
Numa casa singela, a prática do amor e da caridade.
Esta é a história de um trabalho de desobsessão em uma casa espírita.
Localizada na parte alta de uma pequena cidade do interior do Brasil, uma singela construção se destaca pelas suas brancas paredes que, ao fim do dia, resplandece numa dourada aura ao receber os últimos raios luminosos do sol.
Muitos dos habitantes da cidade, enquanto caminham em seus afazeres diários, lançam o seu olhar para a casinha no alto com profundo respeito e gratidão. E então seguem como que revigorados para os seus destinos.
O motivo do envolvimento das pessoas com a humilde casa deve-se a ela abrigar uma instituição espírita que, ao longo de muitos anos, auxiliou todas as pessoas que a procuram em momentos difíceis de suas vidas. E de lá saem repletas de paz, harmonia e luz.
Os trabalhos espirituais dessa instituição se desenvolvem todas as segundas, quartas e sextas-feiras, em todas as semanas do ano.
Nos dias consagrados ao trabalho, rigorosamente às 20:00h, com os participantes já em seus lugares, iniciam-se as sessões. Uma prece de abertura pede o auxílio e proteção das elevadas entidades espirituais que pontualmente acorrem ao local para que possam cooperar no auxílio dos que tanto necessitam de assistência em suas dificuldades materiais, morais e espirituais.
Um trabalho de desobsessão tem início.
As quartas-feiras, dedicadas ao trabalho de desobsessão, objetivam prestar auxílio para aquelas pessoas que estão passando por fortes desequilíbrios psíquico-espirituais, uma vez que a avaliação das entidades espirituais que assistem aos trabalhos identifique que a causa da desarmonia seja fruto da ação de espíritos que ainda não encontraram a consciência do bem.
Em uma dessas sessões de desobsessão, é levado ao salão onde são realizados os trabalhos um senhor que apresenta perturbações. Ele estava se comportando de forma nociva aos seus familiares e a si mesmo, expondo-se a situações de risco.
Esse senhor é colocado em uma cadeira próxima à mesa onde ficam os médiuns.
Após a oração de abertura e da leitura do Evangelho, o diretor dos trabalhos se aproxima do médium que receberá o espírito que está causando as perturbações no homem obsidiado e solicita, então, que o espírito obsessor se apresente.
Irrompendo o silêncio do ambiente, o espírito rebelde profere uma série de palavras sem sentido, emitindo sons desconexos, evidenciando fortes sentimentos de raiva e violência.
O diretor assume uma postura apaziguadora e, como se fosse um terapeuta dos desencarnados, dirige-se ao espírito e pede que o infortunado irmão diga o motivo da perseguição e o porquê do sofrimento que ele está causando ao irmão ali presente.
O obsessor expõe o seu drama para justificar a sua ação.
O espírito infeliz esbraveja:
– Vocês me chamam de espírito inferior, de obsessor, mas não têm ideia de que estou nesta condição porque fui vítima da inveja e do ódio deste que vocês tratam como pobre coitado.
– Fique calmo, irmão, vocês está entre amigos que querem te ajudar.
– Mas como vocês me ajudarão? Este desgraçado, em outra encarnação me tirou a vida a pretexto de conquistar minha amada e usufruir de minha riqueza. Ardiloso, arquitetou uma série de situações, aproveitando da confiança que eu tinha nele. Enganou-me e, sorrateiro, tirou-me a vida simulando um acidente, que ainda lhe possibilitou assumir ares de herói por tentar me salvar.
O diretor do trabalho suave e calmamente se dirige ao desolado e aflito espírito:
– Querido irmão, em nome de Jesus Cristo, nosso senhor e mestre, lhe peço que procure se acalmar e ficar em paz.
Enquanto o nobre orientador buscava chamar a atenção do infortunado espírito, as venerandas entidades espirituais presentes o envolviam com fluidos e bálsamos espirituais para minorar o seu sofrimento, acalmando-o.
– Meu irmão, prosseguiu o orientador, veja o quanto você está sofrendo. Perceba que esse mal que você está causando não irá reparar todo o sofrimento pelo qual você passou. Sim, você foi vítima dessa pessoa que está aqui. Ele tirou de você o amor querido e toda a sua paz. E sim, ele é o responsável por todo o sofrimento que lhe queima e atormenta.
O trabalho realizado em conjunto com as esferas espirituais.
As entidades de luz cada vez mais envolvem o pobre espírito com a benéfica energia de amor, enquanto o orientador prossegue:
– Veja, meu irmão, hoje você está reivindicando a sua vingança enquanto ele está no corpo físico. Você não percebe que assim procedendo ele, no futuro, virá a ser o seu verdugo cobrando o mal que agora você faz?
O espírito sofredor envolvido pelos eflúvios amorosos da caridosa energia das entidades de luz ali trabalhando, vai se acalmando, enquanto prossegue o orientador:
– Jesus, pregado na cruz, olhando a turba à sua volta ergue o olhar cheio de lágrimas para os céus e clama ao Pai supremo: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem” .
Querido irmão, se não lhe for possível estender a bênção do perdão a este infortunado que o prendeu à vingança, pelo menos procure entender e desculpar a ignorância dele.
Nós, aqui reunidos pelo amor do Cristo, queremos de todo coração que a felicidade volte a fazer parte de você. Há quanto tempo você vive preso a esse sofrimento?
Pense bem, acreditamos que já é tempo de você ter a paz. Peço-lhe, em nome de Jesus que tanto nos ama, que vá em paz, meu irmão.
Dois espíritos têm a oportunidade de encontrar o caminho do bem.
Terminado o trabalho de desobsessão, o médium que recebia o obsessor já não apresentava mais movimentos bruscos. E, com lágrimas escorrendo pelo rosto, a sua voz mediúnica agora calma e serena assim se expressa:
– Há muito tempo que não me chamam de irmão e nem me tratam com tanto carinho e amor como estou agora sendo tratado. Obrigado, boa alma, por muito tempo estava perturbado. Sim, sou um obsessor, um infeliz. Mas eu vou deixá-lo, irei parar com essa loucura que fazia. Vou, mesmo sem saber o melhor destino…
O diretor dos trabalhos conforta o infeliz irmão dizendo:
– Perceba que próximo a você está um amigo espiritual, um anjo que o conduzirá a um local onde você será tratado e cuidado para que todas as chagas que se formaram pelo seu proceder sejam curadas. E logo depois, quando você estiver bem, vai frequentar aulas. Tão logo seja possível e você estiver feliz, gostaríamos que viesse até nós para que possamos partilhar de sua felicidade.
O silêncio voltou a dominar o ambiente, e o diretor da sessão agradeceu a todos que ali estavam pela doação que possibilitou o êxito nos trabalhos. Dirigindo-se ao irmão que era a vítima do obsessor, recomendou que este participasse dos trabalhos e iniciasse os estudos da doutrina. E então, em breve, poderia cooperar com a obra do Senhor e assim amenizar os seus débitos.
Em seguida, com emoção e gratidão, foi proferida a oração de encerramento.
José Batista de Carvalho
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