos passar.
Seguindo as palavras e os exemplos de Jesus e de Francisco, encontraremos, então, a força, a disposição e a paz que nos abrirão as portas para as verdadeiras conquistas, que são e sempre serão as conquistas do Espírito.
José Batista de Carvalho
Referência
– “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, por Allan Kardec – Capítulo VII – Bem-aventurados os pobres de espírito – Instruções dos Espíritos