
Faltaram frequentadores no Centro de Chico.
Chico Xavier, entre os anos de 1932 a 1934, viu-se na posição de evangelizar os desencarnados, levando aos espíritos a palavra do Evangelho, o esclarecimento espiritual e o consolo para os espíritos em sofrimento.
Pode parecer estranho. Mas esse fato deu-se em função do Centro Espírita Luiz Gonzaga, fundado por Chico Xavier na cidade de Pedro Leopoldo, ter a presença de frequentadores muito reduzida, ao ponto de apenas cinco pessoas comparecerem às sessões.
Os abnegados frequentadores eram o irmão de Chico, José Xavier e sua esposa, Geni Pena Xavier, o amigo José Hermínio Perácio e sua esposa, Carmen Pena Perácio. E, naturalmente, o próprio Chico.
Como costuma acontecer nas casas espíritas, os aflitos, os obsidiados e os doentes compareciam enquanto necessitavam. Mas logo após se reestabelecerem e os sofrimentos cessarem, não apareciam mais.
Aconteceu que, em certo momento, José Perácio e sua esposa, por necessidade familiar, tiveram que se mudar para Belo Horizonte. E, assim, restaram apenas três pessoas na casa de orações e estudos.
Mas, logo em seguida à saída do casal Perácio, a esposa de José Xavier ficou doente, precisando se ausentar. E então restaram apenas os irmãos, José e Chico.
O irmão de Chico era seleiro e tinha uma dívida com um fornecedor de couros que, nessa mesma época, apareceu e exigiu que José saldasse a dívida, prestando serviços numa oficina de arreios durante a noite. Dessa forma, apesar de não querer abandonar o Centro, foi obrigado a deixar de frequentá-lo por um certo tempo.
A orientação de Emmanuel para Chico: evangelizar os desencarnados.
Chico, abatido e sozinho, considerou também se afastar, mas na primeira noite em que apenas ele estava no centro, não conseguindo encontrar uma forma de agir, eis que surge Emmanuel, que lhe fala:
– Chico, você não pode se retirar e fechar as portas, sigamos servindo.
– Mas seguir como? Não tem ninguém…
– E nós? – questionou o seu Mentor. Você e eu carecemos da mesma forma de estudar o Evangelho para diminuir nossas imperfeições. E além disso, um número grande de desencarnados aqui estão necessitando de ensinamentos e consolação. Comece a sessão na hora marcada, estudemos a palavra do Senhor juntos, e apenas encerre a reunião depois de duas horas das tarefas iniciadas.
Por cerca de dois anos, o humilde salão do Centro era aberto pontualmente às oito horas. Chico realizava a abertura dos trabalhos com uma prece, depois abria ao acaso uma página de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Em seguida, lia a lição e as instruções em voz alta.
Nesse período Chico desenvolveu a vidência com maior clareza. Dessa forma, podia observar e ouvir as inúmeras almas desencarnadas e sofredoras que compareciam ao Centro em busca de reestabelecimento, de cura e de paz.
Depois da leitura, Chico, inspirado por Emmanuel, respondia às consultas das pobres almas, instruindo-as com as leis divinas.
Um estranho diálogo assustou a irmã de Chico.
Todas as segundas e sextas-feiras, oito da noite em ponto, as sessões se realizavam com as portas abertas e o salão iluminado. Portanto, quem passasse em frente via o médium gesticulando, orando e falando sozinho.
Seus familiares estranhavam o comportamento de Chico em ficar falando sozinho e perguntavam porque ele estava agindo assim. Paciente, o médium esclarecia:
– Emmanuel me orientou a fazer isso porque tem muitos espíritos que vão ao Centro. Aparecem aflitos, infelizes e agoniados, necessitando de consolo e atenção. E a evangelização é indispensável a nós todos, por isso não podemos interromper esse trabalho.
Em um desses trabalhos, Chico conversava, no meio do salão, com o espírito de uma senhora desencarnada. Não era bem um diálogo, pois parecia que só ele falava. Em seguida a uma frase de Chico havia silêncio, e depois ele falava mais alguma coisa.
– Minha irmã, tenhamos fé em Jesus.
– Com paciência encontraremos a paz, não se desespere.
– Tudo piora se não tivermos calma.
– A senhora verá com o passar do tempo que tudo está certo do jeito que está.
O estranho diálogo continuava desse jeito, até que uma das irmãs de Chico, que estava olhando por uma das janelas, pergunta em voz alta:
– Chico, com quem você está falando?
– Com a Dona Chiquinha de Paula.
– Mas como, Chico? A Dona Chiquinha morreu…
– Você não sabe de nada. Ela está bem viva!
O trabalho de Chico para o bem de todos.
A irmã do médium, que ainda não entendia o espiritismo, agitada, contou aos parentes o que viu. Disse que o Chico estava maluco e que precisava ser socorrido, ir ao médico para ser tratado.
As outras irmãs trataram de acalmá-la dizendo que o irmão estava trabalhando, e tudo estava certo.
Afinal, o irmão ajudava tantas pessoas, só fazia o bem, não tinha cabimento achar que ele era louco.
E desse dia em diante, sempre que Chico estava trabalhando em prol do bem de todos, ninguém o julgava pelas suas atitudes.
Prosseguindo com seu trabalho de missionário da luz, tendo até que evangelizar os desencarnados, sem reclamar e suportando todas as dificuldades, Chico dizia:
– O trabalho de cada dia, com a bênção de Deus, tem sido a melhor segurança.
José Batista de Carvalho
Baseado no livro “Lindos Casos de Chico Xavier”, de Ramiro Gama
Que bonito ! Amém!