
Os programas mentais que interferem na nossa realidade.
Os relacionamentos, desde que nascemos, são importantes para o nosso desenvolvimento, pois nos dão a oportunidade de estabelecer laços de confiança e aprender a lidar com as nossas emoções. Mas viver de modo a ter sempre a aprovação dos outros não vai trazer a felicidade que imaginamos ao nos sentirmos aceitos e admirados.
Don Miguel Ruiz¹ explica que nós temos um poder de criar tão grande, que tudo aquilo em que acreditamos se torna realidade. E é assim que nós criamos a nossa própria mitologia pessoal, composta de heróis e vilões, de anjos e demônios, de reis e plebeus.
Mas isso tudo não surge de uma hora para outra. Nós somos moldados desde crianças pelos adultos, de acordo com suas próprias crenças, por um processo de repetição que se vale de um sistema de punição e recompensa.
“É desse modo que se processa o aprendizado. É desse modo que se programa uma mente humana. O problema é esse programa, as informações que temos armazenadas na mente.”, diz Dom Miguel.
Criamos muitas imagens de nós mesmos para conseguir a aprovação dos outros.
No começo, vamos adaptando as nossas atitudes de modo a evitar a punição, mas depois começamos a nos preocupar com o fato que podemos não ser recompensados.
Em seguida, sentimos a necessidade de aprovação, “logo esquecemos quem realmente somos e começamos a viver nossas imagens. Não criamos apenas uma imagem, mas várias, de acordo com os diferentes grupos de pessoas com quem nos relacionamos. Criamos uma imagem para nossa casa, outra para a escola e, quando nos tornamos adultos, criamos muitas mais.”, afirma Dom Miguel.
É claro que esse tipo de comportamento causa ansiedade, porque ele não é natural. Vivemos uma mentira e, mais que isso, uma mentira para cada ocasião, o que exige muito esforço mental. E ao mesmo tempo que fingimos ou tentamos ser muitas coisas, sentimos um grande vazio porque sabemos que todos esses nossos ‘eus’ são frágeis e inconstantes.
E é assim que criamos sofrimento, pensando que estamos criando felicidade. É claro que isso não funciona, porque é inútil tentar lotear nossa felicidade nesses vários personagens que, ao final, são todos fictícios e por isso não se sustentam, são cascas vazias.
Só existe uma essência que nos preenche e nos sustenta, uma alma que aspira ao verdadeiro sentimento da felicidade, e é só ela que pode realizá-lo.
Vivemos um sonho coletivo e esquecemos de nosso verdadeiro ser.
Dom Miguel continua explicando que, “do ponto de vista tolteca, tudo aquilo que acreditamos a respeito de nós mesmos, tudo o que sabemos do mundo, não passa de um sonho.”
Esse é um sonho coletivo, que os toltecas chamam de mitote. Ele é “um sonho amplo, o sonho da sociedade humana. Esse sonho abrangente, ou o sonho do planeta, é o sonho coletivo de milhões de sonhadores. O grande sonho inclui todas as regras da sociedade, suas leis, suas religiões, suas diferentes culturas e modos de ser.
Todas essas informações armazenadas em nossa mente são semelhantes a milhares de vozes falando ao mesmo tempo. Nosso verdadeiro ser não tem nada a ver com o sonho, mas o mitote não nos deixa ver o que realmente somos.”
“Se você refletir sobre como as religiões descrevem o inferno, verá que é igual à sociedade humana, do jeito que a vemos em nosso sonho. O inferno é um lugar de sofrimento, de medo, de guerra e violência, um lugar de julgamento, mas não de justiça, de castigo sem fim.
Ali, humanos lutam contra humanos, numa selva povoada por predadores, humanos que julgam, que são julgados e considerados culpados, cheios de remorso e de venenos emocionais: inveja, raiva, ódio, tristeza, dor.
Criamos todos esses pequenos demônios em nossa mente, porque aprendemos a sonhar que o inferno é nossa própria vida.”
Mas Don Miguel rebate e afirma que “nosso verdadeiro ser é feito de puro amor, nós somos a Vida”. E o verdadeiro amor, assim como a verdadeira felicidade, não se encontram no exterior, porque eles residem e se expressam a partir de nosso interior e se manifestam através de nossos atos.
Noemi C. Carvalho
1 – Don Miguel Ruiz, no livro “O Domínio do Amor”