
Observe se o seu sentimento é mesmo amor.
Quem já não se pegou olhando para o infinito, sentindo o peito apertado, uma doce aflição embalando a respiração e o pensamento girando em volta daquele ser especial que nos tira a paz na distância e faz o mundo caber em um olhar quando abraçados? Será essa a sensação do amor, do apego ou da dependência?
O amor, ah!, esse fantástico e doce sentimento que nos envolve na vida, certamente não há emoção melhor a ser sentida. Bela na simplicidade, essa emoção, contudo, pode transformar o viver em verdadeiro martírio se não for bem cuidada.
O bem cuidar do amor é não confundi-lo com outros sentimentos que podem se parecer muito com ele nas reações que despertam, mas que são muito diferentes nas consequências que geram.
E são essas consequências que, muitas vezes nos afastam de experienciarmos um verdadeiro amor em nossos relacionamentos.
Você está amando ou se apegando a um amor inventado?
O apego é um assunto sério, não é besteirinha de mimados como apressadamente podemos pensar.
Desenvolver apego é algo que está na raiz do nosso desenvolvimento desde o nascimento. Ele é instintivo, e os mecanismos que geram condutas de apego são deflagrados toda a vez que alguma coisa possa parecer uma ameaça a um relacionamento, gerando o medo e a insegurança que uma possível separação possa acontecer.
O psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico John Bowlby, desenvolveu a “teoria do apego” a partir da hipótese de que nossa saúde mental e os problemas de comportamento têm origem na primeira infância.
A teoria indica que já chegamos à vida pré-programados para desenvolver vínculos como um mecanismo de sobrevivência.
Ou seja, o que causa o apego em nossas vidas, é um mecanismo inato de sobrevivência que pode apresentar disfunções de várias ordens, em decorrência de eventuais problemas na infância.
Por isso, precisamos estar atentos para não deixar o apego interferir na vida adulta.
O amor não é uma relação de dependência.
Por isso, se em seu relacionamento você está mais preocupado com o que pode receber de seu parceiro, se está esperando que ele lhe faça feliz, se não consegue viver sem ele, sinto dizer que já está se tornando profundamente dependente.
Neste estado, seu nível de exigência para que o outro esteja sempre provando o quanto lhe ama começa a fazer com que você desenvolva atitudes manipuladoras para tentar exercer um controle indevido sobre a vida de seu parceiro.
Isso, certamente, tira a paz e a harmonia de todos os relacionamentos. Você sofre por acreditar que o outro é o responsável por sua estabilidade e felicidade.
Essa ilusão não se comprova, pois ninguém além de você mesmo pode ser responsável por sua felicidade e equilíbrio. Assim sendo, vem a desilusão acompanhada de frustração e de sofrimento.
O amor verdadeiro é uma expressão de liberdade.
Já o amor, esse não se preocupa com o que o outro possa dar. Ele tem como foco de atenção a felicidade do outro, pois é nela que ele irá se banhar para incorporar mutuamente a sensação de paz, realização e assim em comum, serem felizes.
O amor não exige que o outro mude, mas se esforça para construir juntos um ambiente de harmonia e segurança onde possam se despir de todas as máscaras e fantasias do ego, desnudados de tudo aquilo que cria contrariedades e desavenças, para que ambos se conheçam profundamente e assim, nesse processo de autoconhecimento, possam se encontrar a si mesmos no sensual caminho do amor.
Assim os dois crescem simultaneamente, cada um encontrando a sua própria e verdadeira identidade, tornando-se os seres que em verdade são.
O apego prende, o amor liberta.
José Batista de Carvalho
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