
Sobem as cortinas, estamos no palco de nossa vida: é hora de rebuscar-se.
Demoramos, por vezes, uma vida inteira para descobrir que desvelamos em público partes de nós mesmos que julgávamos ser de nossos opositores, cruéis combatentes imbuídos em desfazer nossos sonhos e desprezar nossa presença. Mas, certas vezes, é preciso rebuscar-se.
No palco da vida, quando o pano sobe, para espanto nosso não se descortina uma plateia, mas o mais atônito de nosso olhar, refletido no tosco espelho que nos segue e persegue em sonhos que não lembramos e em pesadelos que vivenciamos.
Neste confronto, repetido por vezes, percebemos então que a cada nova apresentação o olhar perde pouco a pouco seu brilho. E no temor de ter a visão escurecida, queremos logo fechar a cortina e assim encerrar o espetáculo.
Na esperança de deixar todo o tormento para trás, logo buscamos outro texto, novo personagem e vestimenta, na tentativa de, assim, poder olhar através do espelho e ver a vida acontecer.
Logo vem nova frustração, pois apenas reencenamos velhas histórias com personagens reciclados e adaptados a uma realidade diferente da sonhada e imaginada em tons de aventura e heroísmo, onde os vilões do cotidiano são enfrentados e derrotados com a audácia da inteligência e a força da sabedoria.
O herói intrépido e jovial está guardado em nossa memória.
Onde está o nosso herói? Figura intrépida, galante, elegante e destemida, onde está?
Talvez perdida nas dobras da memória fincadas pela dor, desprezo e esquecimento? Ou escondido das frustrações calcadas pelo sarcasmo e ironias, que tanto ferem os sentimentos?
Mas além de toda a escuridão dessa floresta terrível, também existe a possibilidade de nosso herói estar se refazendo, buscando forças, para a partir do novo se deixar existir como em verdade é.
Vá fundo, busque em si nas lembranças mais queridas quem você era, e se deixe brincar com liberdade e alegria.
Como faz bem perceber ecoando na lembrança mais tenra as músicas que embalavam as visões de futuro. Projetos repletos de magia e realizações incríveis que abasteciam a fantasia que projetávamos no doce brincar solitário, onde todas as vozes eram nossas e pouca dissonância quebrava a harmonia que empreendíamos ao redor de nosso espaço.
Tempo em que todas a vitórias eram nossas, pois os mocinhos sempre vencem, não importa quão árdua tenha sido a batalha. Aliás, este é um mandamento da jornada do herói.
José Batista de Carvalho
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