
A santa guerreira da França.
A breve vida de Joana D’Arc – ela foi queimada viva quando tinha 19 anos – tem um belo episódio que se passou quando ela conheceu a mulher que chamavam de a Louca de Paris.
A Idade Média foi cenário para muitos horrores, quando ocorreram as Cruzadas e, em seguida, a Inquisição. As batalhas pelo poder, pelos privilégios da dominação, as disputas políticas e as atrocidades em nome da fé vitimavam pessoas e dizimavam aldeias.
No ano de 1412, na cidade francesa de Domrémy, como conta o espírito Miramez¹, “para que o sofrimento não pesasse demasiadamente nos ombros dos sofredores, os Céus se abriram e desceu uma estrela em forma de mulher, com o nome de Joana D’Arc.”
Desde os 13 anos de idade ela ouvia vozes divinas, que a aconselhavam e orientavam. Pelas mensagens que ouvia, soube, então, que devia ajudar a França na Guerra dos Cem Anos, um dos mais longos e sangrentos conflitos da história da humanidade, quando a França tentava recuperar os territórios perdidos para a Inglaterra.
Mas em certo tempo, devido a manobras políticas, foi presa e julgada por diversas acusações de cunho religioso, sendo sentenciada à morte na fogueira.
Posteriormente, o seu processo foi revisto e foram, então, anuladas as acusações de feitiçaria e bruxaria e proclamada a sua inocência. Ela foi canonizada em 1920 pelo Vaticano. Santa Joana d’Arc é atualmente uma das padroeiras da França.
Joana D’Arc conhece a Louca de Paris.
Miramez¹ conta que, nesse tempo, perambulava pelas ruas de Paris uma mulher conhecida como a Louca de Paris. Em certos momentos, quando ela estava lúcida e serena, causava a admiração de todos que a ouviam.
“A filosofia fluía, articulada por palavras que os próprios filhos de Sócrates teriam dificuldade de assimilar”, diz Miramez. Mas quando voltavam os ataques de fúria, “saíam de seus lábios palavrões que o próprio ar se negava a conduzir aos ouvidos humanos.”
Certa vez, estava presa nas masmorras por desacatar alguns inquisidores e defronte à sua cela, estava a cela de Joana D’Arc. A Donzela de Orleans seria retirada para mais alguns dos intermináveis interrogatórios, mas a mulher quis defender a guerreira francesa, tendo um acesso de fúria.
Os soldados, então, por ordem dos Inquisidores, abriram as grades da cela onde estava a Louca de Paris e empurraram Joana D’Arc para dentro, dizendo:
– “Pede a ela que te cure, pois não cansa de dizer que fala com os Anjos!”
O alívio do sofrimento pela cura milagrosa.
Quando então se viu perante a heroína, conta o autor espiritual que “a mulher enfurecida acalmou-se, ajoelhou-se nos pés da heroína e pediu alívio, como mãe relegada aos entulhos da própria natureza, chorando como criança.
Joana passou os olhos como raios em torno da mulher e então viu vultos negros que avançavam como vampiros, sugando tudo que fosse divino, nos divinos centros de força daquela criatura.
Ordenou-lhes, então, em nome do Cristo e dos Santos que sua memória alcançou na hora, falando com energia.
Acariciou a louca como se esta fosse uma criança em braços de mãe extremosa. Beijou a fronte da companheira de angústias e dela se despediu, caminhando para o dever frente aos carrascos do poder temporal.”
Em seguida, a Louca de Paris nunca mais sofreu daqueles acessos, curada pela presença da Pastora de Domrémy. Sempre serena, suas palavras fluíam encantando todos que a ouviam, que comentavam:
– ‘Essa não é a louca? Ela foi curada? Por quem?’ E alguém respondia do meio da multidão: – ‘Foi Joana D’Arc quem expulsou os demônios que estavam com ela’.
Mas ela andava sempre melancólica pelas ruas de Paris, à procura de sua benfeitora, quando então morreu ao ser atropelada por uma carruagem. “No entanto, como ninguém morre – apenas passa de uma dimensão para outra – ela continuou no mundo dos Espíritos procurando Joana D’Arc.”, explica Miramez.
A Louca de Paris reencontra Joana D’Arc.
Numa manhã, aquela que havia sido a Louca de Paris viu uma multidão enfurecida gritando “Queimem a feiticeira!”, e viu, então, Joana D’Arc sendo consumida pelas labaredas, “olhos fitos nos céus e algumas lágrimas escorrendo em suas faces.”
Aproximou-se de sua benfeitora quando “uma voz ressoou em sua mente inquieta: ‘Vá, seja grata àquele coração que pulsa para o Bem da humanidade’.”, narra Miramez, que continua:
“Joana, quando atada ao lenho, poderia ter saído do corpo, mas assim não quis; preferiu, enquanto a queimavam, entrar em prece, pedindo a Deus por seus opositores.
Terminada a rogativa, desprendeu-se do fardo físico e viu a sua protegida enroscada nas labaredas, protegendo o seu coração.
Estendeu os braços e recolheu-a no regaço de Amor, e com um beijo, colocou-a refratária ao sofrimento que a torturava, causado pelas chamas, e, ao lado de um cortejo de estrelas volantes, demandou ao infinito.”
Ao final, os carrascos foram recolher as cinzas de Joana para jogar no rio, e então encontraram o seu coração intacto.
Uma vida iluminada que diminui a escuridão.
Apesar do pouco tempo que viveu e da oposição que encontrou em sua tarefa de restabelecer o equilíbrio e a paz, conta o autor espiritual que “Joana fez tremer os alicerces da escuridão consciencial dos inquisidores, o que aliviou um pouco a severidade nos tribunais.
Os que mofavam nos cárceres, nas masmorras e nos porões do Santo Ofício, cresceram em coragem e em disposição de ânimo, pois a esperança transforma a alma.
Nenhum dos Espíritos de alta categoria vem ao mundo para tirar todo o sofrimento da humanidade. Como a água que tomamos hoje, sabendo que amanhã teremos sede novamente, surgem como alívio, orientando-nos no sentido de encontrarmos a verdadeira fonte, dentro de nós mesmos.”, conclui Miramez.
Em qualquer época, em todas as situações, certamente nunca falta o auxílio divino. Muitos dos sofrimentos são resgates de faltas passadas, mas mesmo assim, sempre vem o amparo e a orientação a quem estiver disposto a recebê-los.
Nem todos têm a oportunidade de conviver com um dos anjos missionários do Senhor em passagem pela Terra. Mas os exemplos de fé, as palavras de esperança e os testemunhos de amor ecoam pelos ares e nos convidam, como disse Miramez, para que encontremos a fonte do bem dentro de nós.
Noemi C. Carvalho
Referências
1 – Fernando Miramez de Olivídeo nasceu na Espanha. Em 1649 chegou ao Brasil e se dedicou a aliviar os sofrimentos físicos e espirituais dos indígenas e dos escravos com quem convivia.
Tornou-se guia espiritual de João Nunes Maia (1923 – 1991), com o qual se identificou numa reunião na União Espírita Mineira (UEM).
– Miramez, no livro “Francisco de Assis”, psicografado por João Nunes Maia
– Wikipedia
– Consagrados de Fátima
– BBC News
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