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Projetamos nos outros aquilo que está em nós mesmos

Nenhum de nós é essencialmente bom ou mau.

Aceitar-se integralmente é um grande desafio. Queremos nos sentir bem, perante nós mesmo e perante os outros, acreditando no ideal que gostaríamos de ser. Mas muitas vezes projetamos nos outros o que está dentro de nós.

Cada um constrói uma imagem com tudo que há de bom e de melhor, com tudo aquilo que admira nos outros, com aquilo que percebe que os outros admiram, e com aquilo que, ao longo de  sua vida, lhe foi ensinado que é o correto.

Esquecemos, entretanto, que a perfeição não é sermos completamente bons e perfeitos. A perfeição é reconhecermos nossa verdadeira composição interior, aperfeiçoar tudo aquilo que achamos bom, mas também notar que temos aspectos que não gostamos.

Mas o que eu tenho que reconhecer em mim?

Precisamos reconhecer que nós sentimos, sim, raiva, inveja, medo, que podemos ser falsos, arrogantes, pretensiosos. Ter a humildade de nos conhecermos, nos aceitarmos e trabalhar nas transformações que acreditamos importantes para o nosso caminho evolutivo.

A partir daí é que podemos construir e moldar a nosso ser para que a imagem idealizada vá se tornando realidade, para que consigamos viver não de aparências, mas de substância interior. Que esse “eu” que queremos ser não seja só uma frágil aparência externa, mas seja uma manifestação espontânea da nossa essência eterna.

Então é só aceitar os meus “defeitos” que já vou ser perfeito como quero?

Claro que não, mas é o passo inicial. Afinal, não podemos corrigir, atenuar, controlar, aquilo que não conhecemos.

De nada adianta negar todos os nossos aspectos menos dignos para deixar – de uma hora para outra – que eles explodam como um vulcão furioso, deixando um rastro de destruição e encobrindo tudo aquilo que acreditamos que era verdade, soterrando a falsa imagem que criamos de nós mesmos.

Esse é um ponto fundamental do autoconhecimento: aceitar os aspectos negativos, reconhecê-los e conhecê-los tão profundamente a ponto de conseguir dominá-los – não reprimi-los –  e usá-los de forma construtiva.

Como assim, usar aspectos negativos de forma construtiva?

Sim, é possível, se soubermos direcioná-los conscientemente.

Eu já percebi, por exemplo, que quando fico muito irritada com alguma coisa, algo que realmente me tira do sério, começo a fazer as coisas com, digamos, mas ímpeto, mais energia. Então, quando percebo esses momentos, aproveito para fazer muitas coisas com essa energia fortemente ativa, tirar o atraso de muitas coisas que eu estava deixando de lado.

Quando você tem uma tarefa a entregar e está chegando o prazo final, repare como você fica muito mais eficiente, a ansiedade em ter que terminar a tarefa faz com que você se concentre mais, acelere seu ritmo, nem por isso deixando de fazer um bom trabalho.

Quando não nos sentimos bem com alguém, já tivemos experiências desagradáveis com essa pessoa, entendemos que nossas ideias e valores não são compatíveis. Sentimos um certo desprezo, uma irritação, uma raiva até, quando estamos próximos. É nossa energia nos protegendo de outra que não nos faz bem, é o alerta de que é melhor nos afastarmos, se possível, ou pelo menos mantermos a vibração elevada para não sermos afetados.

O ideal é justamente saber que temos uma energia que é muito vigorosa, e não deixar ela reprimida, nem usá-la só quando ela vem à tona por causa de um problema. Podemos usá-la conscientemente, para melhorar o nosso desempenho a todo momento.

Tem como reconhecer nossos aspectos negativos?

Uma dos melhores jeitos para perceber e reconhecer esses aspectos mais sombrios da nossa personalidade é justamente através do relacionamento com outras pessoas.

Os outros funcionam como um espelho da nossa imagem, não daquilo quer queremos ser e aparentar, mas daquilo que realmente somos. Aquilo que vemos no outro e que nos incomoda é, na verdade, algo que está preso no fundo de nosso ser e quer vir à tona quando encontra seu semelhante.

Sobre essa questão dos relacionamentos, vou lhes apresentar a opinião de Krishnamurti, que foi um proeminente  filósofo, escritor, orador e educador indiano. Ele se dedicou ao estudo e divulgação de temas capazes de produzir transformações e mudanças positivas na sociedade, entre os quais o autoconhecimento e suas derivações, como o entendimento da mente, do pensamento, das emoções.

Nesse contexto, ele se refere ao significado dos relacionamentos, como uma importante oportunidade de praticar o conhecimento profundo de nós mesmos.

A relação é um espelho onde percebemos aquilo que não reconhecemos

Os relacionamentos são a oportunidade de nos aprofundarmos e adquirirmos a consciência de nós mesmos, conforme explica Krishnamurti:

“O autoconhecimento surge quando estamos conscientes de nós mesmos na relação, que mostra o que somos de momento a momento. A relação é um espelho onde nos vemos como realmente somos.

Mas a maioria de nós é incapaz de olhar para si mesmo como se é na relação porque imediatamente começamos a condenar ou justificar o que vemos. Nós julgamos, avaliamos, comparamos, negamos ou aceitamos, mas nunca observamos de fato o que é, e para muitas pessoas isto parece ser a coisa mais difícil de fazer; no entanto, só isto é o inicio do autoconhecimento.”

Gostamos, inconscientemente, de estar na companhia de pessoas que manifestam os mesmos traços de personalidade que apreciamos, existe uma harmonia e um entendimento mútuo. Por outro lado, sentimos aversão por pessoas que expõem e refletem os traços que temos dificuldade de aceitar em nós, como uma forma de defesa para não chegarmos ao ponto crítico de nossa personalidade.

“Se a pessoa é capaz de olhar a si mesma como ela é neste extraordinário espelho da relação, que não distorce, se a pessoa puder apenas olhar neste espelho com completa atenção e ver realmente o que é, ficar cônscio disto sem condenação, sem julgamento, sem avaliação – e a pessoa faz isto quando há o mais sério interesse – então ela descobrirá que a mente é capaz de se libertar de todo condicionamento; e só então a mente está livre para descobrir aquilo que está além do campo do pensamento.”, continua Krishnamurti.

Todos se beneficiam com a compreensão no relacionamento

Desta forma, os relacionamentos sociais e profissionais são campos de observação, estudo e aprendizado, onde o que conta pontos para nosso aprimoramento não é a observação e crítica do outro, mas a observação e ajustes em nós mesmos.

O relacionamento amoroso, por sua vez, não pode ser visto como uma união entre duas metades incompletas, mas como uma interação entre duas partes inteiras. É uma oportunidade de crescimento conjunto, a partir de uma relação de aceitação e desenvolvimento recíproco.

Pela afinidade existente e pela oportunidade de um contato mais sincero e compreensivo, pode se tornar um meio de crescimento evolutivo extremamente proveitoso para ambos. O respeito permite que cada um seja o que é realmente, sem se anular. A compreensão possibilita o tempo para a assimilação e a prática de novas atitudes.

Mas para funcionar de verdade, é preciso haver reciprocidade: ambos precisam ter a consciência do processo envolvido, estabelecendo o auxílio mútuo e o crescimento conjunto.

Noemi C. Carvalho


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