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Quando Ego sai para brincar no Carnaval

Confetes e serpentinas coloridas para brincar no Carnaval

Freud na terra encantada do Rei Momo.

Justamente neste dias de Momo, reencontrei um excelente texto que une a tradição de brincar no Carnaval e a psique do mestre Freud.

É que aproveitei os dias de Carnaval para dar uma arrumada nos guardados e nos livros. Mas em alguns momentos, parece até que eles ganham vida própria e querem brincar, espalhando-se para longe de seu lugar.

Nesta tarefa, então, fui recolhendo perdidos e achados pela casa até que encontrei um livro que veio bem a calhar. Era “A face oculta – inusitadas e reveladoras histórias da medicina”, de Moacyr Scliar, (Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001). Ele reúne várias colunas por ele escritas no jornal Zero Hora de Porto Alegre.

Neste livro, sob o título “Freud e o Carnaval”, temos uma explicação divertida e esclarecedora sobre como funciona nossa psique sob a ótica de Freud, assim como de que jeito essa estrutura se comportaria no Carnaval.


Os três moradores da nossa casa mental.

“Segundo Freud, que não era construtor (mas que em algum momento deve ter pensado em fazer uma incorporação a preço de custo para escapar das agruras da psicanálise), a nossa mente é como uma casa em que vivem três habitantes. No térreo mora um sujeito simples e meio atocaiado chamado Ego. Ele não é propriamente o dono da casa, mas cabe-lhe pagar a luz, a água, o IPTU, além de varrer o chão, lavar a roupa e cozinhar. Estas tarefas fazendo parte da vida cotidiana, Ego até não se queixaria. O pior é ter de conviver com os outros dois moradores.

No andar superior, decorado em estilo austero, com estátuas de grandes vultos da humanidade e prateleiras cheias de livros sobre leis e moral, vive um irascível senhor chamado Superego. Aposentado – aos pregadores de moral não resta muito a fazer em nosso mundo -, Superego dedica todos os seus esforços a uma única causa: controlar o pobre Ego. Quando Ego se lembra de alguma piada boa e ri, ou quando Ego se atreve a cantar um sambinha, Superego bate no chão com o cetro que carrega sempre exigindo silêncio. Se Ego resolve trazer para casa uma namorada ou mesmo uns amigos, Superego, de sua janela, adverte: não quer festinhas no domicílio.

No porão, sujíssimo, mora o terceiro habitante da casa, um troglodita conhecido como Id. O Id não tem modos, não tem cultura e na verdade mal sabe falar. Em matéria de sexo, porém, tem um apetite invejável. Superego, que detesta estas coisas, exige que Ego mantenha a inconveniente criatura sempre presa. E é o que acontece durante todo o ano.

Chegou a hora de ir brincar no Carnaval.

No Carnaval, porém Id se solta. Arromba a porta do porão, salta para fora e vai para a folia, arrastando consigo o perplexo Ego que, num primeiro momento, resiste, mas depois acaba aderindo. E aí são três dias de samba, bebida, mulheres.

Quando volta para casa, na quarta-feira, a primeira pessoa que Ego vê é Superego, olhando-o fixo da janela no andar superior. Ele não precisa dizer nada, Ego sabe que errou. Humilde, enfia-se em casa, abre a porta do porão para que o saciado Id retorne a seu reduto, e aí começa a penitência que durará exatamente um ano.

Todos sonham seus sonhos.

De vez em quando Ego tem um sonho. Ele sonha que os três fazem parte de um mesmo bloco carnavalesco, e que, juntos, se divertem a valer – o Superego é inclusive o folião mais animado.

Mas isto é, naturalmente, sonho. Parafraseando um provérbio judaico, Carnaval no sonho não é Carnaval é só sonho. Que se junta a todos os sonhos frustrados de nossa época. Graças a eles, muitas casas foram construídas, e muitos edifícios foram incorporados.”

Moacyr Scliar


Para o Sr. Ego, o Carnaval é um sonho para brincar.

O Carnaval – esta festa que vem dos primórdios da humanidade – portanto, vemos que tem como marca despertar o Id escondido em nossos porões. Mas despertar esta rebeldia traz como consequência uma maior repressão pelo Superego, assim dificultando ainda mais a vida do Sr. Ego.

O sonho do Sr. Ego em poder brincar no Carnaval e assim compartilhar da alegria e espontaneidade com seus dois vizinhos certamente expressa o desejo da interação de todas as suas estruturas. Surgiria, assim, um novo ser, o Ser Integral, aquele que pode transformar o mundo em um lugar de Paz e Plenitude.

José Batista de Carvalho

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