
A decisão crucial que deve ser tomada: saúde ou economia, o que priorizar?
O que é mais importante preservar durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus: a saúde ou a economia? Essa é uma questão que tem suscitado pesquisas por parte de economistas, sociólogos e estudiosos de outras áreas para que seja encontrada a melhor resposta ao dilema.
Governos ao redor do mundo ficam num impasse entre a obrigação de preservar a saúde da população – exposta a um alto grau de contágio e letalidade do SARS-CoV-2 ou manter a economia estável – não dilatando por tempo prolongado os necessários períodos de quarentena.
A experiência de vários países duramente atingidos pela proliferação do novo coronavírus mostrou que a livre circulação de pessoas esgota a capacidade de atendimento hospitalar, ocasionando, portanto, um maior número de vítimas fatais.
Existe, entretanto, a questão daqueles que precisam trabalhar para a subsistência. Além disso, há a parcela da população que não tem condições de moradia que permita manter o distanciamento social de forma adequada.
Mario Macis é professor de economia na Universidade Johns Hopkins e especialista em economia comportamental. Ele faz uma análise sobre saúde pública, distanciamento social e atividade econômica no contexto da pandemia do novo coronavírus. Leia a seguir.
Que fatores incentivam as pessoas a manterem o distanciamento social prolongado, mesmo que conflite com seus interesses individuais?
É uma combinação de fatores. As medidas de segurança para conter a pandemia evidenciaram que as pessoas são afetadas de maneiras diversas. E que, da mesma forma, respondem de diferentes formas às informações e às orientações.
Aqueles com empregos seguros, que podem trabalhar remotamente e continuam recebendo seu salário, estão tendo mais facilidade em cumprir o distanciamento, é claro. Entretanto, temos as pessoas que estão desempregadas, as que trabalham por conta própria, os empresários, isto é, aquelas cujas rendas estão ameaçadas ou diminuídas. Nesses casos, programas governamentais de proteção social são importantes.
Em segundo lugar, está a questão de até que ponto as pessoas estão dispostas a fazer sacrifícios pessoais pelo bem maior. Uma característica dessa situação é que existe um custo imediato, mas o benefício se verifica a longo prazo, o que pode dificultar o cumprimento das medidas de distanciamento social.
O que os governos podem fazer para incentivar as pessoas a continuarem seguindo as orientações de saúde pública?
Comunicação clara das autoridades, expectativas realistas sobre a natureza prolongada do distanciamento social e garantia de que os benefícios das ações que estamos realizando sejam evidentes são estratégias necessárias para incentivar a observância das normas. Devemos apelar para a mentalidade cívica coletiva, e talvez precisemos usar multas e sanções para desencorajar os transgressores, embora sem exageros, é claro.
Ficou evidente, num estudo em que fui co-autor sobre uma parcela representativa da população italiana, que a expectativa é muito importante.
Assim, pessoas que esperam que as medidas durem um período relativamente curto de tempo – algumas semanas, por exemplo – estão menos dispostas a continuar cumprindo as determinações se as medidas forem estendidas por um longo período. Chamamos isso de “surpresa negativa”.
O oposto também pode ser verdadeiro. As pessoas que esperam que as medidas durem meses, mas descobrem que durarão por um período mais curto, podem ser mais condescendentes.
A conclusão é que gerenciar expectativas é realmente importante. Precisamos evitar, portanto, que as pessoas acreditem que o distanciamento social terminará rapidamente quando não pudermos garantir isso devido à incerteza sobre por quanto tempo as medidas precisarão ser implementadas.
Existem mensagens governamentais que influenciam negativamente o comportamento das pessoas?
As mensagens mistas nunca ajudam e é provável que seja uma das razões do grave surto de covid-19 da Itália. Vimos que pessoas diferentes tinham expectativas diferentes sobre quanto tempo duraria a emergência. Isso também é verdade nos Estados Unidos.
Pesquisas recentes de várias fontes indicam que, embora os americanos agora reconheçam que a covid-19 é uma “grande ameaça”, os democratas estão mais preocupados com isso do que os republicanos.
Isso sugere que as pessoas estão recebendo mensagens diferentes sobre a covid-19 e estão colocando pesos diferentes sobre elas, dependendo de suas tendências políticas.
Isso é preocupante, pois pode levar as pessoas a não tomarem as precauções necessárias devido a uma falsa crença de que a ameaça não é séria. A experiência italiana mostra que esse tipo de falha pode ter um efeito adverso no cumprimento das restrições necessárias.
Como os governantes podem continuar a equilibrar a saúde pública e as preocupações econômicas?
Nos Estados Unidos vimos que os líderes perceberam – alguns antes, outros mais tarde – que não havia realmente um conflito, uma troca entre os dois.
O que quero dizer é que a pandemia é um desafio à saúde pública, mas também é uma grande ameaça para a economia. Para evitar um colapso econômico ainda maior, o distanciamento social está sendo necessário.
Muitos economistas apontaram que o que parece uma troca, na verdade não é. Fazer o que é bom para a saúde pública também é fazer o que é bom para a economia.
Em março, o economista Luigi Zingales fez uma análise de custo-benefício referente à paralisação econômica. Ele conclui que, mesmo sob estimativas conservadoras, os cálculos indicavam que seria melhor manter a economia fechada evitando, assim, as mortes que ocorreriam devido a uma pandemia galopante.
Agora, nos Estado Unidos, estamos em um momento um pouco diferente, porque estamos começando a perguntar quando é o momento apropriado para reabrir. É claro que o custo de parar a economia é alto e não pode durar para sempre.
As perguntas que devemos fazer aos nossos líderes são: “Vocês aproveitaram bem esse tempo e o sacrifício que fizemos, como o usaram para se preparar para o futuro? Vocês nos colocam em uma posição segura para reabrir e retomar a economia?”
do site da Johns Hopkins University – acessado em 11/05/2020
Parece que estamos num verdadeiro e grande dilema!